Dr. Ruy: Poema do Isolamento
No tempo da quarentena
O sentimento recluso
O pensamento tão intruso
Aflora se no poema
Abraço, cheiro e carinho
Querendo construir um ninho
Que rompesse com o sistema
Todo dia, um maluco
Travestido de gerente
Incomodava toda gente
Com seu discurso caduco
Perdido na tempestade
Já não via que era tarde
Pra seu vigor, eunuco
Palavras vazias, sem nexo
Compunham o vocabulário
Tiradas de um dicionário
Sem veia, sem cérebro, sem plexo
Espalhava perplexidade
Em campos, vilas, cidades
Um método vil, complexo
Misturava o bem e o mal
Família e armas de fogo
Tudo num perfeito jogo
Deboche, violência e moral
Deus brincando com o demônio
Verdadeiro pandemônio
Num teatro infernal
Agredindo a enciclopédia
Bem em frente ao palácio
Sob olhares beneplácitos
Dos atores da comédia
Fanáticos, loucos e cegos
Encharcando almas e egos
O cenário da tragédia
Gritos, palavrões do dia
Ameaças de rupturas
Os corpos, às sepulturas
Que importa a pandemia
Misturem se nas esquinas
Se curem com cloroquina
Sabe nada a academia
Não, não quero mais falar
De golpe e generais
Tortura ou marechais
País, mães e irmãos a chorar
Quero meu país de volta
Sem medo, horror ou escolta
Caminhar, sorrir e amar
Aqui, num canto de rua
Num banco qualquer de feira
Sentado em uma cadeira
Sob o olhar atento da lua
Busco seu sono, sereno
Meu povo, de busto moreno
A pátria que é minha e sua
Então, fica perto de mim
Quero sentir seu perfume
Sem choro, espinhos ou ciúme
De cravos, rosas, jasmins
Agora somos nós e o céu
Estrelas cobrindo com um véu
E o canto dos querubins
Ruy Azevedo- maio de 2020
Guanambi- Ba
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