Paulo Gala / Economia & Finanças - Maus Samaritanos: A Hipocrisia do Livre-Comércio e o Caminho para o Desenvolvimento Econômico
By Paulo Gala
O livro "Maus Samaritanos: O Mito do Livre-Comércio e a História Secreta do Capitalismo", de Ha-Joon Chang, oferece uma visão crítica sobre o livre-comércio e a globalização, argumentando que os países desenvolvidos frequentemente promovem políticas econômicas que beneficiam a si próprios, enquanto restringem o crescimento das nações em desenvolvimento. Chang, economista sul-coreano, desafia as narrativas dominantes sobre o livre mercado e sugere que a história do desenvolvimento econômico das nações ricas contradiz suas prescrições para os países mais pobres.
Principais Ideias do Livro
1. O Conceito de "Maus Samaritanos"
Chang utiliza o termo "Maus Samaritanos" para descrever países ricos e instituições internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que pressionam nações em desenvolvimento a adotarem políticas de livre-comércio, desregulamentação e abertura de mercados. Ele argumenta que esses mesmos países, quando estavam em fases similares de desenvolvimento, usaram medidas protecionistas e intervenção estatal para crescer, mas agora negam essas ferramentas aos países mais pobres.
2. A Hipocrisia do Livre-Comércio
Chang destaca que as nações mais ricas, como os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, não se desenvolveram seguindo os princípios de livre-comércio que defendem hoje. Ele aponta que esses países aplicaram tarifas altas, subsidiaram indústrias estratégicas e promoveram políticas de substituição de importações durante seus períodos de crescimento industrial. No entanto, agora desencorajam essas práticas nos países em desenvolvimento.
3. A Importância da Política Industrial
O autor argumenta que o desenvolvimento econômico sustentável exige políticas industriais ativas, que incluem:
- Protecionismo temporário: Para proteger indústrias nascente de competidores internacionais.
- Subsídios governamentais: Para impulsionar setores estratégicos.
- Transferência de tecnologia: Para acelerar a industrialização. Ele usa o exemplo da Coreia do Sul, seu país natal, que implementou políticas protecionistas nas décadas de 1960 e 1970 para criar conglomerados industriais como Samsung e Hyundai, que mais tarde se tornaram líderes globais.
4. Críticas às Instituições Internacionais
Chang critica instituições como o FMI e o Banco Mundial por impor condições severas aos países em desenvolvimento, como austeridade fiscal, privatização e abertura de mercados. Ele argumenta que essas políticas muitas vezes prejudicam as economias locais, desmantelando indústrias incipientes e perpetuando a dependência econômica dos países pobres.
5. A Ideia de "Competitividade Natural"
Chang rejeita a noção de que os países devem se especializar apenas em setores onde possuem vantagens competitivas naturais. Ele argumenta que a "competitividade" é frequentemente construída por meio de investimentos estratégicos em tecnologia, educação e infraestrutura, em vez de ser determinada unicamente por condições naturais ou históricas.
6. O Papel do Estado no Desenvolvimento
O autor defende que o Estado desempenha um papel central no desenvolvimento econômico. Ele cita exemplos de como governos bem-sucedidos assumiram um papel ativo na orientação de suas economias, promovendo inovação, protegendo indústrias locais e criando infraestrutura básica para o crescimento.
Exemplos e Casos Práticos
Ha-Joon Chang apresenta uma série de exemplos históricos para embasar seus argumentos:
- Reino Unido e Estados Unidos: Ambos adotaram tarifas altas durante o início de sua industrialização.
- Coreia do Sul e Japão: Ambos investiram em políticas industriais focadas em setores estratégicos, protegendo suas economias de competidores globais até que fossem suficientemente fortes.
- América Latina: O autor aponta que as políticas de liberalização econômica promovidas nas décadas de 1980 e 1990 resultaram em crises e crescimento econômico limitado.
Críticas ao Livre-Mercado
Chang argumenta que o livre-comércio e a globalização, na forma como são promovidos, beneficiam principalmente as economias avançadas, enquanto limitam o potencial de crescimento das nações em desenvolvimento. Ele sugere que o desenvolvimento econômico é um processo complexo que exige uma abordagem personalizada e adaptada às condições locais.
Conclusão
Em "Maus Samaritanos", Ha-Joon Chang questiona a narrativa predominante do livre-comércio e da globalização, desafiando os leitores a reavaliar os caminhos para o desenvolvimento econômico. Ele defende que as nações em desenvolvimento devem adotar estratégias ativas, muitas vezes contrárias ao que os "Maus Samaritanos" pregam, para alcançar um crescimento sustentável e reduzir as desigualdades globais. A obra é um chamado à reflexão sobre o papel das políticas econômicas no cenário global e a necessidade de um sistema mais justo e equitativo para todos os países.
Paulo Gala / Economia & Finanças
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