PORTAL VERMELHO - MEIO AMBIENTE: Clima vira política de desenvolvimento e redefine economia brasileira
Parque energia eólica Rio Grande do Norte eólicas torres imagem aérea cima RN. Foto: Sandro Menezes/governo do RN
Financiamento climático, indústria verde e inovação colocam a agenda ambiental no centro da estratégia de crescimento e geração de empregos
por Barbara Luz
A realização da COP30 em Belém não reposicionou apenas a diplomacia ambiental brasileira, mas acelerou uma mudança mais profunda na forma como o país passou a tratar a agenda climática, como eixo estratégico de desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico. Em 2025, políticas de transição ecológica deixaram de ocupar um espaço periférico e passaram a dialogar diretamente com inovação, geração de empregos e financiamento produtivo.
Para Perpétua Almeida, diretora da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), esse deslocamento representa uma virada de chave. “Ao sediar a COP30, o Brasil reafirmou algo central, a agenda climática não é obstáculo ao desenvolvimento — ela é um vetor de desenvolvimento, de inovação e de transformação produtiva”, diz.
Na avaliação de Perpétua, o ano marcou a passagem do discurso à prática. “Economia circular, rastreabilidade de materiais, bioindústria e eficiência energética deixaram de ser conceitos e passaram a orientar políticas e projetos. A agenda ambiental passa a ser tratada como política industrial, e não como algo paralelo a ela”, afirma.
Esse novo enquadramento, segundo ela, indica que o país atingiu um patamar mais elevado de maturidade institucional. “O Brasil deixou de ser apenas um país que assume compromissos e passou a ser um país que apresenta soluções”, resume, citando iniciativas como o Recircula Brasil, que transforma passivos ambientais em oportunidades industriais.
Financiamento climático e instrumentos econômicos
O fortalecimento institucional foi acompanhado por um salto no financiamento climático. Em 2025, o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima) atingiu patamar histórico, com orçamento ampliado para R$ 11,2 bilhões. Em 2024, o BNDES aprovou R$ 10,2 bilhões em novos financiamentos — valor 3,4 vezes superior ao total aprovado na década anterior.
Os recursos foram direcionados principalmente para cidades sustentáveis, indústria verde, energias renováveis, florestas nativas e recursos hídricos, priorizando projetos com cobenefícios sociais. Para 2026, a projeção é ampliar essa capacidade, buscando alcançar R$ 25 bilhões com apoio de parcerias internacionais e foco em infraestrutura resiliente para municípios vulneráveis.
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Nesse campo, Perpétua alerta que o desafio está na escala. “Não basta ter bons projetos. É preciso ampliar e sofisticar os instrumentos de financiamento, capazes de reduzir riscos, alavancar investimentos e sustentar projetos de longo prazo”.
Ela destaca ainda que a transição ecológica depende da articulação entre financiamento, inovação e política industrial. “O grande desafio não está mais na formulação, mas na execução. Precisamos fortalecer a governança da transição, ampliar o acesso das empresas — especialmente micro, pequenas e médias — ao financiamento e investir fortemente na qualificação da força de trabalho”, pondera.
Do clima aos mares e aos mercados de carbono
A agenda climática também avançou em novas frentes. Em outubro de 2025, o presidente Lula sancionou o decreto que institui a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), com foco na redução da poluição marinha até 2030 e na proteção de comunidades costeiras.
A iniciativa reforça o vínculo entre proteção ambiental, justiça social e preservação dos meios de vida de comunidades costeiras, especialmente pescadores e pescadoras artesanais, diretamente afetados pela degradação marinha. Para 2026, está prevista a elaboração de um plano de ação, articulado no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM).
Segundo Inamara Melo, diretora de Políticas para Adaptação e Resiliência à Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o Brasil também avançou nos instrumentos de mercado. “O Brasil reafirmou o compromisso de zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 e avançou na consolidação do mercado regulado de carbono”, explica. A aprovação do PL do Mercado de Carbono criou as bases para integrar o país às políticas climáticas globais e ampliar oportunidades para a economia verde.
A principal estrutura desse sistema é o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), instituído pela Lei nº 15.042/2024, cuja governança envolve múltiplos órgãos do governo federal, com destaque para os ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que passou a contar com uma área específica voltada a instrumentos de mercado e REDD+. O conjunto dessas medidas reforça a estratégia de combinar regulação ambiental, financiamento e desenvolvimento produtivo como pilares da transição ecológica brasileira.
“Nenhum país poderá enfrentar a crise climática sozinho. Os incêndios que consomem nossas florestas não respeitam fronteiras. Nem o plástico que polui nossos oceanos e elimina a vida marinha” – presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Encerrada com o documento “Mutirão Global”, a COP30 consolidou decisões sobre mitigação, adaptação e financiamento, ainda que tenha deixado limites, como a ausência de uma decisão vinculante para a eliminação dos combustíveis fósseis.

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