É tempo de pequi!



JORNALISTA ARI DONATO 

Há coisa de que se gosta e coisa de que não se gosta; que se come ou não se come. E são muitas, principalmente na culinária, sendo uma delas o pequi, fruto do pequizeiro, que tem sabor e cheiro peculiares, responsáveis por esta tal apreciação ou não. Ah, há ainda os espinhos!

A palavra pequi (o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa registra ainda piqui) é originária do tupi py-quí (py = casca; quí = espinho). “Casca áspera, espinhenta”, conforme Teodoro Sampaio (1855-1937), em seu livro O tupi na geografia nacional, datado de 1901.

O caroço do pequi, onde estão minúsculos espinhos, é envolvido por uma polpa, a ser superficialmente roída, de modo que a se remover a parte macia com seus dentes da frente. Mordendo o caroço, esses espinhos se irrompem na boca com risco de ferimento à língua e lábios.

Em maio 2001 o pequi foi destaque no noticiário nacional, depois de o senador carioca Saturnino Braga (PSB/RJ) ferir a boca. Durante uma galinhada, iguaria preparada com arroz, frango desfiado, cenoura, ervilha, e, neste caso, acompanhada do pequi, na cidade goiana de Pirenópolis, o senador mordeu o caroço da fruta.

Pequi com espinhos e pequi sem espinhos, em fotos de Ailton Pereira / Embrapa

Sem espinhos

E com objetivo de evitar reveses dessa monta, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados) e a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) desenvolveram pesquisas em torno de uma modalidade de pequi sem espinhos no endocarpo, isto é, no caroço.

No último dia 9 de novembro, após cerca de 30 anos com pesquisas, as duas empresas lançaram, oficialmente, no Estado de Goiás, três cultivares de pequi sem espinhos, o que evita acidente durante o consumo e facilita o manuseio para extração e aproveitamento da polpa e da amêndoa, segundo os pesquisadores. Também foram lançadas três cultivares com espinho.

O pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.), símbolo do Cerrado brasileiro, é encontrado em quase toda a região Centro-Oeste e parte do Sudeste, Norte e Nordeste do País, e sua frutificação ocorre entre os meses de outubro e março, com a colheita feita quando os frutos, maduros, caem ao chão. O pequizeiro nasce também na floresta pluvial da Amazônia, mas lá é uma árvore mais robusta, com folíolos mais finos, e receba o nome de pequiá, do tupi py-quyá, “a pele ou casca suja”, ainda segundo Teodoro.

No Estado da Bahia aparece nas regiões oeste e extremo sudoeste, e o seu florescimento vai de dezembro a janeiro. Embora seja uma planta nativa dos gerais, denominação do Cerrado brasileiro, somente no Estado de Goiás é encontrada em todas suas espécies, as quais frutificam, no seu conjunto, de setembro a fevereiro.

A árvore chega a alcançar 10 metros de altura e seu caule serve para construção de dormentes, postes e material naval e da construção civil. Seu principal uso é na alimentação humana e a parte comestível de um fruto, de peso aproximado de 50 gramas, possui cerca de 40 calorias.

O pequi é servido cozido, seja puro, seja misturado ao feijão, arroz ou frango. Nas regiões onde é nativo, seu cheiro não incomoda, até desperta o apetite, e comer sem auxílio de talher, levando-o à boca com os dedos, é normal e incensurável. Pode-se até, discretamente, lamber a ponta dos dedos.

1 – Arroz com pequi
Ingredientes:
1/4 de xícara de chá de óleo ou banha de porco
1/2 litro de pequi lavado
2 dentes de alho espremidos
1 cebola grande picada
2 xícaras de chá de arroz
4 xícaras de chá de água quente
Sal a gosto
Pimenta-de-cheiro ou malagueta a gosto
Salsinha, cebolinha picada a gosto.
Preparo:
Coloque o pequi no óleo ou gordura fria (o fruto é inteiro, não se deve cortar). Acrescente o alho e a cebola e deixe refogar em fogo baixo, mexendo sempre com uma colher de pau para não grudar na panela, e respingue um pouco de água quando for necessário. Quando o pequi já estiver macio e a água secado, acrescente o arroz e deixe fritar um pouco. Junte a água e o sal. Quando o arroz estiver quase pronto, coloque a pimenta-de-cheiro ou malagueta a gosto. Na hora de servir, polvilhe o arroz com salsa e cebolinha e um pouco de pimenta.
Observações:
Não utilize panela de ferro, pois a fruta fica enegrecida.

2 – Frango com pequi
Ingredientes:
Um quilo de frango
Cebolinha picada
Doze pequis.
Preparo:
Corte o frango em pedaços, tempere com alho e sal e refogue.
Deixe grelhar um pouco e, a seguir,
acrescente os pequis e a cebolinha, cubra com água e cozinhe
por cerca de 20 minutos. Sirva quente.
Para acompanhar, arroz branco.

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