TRIBUNA DA BAHIA: Doenças e deficiências são apontadas como causas de afastamento do trabalho

 


Estudo aponta que é necessário investimento para melhorias 

no mercado de trabalho


Foto: Romildo de Jesus

Por Amanda Queiróz

É evidente o envelhecimento da força de trabalho nas últimas duas décadas e o aumento das taxas de emprego entre pessoas com 60 anos ou mais em muitos paísesSegundo o estudo feito pela Erasmus University (Roterdã-Holanda) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), pessoas que sofrem de doenças crônicas, possuem algum tipo de deficiência incapacitante ou com mais de 50 anos de idade enfrentam um maior risco de deixar o mercado de trabalho antes da hora, o que pode acarretar efeitos significativos em sua renda e condições de saúde.

A pesquisa integra uma série de três artigos sobre trabalho e saúde, publicados na última quinta-feira (12), pela revista The Lancet, o periódico mais importante na área de ciências médicas no mundo. O estudo feito pelos pesquisadores Alex Burdorf (Erasmus University), Rita Fernandes (UFBA) e Suzan Robroek (Erasmus University), evidencia que as condições de trabalho desgastantes e problemas de saúde são barreiras significativas para a participação no mercado de trabalho. Além dos fatores que influenciam a entrada e saída do emprego remunerado nos três grupos identificados como os mais vulneráveis, assim como os impactos sobre a perda de renda e o agravamento das condições de saúde na vida desses trabalhadores em escala global.

“O estudo traz uma tendência a partir de estudos realizados em países centrais, mais ricos, com resultados sobre iniquidades que indicam uma situação possivelmente mais grave em países periféricos. Portanto, as questões apresentadas pelo estudo também podem ser relacionadas à realidade brasileira.”, explica a professora Rita Fernandes

De acordo com a pesquisa, doenças crônicas são uma barreira muito grande e que dificultam o ingresso e permanência em empregos remunerados. Uma pesquisa realizada em 27 países europeus mostrou que pessoas com doenças crônicas podem representar apenas 27% da força de trabalho, enquanto indivíduos sem essas condições significam 73% da mão de obra empregada. Entretanto, trabalhadores com idades entre 45 e 60 anos, com enfermidades como dores de cabeça intensas, diabetes e problemas de saúde relacionados ao sistema musculoesquelético, circulatório, respiratório, digestivo e psicológico impactaram a probabilidade de receber benefícios por incapacidade.

“Este estudo comparativo aponta para dois mecanismos importantes. Primeiro, as condições de trabalho de uma pessoa com doença crônica podem facilitar ou dificultar suas chances de permanecer empregado. Em segundo lugar, esses padrões regionais podem refletir diferenças em arranjos institucionais, como proteção ao emprego e proteção social”, informa a pesquisadora.

A pesquisa também aborda sobre o impacto da aposentadoria na saúde, que continua a ser uma questão complexa e em aberto. Destaca um estudo a parte realizado em 2021, onde diz que a aposentadoria pode reduzir o risco de depressão em quase 20%.

A professora Rita Fernandes, ressalta a importância de uma aposentadoria oportuna e flexível. “Para as pessoas em posições socioeconômicas mais altas, é mais fácil trabalhar por mais tempo. Elas também têm maior probabilidade de experimentar benefícios para a saúde de uma vida profissional estendida. Entretanto, para aqueles em posições socioeconômicas mais baixas, pode ser mais difícil trabalhar por mais tempo e o tempo estendido pode não trazer benefícios para a saúde.”

É necessário mudanças na sociedade para atenuar as consequências que esse estudo aponta, tendo foco central na importância do emprego remunerado como determinante social da saúde e a promoção de um mercado de trabalho inclusivo como uma estratégia para abordar desigualdades em saúde. Por fim, o estudo aponta que o diagnóstico e tratamento de pessoas com doenças debilitantes deve integrar o trabalho como parte essencial dos protocolos, reconhecendo que o trabalho tem um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas. Além disso, é fundamental tornar o mercado de trabalho adaptável e inclusivo para grupos desfavorecidos.

“As políticas devem incluir investimentos em setores que possam ser fonte de trabalho decente, que facilitem a participação no mercado de trabalho, além de serviços públicos voltados ao aprimoramento de habilidades de trabalho, capacitação para melhores posições no mercado de trabalho e a garantia da proteção social, com liberdade de associação e negociação coletiva”, conclui Rita Fernandes.



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