Mensagem de João Augusto de Lima Rocha sobre o CEG e a REG
O CEG, Centro Estudantil de Guanambi, é um patrimônio cultural e político extremamente valioso, construído pela, e para a juventude de Guanambi, cidade muito especial em que tive a imensa felicidade de morar e viver intensamente, com minha família, de agosto de 1960 a fevereiro de 1976, saído de Gentio do Ouro, pequena cidade baiana do Médio São Francisco, onde nasci.
Sou de um grupo de estudantes que antecedeu à criação do CEG, mas acompanhei de muito perto o trabalho que desenvolveu, particularmente na área cultural, e até tive a oportunidade de participar de uma atividade, em 1976, que ainda permanece forte na lembrança de todos os presentes a um dos memoráveis encontros culturais realizados pela entidade. Foi a montagem relâmpago da peça O Descobrimento do Brasil, concebida, construída e apresentada em 24 horas! A peça teatral, em que todos os participantes eram estreantes, baseou-se na divertida versão musical que encontramos num disco de vinil do grande comediante e compositor Ary Toledo. O sucesso foi retumbante, e extrapolou até os limites de Guanambi, sendo que as apresentações seguintes, em Salvador e outras cidades da Bahia, também tiveram grande sucesso.
O CEG, porém, não era movido a sucesso, a vaidade, ou a concorrência mesquinha entre seus participantes. De fato, o que predominava era a simplicidade, o companheirismo, a colaboração mútua e a disposição de luta por um país democrático, com paz, sem fome, com justiça social e liberdade, em todos os sentidos, educação publica e cultura para todos. Havia, em tudo, a consciência clara de que, embora tivesse um grupo mais aguerrido que tomava a frente das realizações, o CEG pertencia a toda a juventude de Guanambi.
Guanambi sempre foi reconhecida, até desde um pouco antes da criação do CEG, como uma cidade que produziu muitas lideranças estudantis, particularmente depois do golpe militar de 1964 que tomou o poder, pela força das armas, do presidente da república eleito João Goulart.
Lembro-me, particularmente de Maria Dirce Ribeiro, estudante guanambiense de direito, quando cheguei a Salvador para fazer o curso secundário, em 1966 que, pelo menos no meu caso, foi importante mentora política. Depois, já entre os de minha idade, relembro de Lúcia Neves Teixeira, José Francisco Marchesini Nunes, Dilmar Malheiros Meira, Avelar Pereira Viana, Isa Simões, Marcos Nilton Donato Vasconcelos, dentre tantos outros e outras que já encarnávamos o espírito político e cultural que os meninos e meninas do CEG, trouxeram logo a seguir, com muito mais garra, organização e determinação.
A reivindicação da residência estudantil em Salvador, a REG, seguida do amplo movimento em prol de sua conquista e manutenção, revelou uma faceta ainda mais avançada da turma do CEG. A maturidade política, naquela luta, envolvia outra vertente, esta mais complexa, que era a da manutenção organizada de um trabalho disciplinado e contínuo, num universo de jovens, não todos devidamente politizados ao ponto de entender em que um simples espasmo de individualismo juvenil poderia prejudicar um trabalho político valioso, em que tanto tempo e articulação minuciosa foram empregados.
Após a REG, sucedeu o trabalho de organização estadual dos residentes, a CIVUB, em que a presença dos estudantes guanambienses teve grande destaque.
Vivemos agora um momento singular em nosso país, em que a incerteza predomina, estando à frente um governo sem face, eleito por meio da fraude, com recurso ao uso de mensagens de WhatsApp mentirosas, disparadas ilegalmente aos desavisados e crentes em um Jesus Cristo novamente crucificado por mercadores de templos. Estamos á deriva, com um governo de pai e três filhos tresloucados, sem programa, sem compromisso com a Nação, que entroniza a mentira e a violência aberta como método de trabalho, e usa a pantomima como disfarce, a fim de, ao mesmo tempo, distrair o povo e manter coesos os malditos que têm a propriedade de corromper, afirmando, através dos meios de comunicação a seu serviço, que estão combatendo a corrupção!
Torna-se muito importante, por isso, que a juventude guanambiense tome para si, de novo, a responsabilidade de se juntar aos democratas de todos os matizes, na tarefa de impedirmos a marcha para o fascismo, intentada pelos fundamentalistas da terra plana, que querem acabar com tudo de bom que constitui a nossa Nação.
A garra do CEG precisa ser difundida e bem conhecida, e este livro tem o grande mérito de recompor a memória das lutas que a juventude guanambiense, de todos as idades, mostrou que sabe empreender, particularmente nas horas difíceis, com arte, alegria, modéstia, determinação e espírito de companheirismo. O CEG segue!
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