Comissão debate como se deu a morte de Anísio Teixeira durante a ditadura

Tribuna da Bahia

por
Helena Martins - Agência Brasil
Publicada em 28/05/2014 18:14:37



No dia 11 de março de 1971, Anísio Teixeira pretendia visitar o amigo Aurélio Buarque de Holanda, no bairro Flamengo, no Rio de Janeiro, para tratar de sua candidatura à Academia Brasileira de Letras.
O encontro não ocorreu. A candidatura não seguiu adiante. Anísio Teixeira desapareceu na manhã daquele dia. Dois dias depois, a família recebeu a informação de que o corpo havia sido encontrado. A justificativa da morte: o educador teria caído no fosso do elevador do prédio do amigo.
Na época, as circunstâncias do desaparecimento e da morte não convenceram a família e parte da sociedade brasileira. Com o passar do tempo, a tese de que ele foi uma das vítimas da ditadura militar ganhou força.
As investigações feitas pela família, que encaminhou dossiê à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e à comissão instalada na Universidade de Brasília (UnB) - instituição idealizada por Teixeira e da qual foi reitor, em 1963 - apontam novas pistas sobre o que ocorreu efetivamente. Pistas que foram discutidas nesta quarta-feira (28/5) em audiência pública convocada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Na audiência, o ex-deputado e ex-preso político Haroldo Borges Rodrigues Lima, sobrinho de Teixeira, leu trechos de notícias veiculadas na época, entre outros, pelo jornal Última Hora. As matérias tratavam da situação em que foi encontrado o corpo no fosso, da ausência de testemunhas da entrada de Teixeira no prédio e dos sapatos e do paletó que ele sempre usava, mas que não vestia quando foi encontrado. Tudo isso gerou a dúvida, expressa pelos jornais, de que a morte teria sido consequência de perseguição política.
A questão não foi resolvida pelos investigadores, de acordo com o filho do educador, Carlos Antônio Teixeira. “Meu pai foi retirado do local onde foi encontrado sem a presença da perícia. Esse corpo foi retirado sem perícia e simplesmente transportado para o Instituto Médico-Legal [IML]”, recordou.
“Quando [o corpo] saiu da autópsia, todos os presentes tinham o assassinato como principal suspeita. Não tinha como pensar que aqueles traumas teriam sido causados por queda no fosso do elevador”. Como em muitos outros crimes ocorridos durante a ditadura, a situação não foi investigada a contento, na avaliação da família. “Os responsáveis pela investigação se negaram a investigar e admitir que se tratou de crime político”, relatou o filho.
O biógrafo de Anísio Teixeira, João Augusto de Lima Rocha, disse que a chegada do educador até o prédio de Holanda não foi confirmada. “Ninguém o viu saindo da Fundação Getulio Vargas”. Para ele, a investigação da morte deve considerar o possível envolvimento da Aeronáutica, pois, no IML, uma marca da corporação teria sido identificada no braço de Teixeira.
O estudioso contou que recebeu relatos de Afrânio Coutinho, amigo do educador, de que ele havia sofrido ameaças de sequestro. Além disso, o contexto da época fortalece as suspeitas. Tanto Rubens Paiva quanto Stuart Angel desaparecem meses antes de Teixeira, em ações que teriam sido de responsabilidade do brigadeiro da Força Aérea, João Paulo Burnier.
Integrante da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade, Cristiano Paixão afirmou que o grupo teve acessos a documentos de 1965 e 1966 que apontavam Anísio Teixeira como um inimigo do regime, inclusive por parte do militar encarregado de reformar a educação brasileira, general Moacir Araújo Lopes.
Para Paixão, o projeto de educação emancipadora, defendida por Teixeira ia de encontro ao proposto pela ditadura, assim como o que “suas ideias, sua obra, sua fibra e seu espírito poderiam trazer para a sociedade que se tentava construir”. Além disso, segundo Paixão, seria muito nocivo ao regime que o educador chegasse à ABL. “Significava um lugar institucional de fala, de uma fala crítica”, avaliou.
O caso está sendo investigado pela UnB, que tem até o dia 22 de abril de 2015 para concluir seus trabalhos. A CNV também deve incluir mais informações sobre a morte de Anísio Teixeira no relatório final dos trabalhos do colegiado, que deve ser finalizado em meados do ano que vem.

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