A TARDE: Disputa pelo governo Baiano tem empate, diz pesquisa AtlasIntel
Números confirmam a linha ascendente do candidato petista, que tinha
32,6% na primeira pesquisa realizada em julho - Foto:
Editoria de Arte A TARDE
A disputa
pelo governo da Bahia está completamente indefinida. É o que mostra a nova
pesquisa AtlasIntel, contratada pelo grupo A TARDE, que
aponta empate entre ACM Neto (União Brasil) e Jerônimo Rodrigues (PT), com uma
diferença de apenas meio ponto percentual entre os dois.
Os números confirmam a linha ascendente do
candidato petista, que tinha 32,6% na primeira pesquisa realizada em julho e,
em menos de dois meses e após quatro rodadas de consulta, apresenta um
crescimento superior a 23%, com 40,3 pontos percentuais.
ACM Neto, por sua vez, interrompeu a trajetória de
queda verificada nas pesquisas anteriores, recuperou os 4,1 pontos perdidos
desde julho e surge novamente na liderança com 40,8%, 1,1 ponto acima das
intenções registradas na primeira pesquisa, um avanço de menos de 3%.
O equilíbrio não é tão grande na simulação de
segundo turno. Com os votos de João Roma, que quase na sua totalidade não
migram para Jerônimo, ACM aparece com 47,5% contra 42,9% de Jerônimo, uma
vantagem 0,6 ponto acima da margem de erro de dois pontos percentuais para mais
ou para menos.
Quando a simulação coloca João Roma no segundo
turno, o candidato bolsonarista perde para ambos os líderes da pesquisa, com
21,3% diante de Jerônimo e 19,1% frente a ACM Neto, demonstrando um teto para
as pretensões eleitorais do ex-ministro da Cidadania.
Segundo
turno
O equilíbrio demonstrado nos números consolidados
se reproduz também nos recortes demográficos, com algumas peculiaridades. Em
Salvador, por exemplo, onde seria de se esperar uma performance destacada do
ex-prefeito que governou a cidade por oito anos e elegeu o sucessor, ACM Neto e
Jerônimo também empatam na margem de erro, com 44,2% do candidato do União
Brasil contra 42% de Jerônimo.
O petista lidera na região de Ilhéus e Itabuna e,
em Vitória da Conquista tem quase o dobro das intenções de voto de ACM Neto
(54% x 27,9%). Outro dado verificado pela pesquisa é que quanto maior a
escolaridade, melhor o desempenho de Jerônimo, que lidera entre os eleitores
com ensino médio (43,1%) e superior (44,4%).
Desconhecimento
Para Andrei Roman, cientista político e
executivo-chefe da AtlasIntel, a recuperação de ACM Neto deve ser vista como um
movimento de migração e não de conquista de eleitorado, uma vez que Jerônimo
pontuou agora melhor que na última aferição, em agosto.
“Basicamente,
o ACM recuperou o eleitorado de Bolsonaro que, percebendo que Roma não está
avançando, prefere mudar o voto para reduzir as chances de vitória de Jerônimo.
Praticamente tudo que ACM ganhou nessa pesquisa veio de João Roma”, diz Roman.
Em contrapartida, o início da campanha no rádio e
TV não produziu o efeito esperado pelos apoiadores de Jerônimo. O candidato do
PT, que não era muito conhecido do eleitorado, não chegou a ampliar de forma
significativa sua popularidade, mesmo percorrendo diversas cidades e se
apresentando como o candidato do ex-presidente Lula.
Na primeira consulta realizada pelo AtlasIntel, em
julho, 23,3% dos respondentes diziam conhecer bem Jerônimo. Hoje, são 28%, um
crescimento de 4,7 pontos em quase dois meses, sendo um deles com exposição
diária nas emissoras de rádio e TV.
Por outro lado, o petista era desconhecido de 43,7%
dos eleitores e atualmente 39% ainda não sabem quem é o candidato apoiado por
Lula, pelo governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner. A variação idêntica
em pontos percentuais confirma o avanço inexpressivo de Jerônimo sobre uma
parcela considerável dos eleitores.
Para
Andrei Roman, no entanto, essa variação pode esconder uma dinâmica do próprio
eleitor, que já fez sua escolha mas prefere recorrer ao desconhecimento para
justificar sua opção. “Quem não vota no Jerônimo alega não conhecê-lo e, mesmo
o conhecendo cada vez mais, continua declarando que desconhece”, avalia o
cientista político.
Senado
Se a disputa pelo governo está acirrada, os números
da AtlasIntel mostram um cenário completamente diferente na corrida pelo Senado
Federal. Otto Alencar (PSD) candidato à reeleição na chapa liderada por
Jerônimo, nada de braçada com 50% das intenções de voto, mais de três vezes o
percentual da segunda colocada, Raissa Soares (PL), candidata bolsonarista, que
ostenta 14,6% da preferência dos eleitores.
Cacá Leão (PP), candidato de ACM Neto, aparece
apenas com 11,9%, numa clara inversão do cenário de intenções de voto para
governador, que mais uma vez reforça o peso de um nome conhecido, como o do
senador Otto, que, além da longa trajetória política teve grande exposição na
CPI da Covid-19.
Exposição que se traduz na liderança de Otto em todos os estratos verificados pela pesquisa. Otto lidera com folga em todas as faixas de idade, renda, escolaridade, gênero, religião e em todas as regiões pesquisadas.
