História & Memória: A Serra dos Montes Altos e o Salitre (1757)
Trajetória histórica da formação
econômica do sertão da Bahia no período colonial
O CICLO DO GADO: A criação de gado representou importantíssimo papel no contexto da sociedade e da economia do sertão. O Rio São Francisco ficou conhecido com o Rio dos Currais. A caatinga nordestina era uma das áreas de criação de gado que fornecia à população da Colônia não apenas o alimento fundamental representada pela carne, mas também a força motriz para os engenhos, o couro com suas múltiplas utilidades e os animais para transporte para as zonas agrícolas e mineradoras.
A pecuária do sertão fornecia a
carne-seca, favorecida pelo clima quente e a existência de salinas – época do sal e do couro.
Historicamente Monte Alto cresceu e se
desenvolveu baseada no ciclo do gado e da agricultura de subsistência, sendo
fatores fundamentais e importantes no processo de formação econômica de
Caetité, Palmas de Monte Alto, Beija-Flor (Guanambi) e da região, que
contribuiu enormemente para o processo de ocupação e expansão do sertão da Bahia.
Ao longo do processo econômico a
região se firmou como um centro agrícola onde produzimos algodão, feijão, milho,
mandioca, pecuária, fumo, etc.
O
CICLO DO OURO: A
descoberta do ouro e do diamante em Minas Gerais, Chapada Diamantina e nas
comarcas de Jacobina e Rio de Contas foi fator fundamental para o processo de
ocupação do sertão da Bahia. Os caminhos antigos de Minas Gerais e a famosa
Estrada Real tem uma relação direta com o ciclo do gado, do sal e do couro devido
a necessidade do fornecimento de alimentos e mercadorias para as áreas de mineração.
A descoberta e extração do salitre na Serra dos Montes Altos também foi um fator importante
para o povoamento e ocupação do sertão baiano.
A mineração provocou a expansão do
povoamento no sertão baiano, através da abertura de estradas e vias de comunicação para
Minas Gerais e a histórica trilha dos tropeiros (Monte Alto, Beija-Flor
(Guanambi), Caetité, Rio de Contas, Mucugê, São Félix, Cachoeira e Salvador).
A
exploração da jazida de salitre na Serra dos Montes Altos
O
livro AQUELES SERTÕES de autoria do saudoso Vilobaldo Neves Freitas relata
fatos históricos sobre a ocupação do sertão baiano e a importância da jazida de
salitre na Serra dos Montes Altos, destacando dois capítulos: O Salitre; A
Serra dos Montes Altos e o Salitre, na qual descreve que nos séculos XVII e XVIII
Portugal foi obrigado a manter vigilância na conservação de suas colônias e a
necessidade de preparação bélica no período do colonialismo “Guerra
não se fazia e não se faz sem pólvora. Pólvora não era possível sem salitre”.
Segundo
Vilobaldo Freitas, o salitre de Monte Alto encheu de esperanças o mundo oficial
da colônia. A expectativa teve dimensões invulgares. Carta do Secretário Thomé
da Costa Côrte Real diz textualmente:
“O
salitre remetido para Lisboa, se achou pelos exames a que se procedeu, não só
bom, mas tão excelente, que a pólvora que com ele se fez provou muito melhor
que a outra, que foi composta com salitre da Ásia...”.
O
relato de Vilobaldo Freitas descreve corretamente a região de exploração do
salitre na Serra dos Montes Altos e a construção da estrada real (caminhos
ásperos e difíceis):
“Ante
tão promissora expectativa não tardaram as providências governamentais, A Carta
Régis datada de 16 de Abril de 1761 autoriza a instalação das fábricas
necessárias próximo à capela N.Senhora da Madre Deus (Nossa Senhora Mãe de Deus
e dos Homens) nos sítios de Coqueiros e Cuyaté. Determina o transporte do
salitre de Montes Altos até a cachoeira, onde haveria um entreposto, e aprova o
roteiro a ser seguido”.
Fotos: Blog do Latinha
A pesquisa de Luciano F. Farias e Carlos A.L. Filgueiras (SALITRE: O PRODUTO ESTRATÉGICO NO PASSADO DO BRASIL, 2020) destaca: “Dentre todas as formações geológicas entre Minas e Bahia, a Serra dos Montes Altos foi a que atraiu maior atenção dos exploradores dada sua abundância de salitre. Tal afirmação é apoiada em uma série de documentos e desenhos que indicavam a Planta Topográfica, e Prospetos da Serra dos Montes Altos – com seus pontos de extração de salitre – e um mapa da Planta Chorografica da estrada de São Félix a Montes Altos”.
Segundo Luciano Carlos, a expedição dos naturalistas J.Spix e K.Martius (1817-1820), que descreveram os sertões no século XIX: “Descobriu-se na Serra dos Montes Altos grande quantidade de terra salitrosa, que estaria depositada na superfície e em grutas (de pedra calcária?), porém ainda não explora seriamente isto provavelmente, por ser proibida a exportação do salitre... O Brasil é tão extraordinariamente rico nesse apreciado produto, que a liberação do comércio de salitre lhe daria grandes vantagens”.
Resumindo, a descoberta da jazida de salitre foi fator primordial no processo de povoamento de Monte Alto.
A expedição de Theodoro Sampaio (1879-80)
relatada no livro o RIO DE S.FRANCISCO E
A CHAPADA DIAMANTINA, destaca que Monte Alto, ao longo do século XIX, é um
lugar de belíssimas paisagens naturais, com aspecto rural e terras propícias ao
desenvolvimento da cultura do algodão e da agropecuária.
Fotos: Blog do Latinha
Desenho: Theodoro Sampaio
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