Jeremias Macário publica livro sobre a ditadura em Conquista-BA

Portal Vermelho

A Assembleia Legislativa da Bahia aprovou a publicação do livro do jornalista conquistense, Jeremias Macário,Uma Conquista cassada. Cerco e fuzil na cidade do frio (Editora ALBA), por meio do requerimento do deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB).


 
Deputado Fabrício Falcão recebe do jornalista Jeremias Macário cópia do texto que será publicado. Ao lado, o ex deputado e assessor jurídico na ALBA, Vandilson Costa.
A obra narra detalhes de como a ditadura civil-militar chegou até Conquista, em maio de 1964, com prisões arbitrárias, culmina com a cassação do prefeito eleito em 1962 de José Pedral Sampaio.

O livro demandou cinco anos de estudos, pesquisas e entrevistas, com fatos inusitados para o leitor, como a presença de militantes do então ‘minúsculo’ PCdoB, como o atual jurista Ruy Medeiros, Manoel Novais e Sérgio Miranda, que compôs um comitê regional em Vitória da Conquista para tentar organizar a resistência, através da construção uma área de preparação de luta guerrilheira.

O deputado Fabrício disse que a publicação do livro-reportagem, “fará com que a Assembleia Legislativa dê um significativo passo para o resgate da memória de Vitória da Conquista, de maneira a jogar luz sobre fatos ainda obscuros e ajudar a recontar a história da ditadura”.



Fabrício ainda afirmou que o texto inédito de Jeremias Macário, um dos mais prestigiados jornalistas baianos, “revela os bastidores da resistência, permitindo a reflexão crítica sobre um tempo que precisa ser lembrado e abordado sob os auspícios democráticos”.

Uma Conquista cassada. Cerco e fuzil na cidade do frio
A neblina cobria a Serra do Periperi naquela manhã do dia seis de maio de 1964. Aos poucos a cerração invadia a cidade de cerca de 50 mil habitantes. O vento frio anunciava um inverno de baixas temperaturas. Os moradores despertavam ainda sonolentos de seus cobertores para os afazeres de rotina.

Era para ser um dia como outro qualquer, mas não foi assim que aconteceu. Depois de uma cansativa viagem do dia anterior, 100 homens fardados, sob o comando do capitão Antônio Bendochi Alves Filho, estavam de prontidão para a missão repressiva.

Armados de fuzis e metralhadoras, o centro e pontos estratégicos da cidade foram cercados pelos coturnos dos militares. A ordem era encurralar e prender os “subversivos comunistas”.

Prisões e “suicídio”

Fatos inéditos e arbitrários aconteceram naqueles dias de 1964 no início da ditadura civil-militar. A cidade foi palco de prisões, fugas, queima de documentos e até mortes. No atormentado maio ocorreu o primeiro “suicídio” de um preso político no Brasil nas dependências de uma cadeia militar.
Anos depois a revelação dessas memórias que influenciaram a vida social e política daquela população se transforma em livro que deverá ser lançado em breve. Poucos têm noção dos dias de truculência e aflição vividos no “Sertão da Ressaca”.

“Uma Conquista Cassada – Cerco e Fuzil na Cidade do Frio” foi o título encontrado para narrar esta história. Foi também uma caçada implacável dos militares contra cidadãos de bem.
O termo “Cassada” se encaixou com mais sentido para retratar a ditadura militar-burguesa que, com a força dos fuzis, emparedou os vereadores, no desesperado seis de maio, obrigando-os a se reunirem na 30ª Sessão para votar o afastamento do prefeito eleito pelo povo, José Fernandes Pedral Sampaio.

Desolado em sua prisão na Companhia da Polícia Militar da Bahia (9º Batalhão) com outros companheiros, o prefeito foi destituído pelo novo regime, sem direito à defesa. Eleito em 1962, Pedral e o povo foram vítimas de um ato de flagrante violação à Constituição.

A população viveu um clima de terror e pânico. Muita gente procurou fugir do cerco. Um perseguido viajou até Salvador para se entregar e teve irmão “dedurando” irmão.

A reconstrução desse capítulo da história de Conquista demandou cinco anos de estudos, pesquisas e entrevistas, com fatos inusitados para o leitor, como o enfrentamento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica nos anos de chumbo da ditadura.

A cidade abrigou um refugiado marxista condenado à pena de morte que se escondeu no anexo da clausura de um convento de monjas onde fez um quadro do Menino Jesus no Templo. O foragido Theodomiro Romeiro dos Santos conta como tudo aconteceu.

Uma conquistense guerreou no Araguaia (sul do Pará), deixando a família para trás e se internando na perigosa selva. Outro foi barbaramente torturado, e um jovem tentou ir à guerrilha, mas depois resolveu ser padre. Teve empresário financiador do regime de exceção.

Operação de Guerra

O livro foca o maio de 1964, a partir das prisões arbitrárias de cerca de 100 pessoas consideradas como subversivas por terem apoiado o governo deposto de João Goulart e suas reformas de base. Também quem pertencia ao grupo do prefeito foi preso e perseguido.

Depois da chegada dos soldados em cinco de maio, a operação de guerra prosseguiu no dia seguinte com as prisões. A vinda do exército foi reforçada por correntes contrárias ao grupo de Pedral. Foi uma desforra política.

A oposição instigava o jornal “O Sertanejo” (apelidado de “Sertanojo”), de que Conquista carecia de uma ação militar para acabar de vez com os “atos subversivos” e “atentatórios à pátria”.

A Praça Barão do Rio Branco, ou da República, ainda com alguns casarões antigos, tendo ao meio a saudosa galeria “Lindóia”, foi o cenário das repressões.

Na Praça José de Sá Nunes, em frente ao Clube Social, o prefeito recebeu a primeira ordem de prisão, quando se dirigia para seu rotineiro trabalho na prefeitura. O clima era de uma Conquista com viés socialista a partir da derrubada das forças oligarcas em 1962.

Na ocasião, o fato de maior impacto foi o polêmico “suicídio” do vereador Péricles Gusmão Regis, encontrado morto numa das celas da Companhia da Polícia Militar da Bahia (9º Batalhão da Polícia Militar), no dia 12 de maio de 1964.

Seis blocos

O livro-documentário, no estilo reportagem jornalística, está dividido em seis blocos. O primeiro aborda as revoluções socialistas no mundo (russa, chinesa e cubana) que influenciaram os movimentos sociais na América Latina nos anos 50 e 60.

O segundo trata dos levantes, rebeliões, conspirações e golpes na história do Brasil colonial, imperial e republicano, incluindo os regimes ditatoriais da Era Vargas e de 1964.

O terceiro conta a história de Conquista, sua evolução sócio-cultural, econômico e político até a chegada da ditadura civil-militar.

Para contextualização do estudo, o quarto situa a questão dos grupos e das organizações revolucionárias de esquerda na luta armada contra o regime de repressão.

O quinto trata de pontos polêmicos, como a abertura lenta e gradual; a anistia geral e irrestrita de 1979; a destruição dos documentos; abertura dos Arquivos, a Comissão da Verdade; e a punição dos torturadores.

O último é um tributo à “década de 60”, por ter sido a mais agitada de todas. Os sonhos conquistados abriram caminhos para as outras décadas passarem. A de 60 teve seu espírito orgástico e lisérgico que alucinaram gerações.

Com informações da Ascom do deputado baiano Fabricio Falcão (PCdoB) e agências

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