AINDA HÁ TEMPO
Guanambi é um dos 400 maiores municípios do Brasil, com seus 85 mil habitantes.
Ninguém gosta de notícia ruim, mas falemos a verdade: no ritmo que vai a atual pandemia, sem que o governo resolva governar, a COVID continuará crescendo e poderemos chegar a perder um número de vidas equivalente a uma Guanambi.
Isso acontece porque, mais de cem dias depois que o vírus chegou ao Brasil, não temos sequer um Ministro da Saúde, o governo federal não cumpre seu papel de organizar nacionalmente o combate à epidemia, não garante ajuda financeira e empréstimos aos micro, pequeno e médio empresários, nem sequer garante a renda emergencial a todos os que dela necessitam e durante o tempo que for preciso. Sim, temos que pagar 600 reais às famílias que precisam por, pelo menos, um ano.
Uma população inteira como a de Guanambi terá desaparecido do mapa. É como se de repente toda a trajetória iniciada pelo Arraial de Beija-Flor em meados do século 19, fosse apagada. Não mais a cidade de comércio efervescente, a terra dos ventos fortes, do polo educacional, todo mundo desaparecido. A médica, a professora, o juiz, o padeiro, o promotor, os estudantes, os lavradores, os funcionários públicos, os radialistas, os jornalistas, os poetas, as escritoras, as artistas, o bêbado, o político, o contador, a lojista, a feirante, todo mundo.
Não é isso que queremos, logo, é preciso dar um basta. Exigir que o governo governe, pare de fazer bravatas e arruaças, pare de tentar esconder seus crimes e os dos seus cúmplices. Se não é capaz disso, e parece não ser, que saia logo.
15 mil Guanambienses, 32% do eleitorado, votaram em Bolsonaro. A grande maioria está arrependida e é ótimo que esteja. Muitos destes votaram na esperança de mudar para melhor, de dar vazão ao ódio contra o que não concordava, muitas vezes estimulados por uma onda de notícias falsas que dizia que tudo que vinha antes era corrupção, ações contra a família, contra Deus, contra a moral. Estão agora conscientes que foram enganados.
O governo Bolsonaro tem se revelado tudo aquilo que dizia combater: envolvido com o crime, mistificador, pecador, corrupto, genocida. Também revelou que era verdade o que muitos talvez pensasse que estava brincando, quando fazia apologia da tortura, agredia mulheres, negros e homossexuais, dizia que faria uma guerra civil (“para matar pelo menos 30 mil”, lembra?), dizia não saber nada de economia, como não sabe de saúde, educação, meio-ambiente etc.
É importante que seus eleitores arrependidos rompam com ele de uma vez por todas. “Arrependei-vos e não pequem mais”, ou melhor, ajudem a corrigir o resultado dos seus erros, não apenas nas próximas eleições, banindo da nossa cidade todos os que o apoiaram, como também exigindo que se dê logo o impeachment ou a cassação da chapa para que o Brasil possa retomar o rumo da Democracia.
Isso é urgente, antes que o número de mortos seja do tamanho da população de Cachoeiro de Itapemirim (ES), com 200 mil vidas, a terra que o ministro dos Banqueiros, Paulo Guedes, diz que é o lugar os brasileiros onde devem fazer turismo, nunca em Miami ou Europa. Ou de Juazeiro do Norte, com 275 mil vidas. Então choraremos junto à estátua do Padre Cícero o nosso fracasso enquanto nação, dizimados por um louco, que se associou a um vírus, seguido por gente irracional que não consegue descobrir o valor do arrependimento e do perdão.
Fernando Donato Vasconcelos,
médico guanambiense
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