ALGODÃO
Algodão colorido orgânico chega à UE
Tinha tudo para ser uma batalha perdida. Mas a produção de algodão orgânico colorido do Brasil dobrou o seu maior inimigo - o bicudo - e chega esta semana ao mercado europeu.
Desenvolvido em Bom Sucesso, no interior da Paraíba, com o apoio da Embrapa, o algodão orgânico colorido é uma experiência inédita no país. A primeira safra, colhida no fim de 2007, totalizou 20 toneladas de pluma nas cores marrom, rubi, verde e branco.
"Muita gente achava uma loucura, mas isso mostra a viabilidade do projeto", diz Maysa Motta Gadelha, presidente da cooperativa CoopNatural, que apresenta o resultado do projeto na Biofach Nuremberg, a maior feira do mundo de alimentos e produtos orgânicos realizada todos os anos nesta cidade da Alemanha.
Ela se mostra orgulhosa e otimista com o futuro. E não sem razão. A produção orgânica proíbe o uso de agrotóxicos, o que poderia ser um tiro no pé no caso do algodão. Isso porque a cultura é extremamente vulnerável ao ataque de pragas, como o curuquerê e o famigerado bicudo, que no passado recente praticamente dizimou lavouras no país.
Com a ajuda da Embrapa, os 40 hectares da Fazenda Santo Antônio tiveram estragos controlados, com apenas 4% de incidência em alguns lotes. Em outros, no entanto, a incidência chegou a 60%. "É uma praga, mas na média o resultado foi bom", afirma Maysa.
Renato Gadelha, dono da Fazenda Santo Antônio e marido de Maysa, diz que um fator-chave para o controle de pragas foi a criação de barreiras de proteção de quatro metros de largura, com plantações de sorgo e gergelim, e a aplicação de caulim (mineral que camufla a planta). Ele também usou óleo de neen, originário da Índia, que exala um odor que afasta o bicudo e outros insetos.
Mas a produtividade é baixa. Enquanto o algodão convencional chega a 3 toneladas de pluma por hectare, o orgânico não conseguiu alcançar 1,5. "Não adianta querermos fazer como o Mato Grosso, onde a produtividade é de 4 toneladas. O orgânico é diferente". Segundo Maysa, a intenção é agregar valor ao produto.
A cooperativa de 31 associados transforma as plumas em peças de vestuário e para casa. Com as sobras de tecidos faz bonecos e bichinhos. A primeira venda à Europa é de 800 peças, entre brinquedos e almofadas. Cada uma custou por volta de R$ 20.
Enquanto ela fala, curiosos circulam pelo estande da cooperativa. "Muitos querem a matéria-prima, o fio de algodão, mas isso nós não vendemos. Quero agregar valor ao algodâo da Paraíba", diz Maysa. Renato, ao seu lado, consente com a cabeça. E diz que terá novidades em breve. Algumas empresas "grandes" do setor varejista estariam interessadas em investir na área plantada com o algodão colorido para aumentar a produção da fazenda.
A partir deste ano, a cooperativa começará a trabalhar com assentamentos de 14 municípios do Estado, o que deverá elevar a área dos 40 hectares para 200.
"Eles são uns heróis", diz Alexandre Harkaly, diretor do IBD, a certificadora do algodão orgânico colorido. "Cerca de 16% dos agrotóxicos consumidos no mundo são aplicados somente no algodão".
A jornalista viajou a convite da Organics Brasil.
Fonte: SEAGRI
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