A TARDE - A ARTE DE PEDRO SANTOS EM GUANAMBI


segunda-feira, 2 de junho de 2008

MÃOS DE LUTHIER

JUSCELINO SOUZA, A TARDE
celinosouza@grupoatarde.com.br
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Numa das centenas de ruas da cidade de Guanambi, 800 km a sudoeste Salvador, o som límpido de uma viola caipira bem ponteada por Pedro Santos mostra que o teto de uma casa simples abriga um artista nato.

Mais do que isso: um artista e artesão que fez do seu ofício de marceneiro fonte de lazer e de renda, produzindo instrumentos delicados, disputados por mãos de músicos do Brasil e de outras partes do mundo.

Do seu catálogo, constam violões de seis e sete cordas, cavaquinhos, bandolins e violas de arame, além de violões de aço de seis e doze cordas. Entre os que já tocam um instrumento feito por ele estão Edson 7 Cordas, Ronaldo do Bandolim, Armandinho Macedo, Aroldo Macedo e Dudu Maia.

Nascido na Fazenda Curral de Varas, no distrito de Morrinhos, no município de Guanambi, em 8 de junho de 1966, Pedro Santos jamais pensou que seria conhecido por um nome estranho aos seus ouvidos: luthier (fabricante de instrumentos de corda). Agora, ele já sabe que, por generalização, que se trata de uma profissão especializada na fabricação, manutenção e restauração de instrumentos de corda.

O COMEÇO – Até chegar onde está, Pedro Santos enfrentou muita dificuldade. Chegou a abandonar o ateliê por uns anos, retornando, depois, sob o estímulo de amigos. Tudo começou em fins de 1989, quando ele estava com 23 anos, mas as coisas vieram às avessas, como ele mesmo costuma dizer.

"Primeiro, eu aprendi a tocar viola, na adolescência, e depois eu aprendi a arte de carpinteiro", detalha. A junção do útil ao agradável motivou o gosto pela arte de produzir instrumentos musicais.A primeira viola foi construída em 1990. "Não saiu bem perfeita, mas por ser a primeira foi um grande feito". A profissão, no entanto, não estava gerando recursos suficientes para sustento da família, tanto que ele voltou à marcenaria, trabalhou como pedreiro, fez dezenas de outras coisas até que, em 1999, animado por amigos, retomou a luteria.

Mal sabia que a primeira obra iria testemunhar o nascimento de tantas outras, hoje distantes do solo brasileiro, exibidas em casas de espetáculo dos Estados Unidos e Europa. Recentemente, um músico de Los Angeles (Estados Unidos) gostou de um bandolim que estava com o bando-linista Dudu Maia. "Eu recebo e-mails de várias partes do mundo e, às vezes, nem sei o que está escrito, mas peço ajuda pra alguém traduzir".

Um feito para quem quase largou a arte de lado. A desinformação sobre a técnica de luteria e carência de material foram as principais dificuldades. Ainda assim foram produzidos 13 instrumentos de corda na sua primeira investida na profissão.

"Cheguei a desistir logo no começo, nos primeiros anos, mesmo com muita vontade de continuar para mostrar aos amigos e ter um instrumento próprio".

LUTERIA – A paixão falou mais alto e um dia, durante uma gravação em estúdio, exibindo seu dom de violeiro, Pedro Santos encontrou um manual que iria transformar a sua vida e torná-lo um luthier.

"Comecei a ler, olhar, e folheei até que descobri técnicas de fabrico de instrumentos", lembra ele, acrescentando que a sua animação deu lugar à prática, trocando, definitivamente, a marcenaria pela luteria. Foi um recomeço marcante, mais técnico, utilizando madeira importada, não mais restos de material de serraria. Passou a ser profissional, a viver da luteria.

O custo médio de um instrumento é de R$ 3 mil, bem acima dos R$ 300 das peças produzidas pela indústria. Mas ele explica que um instrumento feito por um luthier recebe um carinho, uma atenção mais apurada do que os que são feitos em grande quantidade.

Nas fábricas, os instrumentos também são feitos à mão, mas em grande escala, sem o tempo e a dedicação especial que é dada por um luthier, como é o caso de Pedro Santos, que gasta cerca de dois meses para construir uma viola, por exemplo.

“Recebo e-mails de várias partes do mundo e, às vezes, nem sei o que está escrito, peço pra alguém traduzir” Pedro Santos, luthier










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