BAHIA ECONÔMICA: WALDECK ORNÉLAS – CORREDOR CENTRO-LESTE: LUZ NO FIM DO TÚNEL
O “furo” coube ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que anunciou como reivindicação sua: FICO e FIOL se encontrarão em Mara Rosa, tornando Goiás o maior entroncamento ferroviário do país! Poucos dias depois, em Ilhéus, coube ao próprio presidente Lula e aos seus ministros dos Transportes e da Casa Civil confirmarem a informação.
Esta mudança torna-se possível a partir da compreensão de que a FIOL deve abandonar o seu traçado inicial, pensado para Figueirópolis, no Tocantins – de onde não teria continuidade – fazendo-se a ligação direta e mais curta, a partir de Correntina (BA), município servido pelo trecho II da FIOL, para ir ao encontro da FICO em Mara Rosa.
O engate da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO) com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) começará a desenhar um novo corredor logístico nacional, de fundamental e estratégica importância para o país, ao promover desconcentração econômica, reduzir custos de transporte e abrir novas perspectivas de desenvolvimento para o Leste e o Centro-Oeste brasileiros.
É inacreditável que um país com a dimensão continental do Brasil, com a extensão litorânea que tem, continue refém e dependente de um único complexo portuário – o de Santos – monopólio só muito recentemente quebrado pela importância que vem ganhando o Arco Norte, centrado no Maranhão, inicialmente pela condição natural de portão de saída do ferro de Carajás e, mais recentemente, pela crescente exportação de grãos.
Absurdo é que, poucos anos atrás, o desenho estabelecido era o de interligar a FICO com o porto do Açu, no Rio de Janeiro (projeto chamado de Ferrovia Transcontinental ou Transoceânica), com o que continuaríamos a concentrar a economia nacional no Centro-Sul, limitando as possibilidades de desenvolvimento do país, como se esta região já não esteja sendo beneficiada pelo Corredor Bioceânico – ligação de Santos a Antofagasta, no Chile – cuja rodovia encontra-se em implantação, estando prevista também uma ferrovia.
Se a conexão em Mara Rosa é uma conquista para Goiás, muito mais tem a comemorar a Bahia, estado territorialmente do tamanho da França, que ficaria condenado ao isolamento ferroviário e, portanto, a um futuro medíocre.
Muito ainda falta para que se possa ter concretizada a ligação FICO-FIOL, cujo marco inicial e decisivo estará na concessão unificada dos Trechos II e III da FIOL, contemplando o novo traçado para a FIOL III, com o trecho I da FICO, até Água Boa, no Mato Grosso.
A integração FICO-FIOL – que dá origem ao Corredor Centro-Leste – pode facilmente expandir-se a Oeste, tornando realidade o sonho da Ferrovia Transulamericana, proposta pelo engenheiro baiano Vasco Neto, professor emérito da Escola Politécnica da UFBA, falecido em 2010, alcançando o Oceano Pacífico no porto peruano de Bayovar. Seguindo em seu traçado as linhas de menor resistência, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre serão os estados brasileiros servidos pela ferrovia.
Por sua vez, as dificuldades enfrentadas pela Ferrogrão – projetada ligação ferroviária de SINOP (MT) ao porto de Miritituba (PA) – podem também encontrar aqui alternativa adequada para o escoamento dos grãos dessa importante região matogrossense, ampliando ainda mais a demanda pelo complexo portuário do litoral baiano, seja o Porto Sul, em Ilhéus, sejam os portos da Baía de Todos os Santos, que seriam para tanto expandidos. A simples implantação do trecho II da FICO, de Água Boa a Lucas do Rio Verde, já será suficiente para atender a este propósito.
Há, portanto, um imenso cenário de oportunidades pela frente que a Bahia não pode desperdiçar. Isto requer – e impõe – a união e a mobilização de todas as forças políticas, empresariais, acadêmicas, profissionais e sociais do nosso Estado, em defesa e na luta pela concretização desse megaprojeto.
O Corredor Centro-Leste é a nossa “rota da seda”. Acorda, Bahia!
- Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de “Cidades e Municípios: gestão e planejamento”.
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