CORREIO DA BAHIA: Doenças crônicas e deficiências são obstáculos para se manter no trabalho, aponta estudo

 

                       Doenças crônicas e deficiências são obstáculos para se manter no trabalho. Crédito: Shutterstock


Pesquisa é feita por faculdade internacional em parceria com a UFBA


  • Da Redação

Um estudo liderado pela Erasmus University (Roterdã-Holanda) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) aponta que as pessoas que sofrem de doenças crônicas, têm algum tipo de deficiência incapacitante ou com mais de 50 anos de idade enfrentam um maior risco de deixar o mercado de trabalho antes da hora. A pesquisa integra uma série de três artigos sobre trabalho e saúde, publicados na última quinta-feira (12), pela revista The Lancet, considerada uma das mais importantes na área de ciências médicas no mundo.

O artigo intitulado ‘Saúde e participação inclusiva na força de trabalho’, em tradução livre (‘Health and inclusive labour force participation’ em texto original), foi desenvolvido pelas pesquisadoras Rita Fernandes (UFBA), Suzan Robroek (Erasmus University), e Alex Burdorf (Erasmus University). Segundo a pesquisa, as consequências da saída precoce do mercado de trabalho podem acarretar efeitos significativos na renda e condições de saúde das pessoas.

“Este estudo comparativo aponta para dois mecanismos importantes. Primeiro, as condições de trabalho de uma pessoa com doença crônica podem facilitar ou dificultar suas chances de permanecer empregado. Em segundo lugar, esses padrões regionais podem refletir diferenças em arranjos institucionais, como proteção ao emprego e proteção social”, explica Rita Fernandes, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT) da Faculdade de Medicina da UFBA e do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA).

Impacto das doenças crônicas

Um estudo realizado em 27 países europeus mostra que pessoas com doenças crônicas podem representar apenas 27% da força de trabalho, enquanto indivíduos sem essas condições significam 73% da mão de obra empregada.

As disparidades na participação eram maiores entre homens (variando de 22% a 35%) e mulheres (variando de 10% a 31%) com menor nível de educação, em comparação com homens (variando de 5% a 13%) e mulheres (variando de 6% a 16%) que possuíam educação superior.

A análise também ressalta a influência dos fatores ambientais do trabalho como obstáculos na busca e na manutenção de empregos remunerados.

Desafios para pessoas deficientes

O trabalho também aborda a marginalização de pessoas que enfrentam deficiências incapacitantes, como cegueira, deficiências intelectuais e físicas. Nesse contexto, os jovens que lidam com tais deficiências enfrentam duplas desvantagens. Primeiramente, encontram obstáculos para ingressar no mercado de trabalho após a conclusão dos seus estudos.

Segundo, enfrentam ambientes de trabalho que frequentemente dificultam a manutenção de empregos a longo prazo. Associado a isso, a disparidade educacional entre as pessoas com e sem deficiência agrava ainda mais esse cenário e afeta principalmente as pessoas negras com deficiência.

Hora certa para aposentadoria

De acordo com os pesquisadores, o impacto da aposentadoria na saúde continua a ser uma questão complexa e em aberto. Uma análise de 41 estudos, conduzida até março de 2021, sugere que a aposentadoria pode reduzir o risco de depressão em quase 20%.

Além disso, um estudo realizado na Alemanha revelou que trabalhadores que enfrentavam problemas de saúde e optaram por uma aposentadoria antecipada apresentaram uma taxa de mortalidade mais baixa nos 15 anos subsequentes em comparação com aqueles que continuaram trabalhando até a idade legal de aposentadoria, estipulada em 65 anos.

O futuro do mercado de trabalho

O artigo destaca a necessidade de mudanças na sociedade para atenuar os impactos negativos na saúde da população. Um foco central é a importância do emprego remunerado como determinante social da saúde e a promoção de um mercado de trabalho inclusivo como uma estratégia para abordar desigualdades em saúde.

Conforme observado pelo estudo, é crucial ampliar as políticas nacionais e acordos abrangentes relacionados às proteções sociais e empregatícias em um nível macro, a fim de criar oportunidades significativas para o trabalho digno.

Entre as ações apresentadas, os pesquisadores apontam que o diagnóstico e tratamento de pessoas com doenças debilitantes deve integrar o trabalho como parte essencial dos protocolos, reconhecendo que o trabalho tem um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas. Além disso, é fundamental tornar o mercado de trabalho adaptável e inclusivo para grupos desfavorecidos.

Por fim, à medida que a força de trabalho envelhece, torna-se necessário desenvolver condições de trabalho adequadas às necessidades dos trabalhadores com maior idade e com doenças crônicas. Isso é particularmente relevante em setores com escassez de mão de obra, como o setor de saúde.



Rita de Cássia Pereira Fernandes


Pós-doutora em Epidemiologia na Erasmus University, Roterdam, Holanda, por meio do Programa de Estágio Sênior no Exterior - CAPES. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1987), mestrado em Saúde Comunitária, com área de concentração em Epidemiologia, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA, 1998) e doutorado em Saúde Pública/Epidemiologia, pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (2004), com estágio no exterior, bolsista da CAPES, na McGill University, Montreal-Canadá. Atualmente é docente titular da Faculdade de Medicina da Bahia da UFBA, atuando como docente permanente no Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT-UFBA) e no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do ISC-UFBA. Editora Associada dos Cadernos de Saúde Pública e da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. Médica do Trabalho e Sanitarista, cuja Residência foi concluída em Fev/1991. Atuou na área da Saúde do Trabalhador, como médica assessora no Sindicato de Trabalhadores do Ramo Químico e de Petróleo/Sindiquímica/Sindipetro (1991 a 2006) e médica no Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (CESAT/SESAB/SUS) - no ambulatório de doenças relacionadas ao trabalho e, em seguida, coordenando a Vigilância em Ambientes de Trabalho (1990 a 2007). Membro da Comissão de Epidemiologia da ABRASCO. Tem se dedicado à pesquisa em Saúde do Trabalhador e Epidemiologia Ocupacional, atuando principalmente nos seguintes temas: dor musculoesquelética relacionada ao trabalho, acidentes de trabalho, vigilância em saúde do trabalhador, hipertensão arterial e trabalho, trabalho subordinado a plataformas digitais e saúde.



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