CAPPIO: LULA, CNBB E O VATICANO PRESSIONAM PELO FIM DO JEJUM



Nesta segunda-feira (17) o presidente Luis Inácio Lula da Silva autorizou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, a telefonar para Dom Luiz Flavio Cappio sugerindo um acordo para o fim do jejum. Lula propôs ações para a revitalização do rio e a construção de um milhão de cisternas no semi-árido. Já o Vaticano enviou uma carta a Cappio na última quinta (13) pedindo que o bispo encerrasse o protesto. O pedido do Vaticano levou a CNBB a rever o apoio à greve de fome declarado na última quarta (12). No entanto, Cappio reafirmou nesta segunda que seguirá com o jejum - que já dura 21 dias - até que as obras sejam canceladas definitivamente.


No momento, as obras do rio São Francisco estão paralisadas em função de uma liminar expedida pelo Tribunal Regional Federal (TRF) do Distrito Federal, no dia 10. Assessores do governo avaliam que, além da paralisação das obras, a folga até o dia 7 de janeiro do Exército, responsável pela execução dos trabalhos, cria um clima de ''distensão'' e ''negociação''.

''Isso não é uma política do governo, mas uma decisão judicial - contra a qual, inclusive, o governo já entrou com pedido de suspensão'', disse Dom Cappio, referindo-se à decisão judicial ao comentar a proposta de acordo feita pelo governo.

Contudo, o presidente deixou claro que o fim das obras não está em jogo. ''Queremos manter o diálogo e a negociação, mas parar as obras, nem pensar'', ressaltou o presidente.

O governo brasileiro também apresentou nesta segunda ao Vaticano informações e estudos sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco para provar que não existe motivo para que a Igreja seja contrária ao projeto de infra-estrutura no Brasil nem para que Dom Cappio continue sua greve de fome.

Em Roma, o Itamaraty traduziu para o italiano os estudos sobre o impacto ambiental da transposição do São Francisco, apresentou dados sobre os gastos com as obras e o que seria feito em termos sociais na região. O governo fez questão de apontar os benefícios que o projeto traria para o combate à pobreza e o bem-estar da população. O cardeal italiano Giovanni Batista Re, prefeito da congregação do Vaticano e responsável pelos bispos, recebeu a documentação. Fontes no Vaticano confirmaram que a Santa Sé julgou importante à iniciativa do governo de esclarecer o que pretende fazer na região.

Mas a cúpula do clero admitiu que está mais interessada em barrar a falta de obediência do religioso que em se envolver no debate sobre o Rio São Francisco. Vera Machado, embaixadora do Brasil no Vaticano, foi obrigada a interromper suas férias e retornar imediatamente a Roma para lidar com o caso. Um de seus recados foi de que o governo não irá interromper as obras. No Vaticano, a crise chegou a seu ponto máximo com o envolvimento da alta cúpula.

O Vaticano e a CNBB

“Em nome da Santa Sé peço firmemente que vossa excelência não prossiga com esse gesto extremo e retorne à sede diocesana de Barra”, diz a carta assinada pelo cardeal Giovanni Batista Re, prefeito da congregação do Vaticano, enviada a Dom Luiz Flavio Cappio na última quinta-feira (13). Além do Vaticano, também a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que na última quarta (12) declarou apoio ao protesto, mudou de opinião e agora pressiona pelo fim da greve de fome contra as obras de transposição do Rio São Francisco.

“Não posso concordar com sua decisão de permanecer no jejum iniciado no dia 27 de novembro passado. Meu caro Dom Luiz, você não é dono de sua vida. Sua vida, precioso dom de Deus, pertence a Ele, à Igreja, ao povo da Diocese de Barra, à Ordem Franciscana e a todos aqueles que são atingidos pela graça de sua presença”, diz a carta da última quinta da CNBB, assinada por seu presidente, Dom Geraldo Lyrio Rocha.

A nova carta da CNBB revê o posicionamento da entidade divulgado na última quarta-feira (12), em que após se reunirem com o presidente Luís Inácio Lula da Silva, a CNBB convocou as comunidades cristãs à ''se unirem em jejum e oração'' pela vida do bispo.

