EDITORIAL

Crescimento: quem quer o pessimismo?

Quanto o Brasil vai crescer em 2009? A bolsa de apostas movimenta-se. Ela já vinha aquecida desde pelo menos setembro, mas finais de ano aguçam o senso especulativo de comentaristas e outros palpiteiros tradicionais. Com uma pitada de emoção adicional desde que a recessão se instalou nas economias ricas, e seu fantasma é agitado com frenesi em terras tupiniquins.

O Banco Central acaba de divulgar seus números, e garante que em 2009 o crescimento será de 3,2%. O governo trabalha com um número mais alto: 4%. E há aqueles que apostam numa desaceleração mais severa, caindo para algo em torno de 2%.

A exatidão destes números só poderá ser conferida daqui a um ano. Mas o rodeio em torno dessa bola de cristal não é um exercício inocente: ele esconde apostas que envolvem 2010 e a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O forte crescimento do país neste ano incomodou a muitos no campo da oposição, assustados com o anúncio de 6,8% de crescimento do PIB no terceiro trimestre, que apontou para um ritmo ''coreano'', como assinalou o comentarista Vinicius Torres Freire, num texto significativamente intitulado ''O PIB espantoso e Lula'' (Folha de S. Paulo, 10.12.2008). A economia brasileira disparou em 2008, crescendo ''de modo desembestado'', disse ele. Em O Estado de S. Paulo, no mesmo dia, outro comentarista emplumado, José Nêumanne, associou a excelente aprovação popular ao presidente à sua capacidade de ''surfar'' na onda da crise. O argumento é de que sucesso do presidente resultou da boa situação econômica, mas ele poderá perder votos se a crise esvaziar os bolsos.

Estas opiniões revelam, na verdade, uma indisfarçada torcida tucana e neoliberal por um ''desastre'' que as estatísticas, pelo menos no horizonte vivível dos próximos 12 meses, insistem em não confirmar.

A média anual de crescimento, nos dois mandatos do presidente Lula, supera a marca de 4%; se for considerado apenas o segundo mandato, apontava para o temido ritmo ''coreano'', colocando o país no patamar mais elevado de crescimento dos últimos 30 anos.

Em contraste, a média dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso foi de esquálidos 2,3% ao ano... Isto é, só meio ponto acima da pior previsão para 2009, significando que o país viveu, naqueles oito anos fatídicos, situação semelhante ao pior cenário previsto para a pior crise do capitalismo dos últimos 80 anos.

Naqueles anos prevalecia o dogma de que crescimento não podia passar de 3,5% ao ano, uma lenda imposta como verdade científica mas que obedecia à determinação de travar o crescimento para evitar o consumo popular, manter a força de trabalho sob controle, e barata, e favorecer o capital financeiro, brasileiro e estrangeiro.

Esta etapa está superada. Este ano o crescimento fica próximo a 6%. No ano que vem, os investimentos públicos, a melhoria da renda dos trabalhadores, os programas sociais e as medidas para incentivar o crescimento podem formar, em seu conjunto, uma resposta para a crise diferente daquela que prevaleceu nos tempos tucanos. Hoje, o país não sofre a crise passivamente, mas tem musculatura, força e reservas para tomar iniciativas contra ela.

É o que faz a diferença, e leva a projeções tão díspares e, no ninho tucano, tão pessimistas. As dificuldades pelas quais eles torcem formam o material para pavimentar seu caminho eleitoral rumo ao Palácio do Planalto. É um material triste: ele é contra o Brasil e contra os brasileiros. E é também um material improvável que se contrapõe aos pontos de vistas mais ponderados que partem do governo e de setores comprometidos com o crescimento e fortalecimento da economia nacional, e que florescem também na imprensa estrangeira especializada que aponta o Brasil como um dos países mais capazes para enfrentar a crise.

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