Outro dado que chama a atenção é a penetração do
senador no eleitorado dos presidenciáveis, superior ao do candidato Jerônimo
Rodrigues. Dos eleitores que votam em Ciro Gomes, 51,9% votam em Otto, e 20,3%
em Jerônimo.
O candidato do PSD vai melhor também no eleitorado
de Lula, com 68,7% dos eleitores do ex-presidente, enquanto Jerônimo tem 61,5%.
Essa performance, segundo Andrei Roman, permite dizer que a eleição para o
Senado na Bahia já está resolvida.
Presença
de lideranças bem avaliadas se torna diferencial
Numa eleição verticalizada e marcada pela
polarização, a presença de lideranças reconhecidas e bem avaliadas pelo público
se torna um diferencial capaz de definir o pleito. O ex-prefeito de Salvador,
ACM Neto, que tem procurado evitar associações com presidenciáveis, aproveita a
popularidade acumulada como gestor e traduzida em 58% de avaliação de imagem
positiva.
O principal contraponto é o governador Rui Costa
(PT) que, com seus 59% de aprovação e no exercício do mandato, tem sido um dos
principais cabos eleitorais de Jerônimo, que conta ainda com Otto Alencar (49%
de imagem positiva) e Jaques Wagner (37%), além de desfrutar, ele próprio de
uma avaliação positiva de 41% do eleitorado.
Final
acirrado
“A corrida da Bahia tem todos os ingredientes para
um final acirrado, de grande emoção. Do lado do Jerônimo, ainda existe um
excelente potencial de converter eleitores do Lula que hoje ainda não o conhecem
e, por conta disso, acabam optando por ACM”, avalia Andrei Roman.
Até por isso, ACM Neto tem evitado se associar a um
ou outro presidenciável, embora tenha maior penetração no eleitorado
bolsonarista. A pesquisa já demonstra, ainda que de forma tímida, a adesão de
eleitores de João Roma a ACM Neto. Em contraponto, Jerônimo, até o momento, não
consegue avançar no eleitorado do ex-prefeito de Salvador.
Quando analisadas as intenções de voto para
governador e presidente, ACM Neto tem 32,7% dos votos de Lula e 48,6% dos
eleitores de Bolsonaro. No mesmo cruzamento, Jerônimo tem 61,5% dos eleitores
de Lula e 0,3% dos eleitores bolsonaristas.
A migração de Roma para ACM Neto ainda no primeiro
turno pode representar um movimento de antipetismo, para evitar um segundo
turno onde a disputa Lula x Bolsonaro ficaria mais acirrada. “Parecia que
o ACM estava muito forte, ia ganhar no primeiro turno, não existia competição
real. À medida que Jerônimo se fortalece, com a convergência das outras
pesquisas ao que a Atlas já vinha detectando, existe uma tendência muito clara
do eleitor de Roma de apoiar ACM”, avalia o cientista político.
E
complementa: “O eleitor de Roma defende abertamente os valores propagados por
Bolsonaro, enquanto a estratégia de ACM mantém a ambiguidade. Por isso ele não
participa de debates, não se apresenta com clareza ao eleitor. Assumir posições
tem um custo político”.
Lula
lidera com mais do dobro dos votos
Se na disputa pelo governo estadual o equilíbrio e
a indefinição dão a tônica, quando o assunto é o próximo presidente do Brasil,
a Bahia já decidiu. O ex-presidente Lula (PT) lidera com mais do dobro dos
votos do principal concorrente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que recuou
três pontos em relação à última pesquisa AtlasIntel/A TARDE.
A liderança de Lula se mantém no mesmo patamar, com
variações inferiores a 2%, sempre acima dos 60 pontos. O petista lidera entre
homens (55,9%) e mulheres (70,4%), em todas as faixas de idade, renda,
instrução, em todas as regiões pesquisadas e entre adeptos de todas as
religiões.
Segmentos
“No contexto da Bahia, Lula está melhor em todos os segmentos, inclusive entre os evangélicos, A Bahia é um estado onde o petismo sempre foi forte”, contextualiza Andrei Roman, executivo-chefe da AtlasIntel e responsável pela pesquisa.
O único cenário em que Bolsonaro consegue alguma
projeção a ponto de se aproximar de Lula é entre os que ganham mais de R$ 10
mil por mês. “Esse índice reproduz uma parcela de público consolidada em torno
do Bolsonaro nessa faixa de renda em todo o Nordeste”, explica Andrei Roman.
Fora da disputa, os candidatos da chamada terceira
via patinam. Simone Tebet saiu de 2 para 0,8 ponto percentual e Ciro oscilou de
5,1 para 5 pontos.
À medida em que a eleição se aproxima, o desempenho
pífio da terceira via abre espaço para a adoção do voto útil, antecipando
uma escolha que só ocorreria num eventual segundo turno.
Arrependidos
“Boa parte dos eleitores de esquerda querem apenas
derrotar Bolsonaro”, acredita Andrei. E entre eles, encontram-se também alguns
arrependidos.
A pesquisa mostra que 12,4% do eleitorado que votou
em Bolsonaro em 2018 hoje declara voto em Lula, assim como a maior parte
(57,9%) do eleitorado que votou em Ciro no primeiro turno da eleição passada.
Migração
“A migração de votos de Bolsonaro para Lula mostra a desaprovação de eleitores que se encantaram com o discurso de Bolsonaro e hoje desistiram de apoiá-lo. É um eleitor mais educado e com renda acima da média”, detalha Andrei.
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