Lançamento do livro “Reisado em Cordel: História do Povo” em Guanambi

Dia 24 de Setembro (Quarta-feira), às 9:30 horas, no Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho em Guanambi, acontece o lançamento do livro “Reisado em Cordel: História do Povo” de autoria de Aloísio José dos Santos. O lançamento faz parte da programação da 5ª Feira de Conhecimento Educação Verde: Ciências, Política e Cultura 2025.

Esta obra celebra a raiz, a fé e a resistência do sertão. A cultura do povo agora ganha voz nas páginas do cordel.


"Reisado em Cordel: tradição que se lê, memória que se guarda."


Segundo Aloísio dos Santos, "Este projeto foi contemplado nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura do Estado via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura - Governo Federal."



“Reisado em Cordel: A História do Povo”.

O sertão fala por si. Suas veredas guardam histórias vividas e contadas à beira do fogo, nas noites de janeiro iluminadas por estrelas e ao som das gaitas, zabumbas, pandeiros tocados pelos reiseiros. É nesse chão de poeira e fé, onde o tempo tem outro ritmo e a vida pulsa no compasso da tradição, que o Reisado floresce como expressão de identidade e resistência.

Nas comunidades do Território de Identidade Sertão Produtivo no Sudoeste baiano, especialmente nos arredores de Guanambi, no distrito de Morrinhos, o Reisado não é apenas uma festa. É encontro, é promessa, é oração cantada. É também brincadeira, desafio e riso solto. É a união do sagrado e do profano, da ladainha e do aboio, da bandeira com a imagem do Menino Deus e das rodas com danças inventadas no calor da emoção. Este livro que agora chega às suas mãos nasce dessa riqueza popular e da escuta atenta aos guardiões da memória: anciãos e anciãs com olhos cheios de lembranças e corações moldados por décadas de vivência. Durante anos, suas histórias foram ouvidas com respeito e paciência, anotadas em cadernos e guardadas na memória afetiva, até se transformarem em versos rimados, medidos e costurados na linguagem do povo: o cordel.

O cordel, como forma de literatura oral e escrita, tem papel fundamental na preservação das culturas populares. Ele transforma fala em poesia, memória em narrativa, e vida em arte. Ao trazer essas histórias para o papel, através da cadência dos versos e da força das imagens, o cordel dá voz ao que o tempo insiste em silenciar, e eterniza o que o povo se recusa a esquecer. Reisado em Cordel: Histórias do Povo é uma coletânea composta por cinco cordéis que refletem não só os rituais religiosos, mas também as invenções populares que acompanham o cortejo dos ternos.

Em “Andanças dos Ternos de Reis da Região de Guanambi”, percorremos os caminhos poeirentos por onde passam os grupos levando fé, alegria e esperança de porta em porta. São cantorias que pedem bênçãos, reverenciam os presépios e mantêm vivos os costumes herdados dos avós. No segundo cordel, “Encontro de Bandeiras”, somos levados a uma noite simbólica e extraordinária, quando dois ternos se cruzam em plena encruzilhada, sob trovoadas e lua encoberta. O que poderia ser apenas coincidência se torna duelo: versos rimados, respostas rápidas, respeito mútuo e emoção à flor da pele. A cena é contada por um conhecedor da história, como se fosse um segredo antigo sendo revelado aos poucos. Importante destacar que os personagens, espaços e títulos presentes nesse cordel são fictícios, construídos a partir de relatos de anciãos experientes da região, com o intuito de preservar o espírito da tradição e homenagear a cultura local.

No terceiro cordel, “Prisão da Bandeira do Terno de Reis de Curral de Varas” mostra o lado mais irreverente da tradição: a brincadeira onde a bandeira é “presa” pelos donos da casa e só é libertada mediante cantoria bem-feita. É desafio, é teatro popular, é duelo de improviso onde a poesia precisa vencer. E vence. Assim como no cordel anterior, os personagens, lugares e o enredo desta narrativa são criações ficcionais inspiradas em histórias contadas por antigos mestres do sertão, misturando realidade e imaginação na medida exata da cultura popular.

No quarto cordel “Reiseiro Mulher”, ganha voz uma figura rara, porém marcante: a mulher que, rompendo barreiras do patriarcado, empunha a bandeira, canta, dança e lidera o terno com coragem e altivez. Com bigode ou sem ele, de calça ou vestido, com voz grossa ou doce, sua presença desafia preconceitos e reescreve o lugar da mulher nas tradições sertanejas. É um canto de resistência, riso e força, em que a personagem inspira respeito e admiração por sua bravura e autenticidade.

Por fim, o cordel, “Retrato Sertanejo de um Cordelista”, é um autorretrato poético do próprio escritor dessas páginas: um sertanejo de origem campesina, moldado pela terra, pela fé e pelas palavras. Neste texto, o cordel se torna espelho de uma vida dedicada a ouvir, contar e registrar os causos do povo. Com lirismo, humildade e paixão, o autor traça sua trajetória desde a infância na roça até o momento presente, como guardião da memória e semeador de histórias.


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