40 anos sem Anísio Teixeira


João Augusto de Lima Rocha Professor da UFBA e membro do Conselho Curador da Fundação Anísio Teixeira

Em 11 de março de 1971, após pronunciar uma conferência na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, Anísio Teixeira saiu, a pé, para o apartamento de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, na Praia de Botafogo. Candidato lançado à Academia de Letras, Anísio anunciara que iria almoçar com Aurélio, para fazer-lhe o pedido protocolar do voto para a Academia, porém, não chegou a estar com o dicionarista.

Desapareceria, assim, o maior educador brasileiro, cujo corpo só foi encontrado a 14 de março de 1971, dentro do poço do elevador do edifício de Aurélio. Sobre o assunto, restou a imprecisa versão oficial de que houve um acidente: Anísio teria caído no poço do elevador, mesmo sem ter chegado ao apartamento de Aurélio. De que andar teria caído? Segundo a descrição detalhada do episódio, feita pelo diário carioca Última Hora, em 15 de março de 1971, “o professor Anísio Teixeira foi encontrado sem vida no poço de um dos elevadores sociais do Edifício Duque de Caxias, na Praia de Botafogo, 48.

Crime ou acidente? Até agora nenhuma autoridade tem opinião formada. Nem os peritos – de criminalística e engenharia – emitem opinião. Vão estudar em minúcias o levantamento feito no local para comparar com o laudo cadavérico. Só então o Instituto de Criminalística irá se pronunciar.” Neste momento, quando se faz necessária uma Comissão da Verdade para apurar fatos com suspeita de envolvimento do governo militar em sua consecução, o desaparecimento de Anísio Teixeira merece ser reinvestigado. Vale lembrar que, um mês antes, em fevereiro de 1971, desaparecera Rubens Paiva, cujo corpo, até hoje, não foi encontrado. Era o período mais obscuro da repressão política, a cargo do regime militar, e Anísio Teixeira fora um perseguido político, já que aposentado compulsoriamente, em abril de 1964.

As suspeitas de crime são grandes, pelo que se observa na continuidade da citada matéria de Última Hora: “O poço dos elevadores é duplo. De um lado o de serviço, com o elevador descendo até o nível do local em que morreu Anísio Teixeira. O social para dois ou três metros acima sobre molas fixadas em duas pilastras horizontais de cimento armado. Abaixo dessas pilastras existe um platô tambémde cimento, meio metro acima do fundo do poço. Ali existe do lado direito uma bomba de água.

Do outro uma roldana por onde corre um dos cabos do elevador. A distância entre as pilastras e a parede é de no máximo dez centímetros. A bomba e a roldana praticamente fecham o platô isolando-o do vão do elevador de serviço. A polícia em princípio conclui: 1. Se o professor Anísio Teixeira tivesse caído no espaço do elevador de serviço jamais iria cair no platô; 2. Se ele despencasse pelo vão do elevador social, fatalmente bateria nas pilastras e o seu corpo dificilmente passaria entre as aberturas das pilastras e da parede.

O professor Anísio Teixeira estava exatamente sobre o platô, de cócoras, com a cabeça sobre os joelhos e as mãos segurando as pernas. Entre os pés uma poça de sangue. Na parede, bem no canto, abaixo das duas pilastras, alguns pingos de sangue.

Mais nada. As pilastras não mostravam ranhuras no cimento, na pintura, nem marcas de sangue, coisa que aconteceria se o corpo tivesse batido ali. Quando a portinhola que dá acesso ao platô foi aberta e encontrado o cadáver, outra porta, a da casa de força, também estava escancarada. A perícia encontrou aí muitos respingos de sangue.

Em seu interior tudo era normal.” E adiante, diz mais Última Hora: “Outra conclusão da polícia: acidente é praticamente impossível, a posição do corpo fere tudo o que já foi visto até hoje na base do acidente. Alguém matou e colocou ali o cadáver do professor Anísio Teixeira.

Outros dois detalhes reforçam a hipótese de crime e foram anotados com cuidado pelo comissário Limoeiro: o chão em volta da portinhola que dá acesso ao poço do elevador foi lavado; os óculos do professor foram encontrados em uma das pilastras.

Tudo leva a crer que foram ali colocados, pois uma das hastes estava aberta, as lentes viradas para cima. Na outra haste um punhado de cabelos castanhos”.

A morte do educador Anísio Teixeira [um mês após o desaparecimento de Rubens Paiva] merece ser reinvestigada.





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