TV Latinha participa das atividades de exumação do corpo do desaparecido político João Leonardo em Palmas de Monte Alto (BA)
Nos dias 28 a 31 de agosto, em Palmas de Monte Alto
na Bahia, aconteceu as diligências para a exumação de restos mortais que podem
pertencer ao desaparecido político João Leonardo da Silva Rocha.
No dia 28, no auditório do
Colégio Municipal Eliza Teixeira de Moura, aconteceu a audiência pública com
uma mesa composta por Dr. Samuel Teixeira – médico perito cedido pela
Secretaria Nacional de Segurança Pública (Ministério da Justiça) para colaborar
com os trabalhos da Comissão; Dr. Carlos Vitor – Procurador do MPF em Guanambi;
Dr. Eugênia Gonzaga – Procuradora do MPF e também presidenta da Comissão
Especial de Mortos e Desaparecidos; Manoel Rubens – prefeito de Palmas de Monte
Alto; Lúcia Helena Ribeiro –Secretária Municipal de Assistência Social;
Wanderson Pimenta – representando o Centro Cultural João Leonardo; Mário Rocha
– irmão de João Leonardo e Celso Horta - jornalista e colaborador da comissão
especial.
As diligências foram coordenadas pela Procuradora
Regional da República Eugênia Augusta Gonzaga e o Procurador da República em
Guanambi/BA Carlos Vitor de Oliveira Pires, que é o responsável pelo inquérito que
apura as circunstâncias da morte do militante político.
A Procuradora Eugênia Gonzaga é a presidente da Comissão Especial
sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). A Secretaria Especial de
Direitos Humanos é o órgão responsável pela diligência.
As diligências contaram com as presenças do irmão de João Leonardo, Mário Rocha Filho, do jornalista Celso Horta e de Diva Santana do Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia.
O Blog do Latinha e a TV Latinha acompanhou os
quatros dias de trabalho da exumação dos restos mortais de João Leonardo, que
contou também com as presenças de Wanderson Pimenta – Centro Cultural João
Leonardo, do ex-vereador Dr. Miguel – Colaborador de todo o processo de
informações e dados sobre a localização do corpo de João Leonardo, Toninho
Lélis e Roberto Fernandes – Guanambi News.
Hoje (31), a equipe de peritos da Comissão Especial
sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) conseguiu achar os restos
mortais que podem pertencer a João Leonardo da Silva Rocha executado em 1975 e
enterrado com nome falso no cemitério de Palmas de Monte Alto.
Finalizando o processo de exumação do corpo,
uma comissão coordenada pelo irmão de João Leonardo - Mário Rocha visitaram a
fazenda onde ocorreu o assassinato do militante político na zona rural de
Palmas de Monte Alto.
História de João Leonardo da Silva Rocha
“O reconhecimento de João Leonardo como uma das
vítimas da ditadura brasileira (1964/1985) se deu com base na Lei n.
9.140/1995. João Leonardo foi um dos militantes contrários à ditadura
militar que mais se destacou no período. Em setembro de 1969, já se encontrava
preso em razão de sua militância política e, com o sequestro do embaixador dos
Estados Unidos no Brasil, ele foi um dos 15 presos políticos libertados e
enviados para o México, oficialmente banidos do país. Foi registrado nesse
período o último contato de Mario Rocha Filho com seu irmão João Leonardo no
hotel Del Bosque.
O então militante da MOLIPO retornou ao Brasil em
1971, sendo que o governo militar de então procedia a uma especial caçada aos
militantes que, mesmo banidos, teimavam em regressar ao território
nacional. João Leonardo tentou permanecer no país de maneira clandestina,
estabelecendo-se numa pequena localidade rural de Pernambuco, São Vicente,
distrito de Itapetim, sertão do Pajeú, quase na divisa com a Paraíba. Raspou
totalmente a cabeça e era conhecido como Zé Careca. Mesmo assim, passou a
desconfiar que poderia ser identificado naquele local. Fugiu então para o
interior da Bahia, onde terminou sendo localizado e morto em 4 de novembro de
1975, em um choque com agentes da Polícia Militar, no município de Palmas do
Monte Alto. Foi enterrado no cemitério do mesmo município sob o olhar da
comunidade que, atônita, foi informada que ali havia sido morto um perigoso
pistoleiro.
Com o passar dos anos, a população soube que ali
foi morto um militante político da resistência brasileira à ditadura do período
de 1964 a 1985. Dessa forma, aqueles que presenciaram o seu enterro passaram a
dar informações sobre a localização de sua sepultura. Inclusive, uma das
pessoas que sepultou um familiar no mesmo local relatou ter visto parte de um
corpo com botas que lembravam aquelas que João Leonardo usava quando foi
assassinado.
O seu caso também foi objeto de investigação pela
Comissão Nacional da Verdade, instituída pela Lei no 12.528/2011, a qual, em
seu relatório final (página 1802 e seguintes) recomendou “a continuidade das
investigações sobre as circunstâncias do caso, para a localização de seus
restos mortais”. Ela produziu um “Mapa fotográfico com a indicação da possível
área de sepultamento de João Leonardo da Silva Rocha” (Arquivo CNV,
00092.003368/2014-51), o qual, após ser complementado por equipe enviada pela
CEMDP neste ano de 2017 ao local, será utilizado na diligência de exumação.
A vida de João Leonardo já foi registrada em documentário feito pela TV Record, que reconstituiu o cerco e sua execução, bem com uma fala dele quando saiu da prisão, em 1969. Intelectuais interessados, como Ana Corbusier e Celso Horta, possuem vasto material sobre a pessoa e o militante João Leonardo. Celso está para lançar um livro sobre João Leonardo, o qual contará inclusive com um texto feito pelo próprio militante político, que era o esboço de uma Constituição da Humanidade.”
(Com
informações: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos do
Ministério dos Direitos Humanos)