Concentração recorde: bilionários têm mais riqueza que 60% do Planeta
PORTAL VERMELHO
Relatório da Oxfam também aponta para uma desigualdade de gênero: mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado realizado no mundo.
Publicado 20/01/2020 11:46 | Editado 20/01/2020 14:41
Há uma elite no Planeta – os 2.153 bilionários do mundo – que
possuem uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, aproximadamente 60% da
população global. O dado foi revelado pelo relatório Tempo de Cuidar – O Trabalho de Cuidado Mal Remunerado e Não Pago e a Crise
Global da Desigualdade, lançado pela Oxfam neste domingo (19), às vésperas
do Fórum Econômico Mundial.
Além de evidenciar que a concentração de renda chegou a nível
recorde, o documento aponta para uma desigualdade de gênero. Enquanto os donos
das grandes fortunas acumulam cada vez mais riqueza, as mulheres são
responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado realizado no mundo.
“O cuidado é alimentar, cozinhar, arrumar, cuidar da pessoa
doente, da criança. Esse serviço todo é importante para a economia e não está
sendo remunerado adequadamente ou, muitas vezes, não é remunerado”, critica
Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Na divisão do trabalho, a
mulher é aquela que cuida e o homem é aquele que traz os recursos. Isso é
antigo, mas muito presente na sociedade, em distintos países e cultura.”
Conforme o relatório, a cada dia, mulheres e meninas ao redor
do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas ao trabalho de cuidado não remunerado.
Se fossem remuneradas, isso significaria uma contribuição de, pelo menos, US$
10,8 trilhões por ano para a economia global – o triplo do valor gerado pela
indústria tecnológica, por exemplo.
Segundo Katia Maia, a desigualdade de gênero precariza ainda
mais a condição de trabalho das mulheres fora de casa. Em todo mundo, 42% delas
não conseguem um emprego porque ocupam todo o seu tempo com o trabalho de
cuidado e do lar. Entre os homens, esse percentual é de apenas 6%.
Outro dado publicado no novo levantamento da Oxfam se refere
às mulheres que vivem em comunidades rurais e países de baixa renda. Elas
dedicam até 14 horas por dia ao trabalho de cuidado não remunerado – cinco
vezes mais do que os homens. De acordo com a organização, as meninas que
realizam um grande número dessas funções apresentam taxas de frequência escolar
mais baixa.
Para a porta-voz da Oxfam, as estatísticas mostram que a
situação tende a piorar. “A população mundial está envelhecendo e vai precisar
de cuidados, de saúde e de assistência. Aqui no Brasil, os recursos para essas
políticas públicas estão sendo reduzidos”, denuncia ela, citando uma
estatística do IBGE: “Até 2050, teremos 77 milhões de pessoas que vão precisar
de cuidado, entre idosos e crianças. Se não tivermos um arcabouço de serviço
público para atender, quem vai cuidar dessa população? De novo, as mulheres e
as meninas.”
Outros dados corroboram a avaliação de Katia sobre a perpetuação
dessa estrutura desigual. Apenas 30% dos municípios brasileiros contam com
instituições de assistência a idosos, localizados em sua maioria no sudeste do
país, de acordo com informações levantadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Ou seja, o cuidado continuará a ser feito informalmente pelas
famílias, com o trabalho não remunerado de uma maioria esmagadora de mulheres.
Um mundo
para os 99%
O relatório Tempo de Cuidar também apresenta sugestões para
que as desigualdades de gênero e de renda sejam enfrentadas. Entre elas, o
desenvolvimento de legislações que protejam os direitos trabalhistas das
trabalhadoras domésticas e cuidadoras – que representam 80% dos 67 milhões de
indivíduos que trabalham na área.
A Oxfam também recomenda a adoção de medidas para reduzir
drasticamente o fosso entre ricos e pobres. Para isso, indica a tributação de
grandes fortunas e o combate à sonegação fiscal com urgência, assim como o
investimento dos governos em sistemas públicos de prestação de cuidados.
Katia é enfática ao defender que uma reforma justa – que tribute os mais ricos, e não os mais pobres – ajudaria diretamente a diminuir a opressão e exploração de mulheres e meninas. Por meio dos recursos que seriam tributados, o Estado teria maior capacidade de oferecer assistência social e serviços públicos de qualidade, diminuindo a sobrecarga que recai sobre os ombros das mulheres em todo o mundo.
Com informações do Brasil de Fato
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