AGÊNCIA SERTÃO: História de Leocádia passa a ser patrimônio imaterial em Guanambi
Livro Respingos Históricos - Teixeirinha
A História de Leocádia, assim
como a peregrinação ao seu túmulo e ao lajedo, e demais manifestações de fé e
religiosidade referente à temática, agora fazem parte do Patrimônio Cultural
Imaterial do Município de Guanambi. A oficialização ocorreu por meio de um
decreto do prefeito Nilo Coelho, publicado na edição do Diário
Oficial do Município desta sexta-feira (11).
Com o
tombamento, o nome da personagem também passa a ser constar no Livro de
Registro de Personagens Históricos e de Eventos e Celebrações do município. A
Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo (Secelt) deverá providenciar a
elaboração do plano de salvaguarda do bem cultural imaterial.
A pasta também deverá dar
conhecimento público sobre a efetivação dos registros especiais já mencionados,
informando aos cidadãos e cidadãs, inclusive, da necessidade de preservação e
manutenção da celebração tradicional em comento.
O decreto
que torna a História de Leocádia patrimônio imaterial de Guanambi leva em conta
uma série de considerações, como sua temporalidade histórica significativa,
repassada de geração em geração desde o fim do século XIX, configurando
importante símbolo de fé e de religiosidade, com manifestações que antecedem a
emancipação do município de Guanambi.
O
tombamento também considera um inquérito civil instaurado pelo Ministério
Público do estadual (MP-BA), que promoveu a constituição de um Dossiê com
dezenas de entrevistas realizadas com utilização de recurso audiovisual, tendo
como protagonistas professores da rede pública municipal de ensino, escritores,
historiadores, cidadãos, devotos de “Santa Leocádia”, autoridades locais e
demais admiradores desta história que sobrevive na memória dos guanambienses ao
longo de mais de um século.
Também
foram analisadas teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos
acadêmicos, científicos e escolares, poemas, filme, documentários, reportagens,
livros, romances, espetáculos, programas exibidos na televisão e na internet,
dentre outros, formando-se a catalogação de um banco de dados vasto sobre a
História de Leocádia.
De acordo
com o MP-BA, as fontes formais, históricas e memorialistas sobre sua vida e
morte, explorada de diversas formas, nas mais variadas áreas de conhecimento,
confirmam sua importância para a cidade de Guanambi e para toda a coletividade,
traduzindo-se como referência à identidade, à ação e à memória de um grupo indeterminado
de pessoas, fato que por si justifica o tombamento, recomendado pelo órgão em maio deste ano.
Sobre
Leocádia
A
promotora de Justiça Tatyane Caires ressaltou durante audiência pública sobre o assunto que
a história de Leocádia é recontada de geração para geração ao longo de mais de
um século e narra o crime de homicídio qualificado, ocorrido há mais de 120
anos, praticado a mando de Raquel, tendo como vítima a jovem Leocádia, uma
adolescente pobre, admitida para trabalhar na obra de uma barragem destinada a
combater a seca na região da Vila de Beija-Flor (atual Guanambi).
O motivo
do crime foi o fato do marido da mandante, o Coronel José Pedro Guimarães, ter
presenteado Leocádia com um corte de tecido para fazer um vestido, o que
despertou o ciúme doentio de Raquel, que determinou a dois empregados que
matassem Leocádia, trazendo-lhe como prova do crime o seio da vítima. O cadáver
de Leocádia foi jogado numa fenda, existente no Lajedo, que posteriormente veio
a adquirir o formato de um caixão.
Livro Respingos Históricos - Teixeirinha
Após ser
localizado, diante do avançado estado de putrefação, o cadáver de Leocádia foi
enterrado nas proximidades do Lajedo, local para onde, durante as sextas-feiras
santas, a população se dirige, até os dias de hoje, para fazer orações àquela
que foi alçada à “Santa Popular”.
A
promotora ainda ressaltou que o caso já foi transformado em filme, romance,
livro, documentário, reportagens, além de ser objeto de dezenas de trabalhos
acadêmicos. Um dos trabalhos mais conhecidos é o filme lançado em 2008, baseado
no livro do escritor e historiador guanambiense, Elisio Guimarães Cotrim.
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