Queixas

Além de discordar da greve, a nova carta argumenta que o protesto de Dom Cappio ocorreu sem que a CNBB fosse ouvida: “Perdoe-me dizer-lhe com sinceridade, como lhe disse da outra vez, julgo que isso não poderia ser feito sem que você tivesse ouvido a Igreja”. E finaliza: “Como seu irmão no episcopado e na qualidade de presidente da CNBB, sinto-me no dever de lhe pedir que reveja sua decisão e suspenda o jejum”.

A carta surpreendeu o religioso e faz coro ao texto enviado pelo Vaticano no mesmo dia. Apesar de o bispo da Barra ter dito que o Vaticano não o “mandou” parar o jejum, o texto do Vaticano é claro: “A continuação do jejum, já muito prolongado e radical, colocando em risco a própria sobrevivência, não é um meio aceitável e contradiz os princípios cristãos. Sem dúvida, o gesto de vossa excelência já contribuiu para sensibilizar a opinião pública”, completa o texto assinado pelo prefeito da congregação do Vaticano.

Em 2005, o cardeal italiano já havia condenado o primeiro jejum de Dom Cappio contra o projeto de transposição.

A Justiça

Assessores diretos do bispo de Barra afirmaram ao Correio da Bahia que ele pode encerrar o jejum nesta quarta-feira (19) em função da possibilidade de um dos 14 processos contra a transposição, que ainda tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), ser julgado nesse dia. Caso haja decisão contrária ao projeto, o religioso deve aproveitar e encerrar o protesto.

Ingerindo apenas água e soro caseiro para conter a desidratação e a anemia, ele já perdeu oito quilos. Dom Cappio, que jejua na Igreja de São Francisco, em Sobradinho, se diz surpreso com a própria resistência física e garante que já não sente tanta fome quanto no início da mobilização. Ele está tendo acompanhamento médico permanente desde o 20º dia do jejum.

Apesar das pressões para que encerre o protesto, o religioso se diz “espiritualmente forte” e disposto a manter a greve até o arquivamento do projeto com a retirada do Exército das frentes de trabalho em Floresta e Cabrobó, municípios pernambucanos.

Solidariedade

Serão iniciados nesta segunda-feira (17) vários atos em solidariedade a Dom Luiz Flávio Cappio. É o Dia Nacional de Jejum Solidário que reunirá católicos e adeptos à luta do bispo em Brasília, Salvador, Belém, Manaus, Fortaleza, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Teresina e Vitória, além de cidades do interior do país. Também na Alemanha deverão acontecer atividades de solidariedade a Dom Cappio.

Na capital baiana, um grupo de religiosos e fiéis estão reunidos desde sábado na Praça da Piedade, no Centro da cidade, em oração. Na região sul da Bahia, está previsto um “ato de solidariedade e reflexão” à vida do bispo e do São Francisco. O ato será na Paróquia Santa Rita de Cássia, bairro São Caetano, seguido de caminhada até a Catedral de São José, onde será celebrada uma missa.

No Rio de Janeiro, está previsto um jejum de 30 pessoas pela vida do bispo das 9h às 21h. Um ato na Candelária vai declarar apoio à causa. O texto, intitulado “Carta do Rio: Pela Vida de Frei Cappio e Contra a Transposição”, será distribuído durante a mobilização.

Já na Alemanha, o manifesto é chamado de “Friedensgebet in Hückelhoven” (Prece da Paz em Hueckelhoven) e está previsto para ser distribuído a partir das 19h desta segunda.

Intransigência

Católico praticante, com sua carreira política construída a partir da igreja e de suas pastorais, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, afirmou nesta segunda que o bispo tem sido ''intransigente'' e que a linha de sua greve de fome é um extremo ''inaceitável''. ''É inaceitável ir ao extremo'', disse o ministro que antes havia participado de uma missa ao lado de amigos da CNBB.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), rebateu as críticas do ministro. “Ele [Patrus] sabe que o jejum tem um conteúdo místico, de sublimação e que há causas que valem a doação do corpo para que sejam vitoriosas. Na tradição cristã há centenas de mártires que escolheram voluntariamente o sacrifício”, disse o deputado.

Ele também informou que na próxima quarta (19) parlamentares solidários a Dom Cappio doarão sangue no Hemocentro, em Brasília, para denunciar “a anemia que vai tomar o rio São Francisco, caso a obra seja iniciada”.

Da redação, com agências

Fonte: Portal Vermelho

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