RESGATE HISTÓRICO: - Registros fotográficos inéditos, revelam como era o primeiro campo de avião de Guanambi e região

Quando pequenos, somos como na canção “Sonho de Menino”, do célebre cantor mineiro Paulinho Pedra Azul: olhamos para o céu, e sonhamos voar. E desde a década de 50, que em Guanambi, constantemente, pequenos aviões, em sua maioria, os primeiros modelos Cessna 180 pousavam na cidade, advindos de outros locais, em missões diversas, em grande parte, técnicos e engenheiros da extinta Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), atual Codevasf, que atuavam em obras em toda a região. 

Bairro Aeroporto Velho herda o nome do antigo campo de pouso

O antigo campo de pouso, até hoje nominando o bairro local, conhecido como ‘Aeroporto Velho’, era um enorme descampado, terraplanado com uma enorme faixa de terra que pegava do que hoje é toda a extensão da Avenida Beneval Boa Sorte e parte da Avenida Messias Pereira Donato.  

Conforme documentos oficiais de época que tivemos acesso, dos anos de 1957 até 1959, a CVSF realizou importantes intervenções no que era conhecido pela nomenclatura oficial como ‘Campo de Pouso de Guanambi’. Apenas no ano de 1957, foi realizada a roçagem de 260.000 metros quadrados de área, implantação de 3.200 metros de arame farpado e ainda a implementação de 6.000 metros cúbicos de aterro com compactação e melhoria do único hangar. As obras seguiram nos dois anos posteriores, sempre com a manutenção do espaço, como limpeza da vegetação e reposição e melhorias da pista. 

Fotos revelam detalhes de como era a estrutura local

O importante resgate histórico fotográfico nos oferece minuciosos detalhes de como era o antigo Campo de Pouso, como algumas construções ao fundo. Nota-se também, a terreno bastante padronizado e vegetação lateral a pista, bem diminuta. Nas fotos, é possível vislumbrar parte da geografia das serras que circundam a nossa cidade, sobretudo, as serras de Ceraíma e dos Brindes. Na outra fotografia, onde técnicos fazem a medida da área, um inédito registro do Monte Pascoal, bem à direita, com poucas casas na sua base, o que era conhecido na época, como o pé do morro, onde as primeiras edificações foram feitas. No mesmo registro, é possível vermos um cruzeiro edificado no seu cume. 

No registro fotográfico no pequeno hangar, com apenas duas vagas para os pequenos monomotores que pousavam, notamos à esquerda, a roda de carro de boi estacionado, provavelmente, para trazer água advinda dos mananciais próximos, como o Lajedão ou o que é conhecido hoje como Lagoa de João Amaral, que antes de ser cortada pelo BR-030, era uma grande e uniforme lagoa. Já do lado direito, notamos o modelo de cerca, com quatro fios de arame farpado e ao fundo, parte da Serra de Mutans. 

Ministro Cordeiro de Farias pousa em Guanambi no ano de 1964 

Um registro raro de uma das mais célebres visitas de uma autoridade federal nas décadas passadas, a visita de Cordeiro de Farias, Ministro Extraordinário da Coordenação e Organismos Regionais, aconteceu no ano de 1964.

Riqueza de detalhes históricos

Na foto, registra-se o pouso de uma aeronave da Força Aérea Brasileira no antigo Campo de Pouso. Estudantes do Ginásio de Guanambi impecavelmente fardados recepcionaram a autoridade federal com canções da pátria com a fanfarra e bandeiras. À esquerda dá para fazer a leitura em uma das bandeiras a frase “Ginásio de Guanambi”. Bem ao fundo do lado direito da foto, é fácil notar uma extensa lagoa urbana. Na época, o ministro foi recepcionado por autoridades locais, como Jonas Rodrigues, o deputado Manoel Novaes, o prefeito Dr. José Humberto Nunes e Dr. Sandoval Moraes, além de vereadores e empresários da cidade. 

Quem foi cordeiro de Farias

Figura icônica, Cordeiro de Farias foi uma das personalidades mais importantes da história política brasileira. Participou das revoltas de 1922 e 1924, combateu a Revolução Constitucionalista de 1932, a Revolta Comunista de 1935 e foi um dos principais articuladores do golpe de 1964. Foi Comandante de um destacamento que combateu a Coluna Prestes 1924/1927, foi também interventor federal no Governo do Estado do Rio Grande do Sul 1938/1943 e também Comandante da Força Expedicionária Brasileira 1944/1945. Além disso, foi Comandante da Escola Superior de Guerra 1949/1952 e Governador do Estado de Pernambuco entre 1954/1958. Foi Presidente da Comissão Militar Mista Brasil/Estados Unidos 1959/1961 e foi ainda Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas no ano de 1961. Por fim, foi Ministro Extraordinário da Coordenação de Organismos Regionais de 1964 até 1966. 

O Aeroporto atual

Décadas depois, o antigo ‘Campo de Pouso’, foi desativado e foi edificado na saída para Caetité. Na estrutura antiga, ainda na década de 80, nos tempos áureos do algodão, o aeroporto de Guanambi contou com voos regulares operados pela Nordeste Linhas Aéreas e Abaeté Linhas Aéreas. Dezenas de aviões agrícolas e jatos particulares faziam o local, um dos mais movimentados da Bahia. Com a crise da cotonicultura, o local ficou no ostracismo, até meados do ano 2019, quando reformas começaram no local, na busca de modernização. Em 20 de setembro de 2021, o Aeroporto Isaac Moura Rocha foi reinaugurado no mesmo local, agora atendendo a todas as exigências da ANAC e demais órgãos reguladores. Foi entregue um novo saguão amplo e moderno, todo climatizado e no mesmo dia, iniciou o voo regular da Azul Linhas Aéreas para o Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte. 

Texto e pesquisa: João Roberto

Fotos acervo: João Roberto

Crédito foto Ministro Cordeiro de Farias: Fundação Getúlio Vargas

Fotos originais coloridas por IA