Redação do Enem aborda manipulação de usuários na internet

CARTA CAPITAL 

por Deutsche Welle — publicado 04/11/2018 21h13, última modificação 04/11/2018 21h35
Entre os textos usados para reflexão, figurava o artigo "A silenciosa ditadura do algoritmo", de Pepe Escobar, publicado por Carta Capital
Compartilhar no Facebook
Tweet
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Google+
Valter Campanato/Agência Brasil
Estudantes
Estudantes chegaram cedo para realizar a prova em uma universidade de Brasília
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018 foi "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet", informou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova.
Mais de 5,5 milhões de estudantes estão inscritos para a realização do exame em mais de 1,7 mil municípios. Este domingo 4 é o primeiro dia de provas, quando, além da redação, os candidatos respondem a 45 questões de linguagens e outras 45 de ciências humanas.
O texto da redação deve ser dissertativo-argumentativo, com opinião fundamentada com explicações e argumentos em até 30 linhas. Os candidatos desenvolvem o texto a partir de uma situação-problema, bem como subsídios oferecidos por textos motivadores.
Segundo o portal G1, entre os quatro textos motivadores apresentados neste ano, dois abordam diretamente a questão de algoritmos: "A silenciosa ditadura do algoritmo", de Pepe Escobar e publicado por CartaCapital, e "O gosto na era do algoritmo", escrito pelo jornalista Daniel Verdú, do jornal El País.
Segundo professores de redação consultados pela Agência Brasil, o tema da redação neste ano é complexo, mas atual, tendo sido trabalhado em muitas escolas.
O assunto veio à tona principalmente depois da eleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2016, quando dados de milhões de usuários do Facebook foram usados pela consultoria britânica Cambridge Analytica para desenvolver técnicas de direcionamento de informações que teriam beneficiado a campanha do republicano.
A professora de redação Carol Achutti, do curso online Descomplica, lembra que o tema foi intensamente observado também nas últimas eleições no Brasil. "É uma inovação. Colocaram um dedinho na ferida. Por isso achei importante levantar essa discussão."
Segundo Achutti, a escolha tem um caráter diferente dos anos anteriores. "O recorte escolhido é quase político. Não é social como estamos acostumados", afirma. Em edições passadas, a redação abordou temas como imigração, Lei Seca, violência contra a mulher, intolerância religiosa, racismo e, no ano passado, formação educacional de surdos no país.
A professora alerta, porém, para o risco de os estudantes confundirem manipulação de dados na internet com propagação de notícias falsas, as chamadas fake news – que podem ser mencionadas na argumentação, mas não entendidas como tema central da redação.
Achutti afirma que o texto dos candidatos poderá argumentar sobre questões mundiais, como as eleições americanas, bem como sobre marketing dirigido nas redes sociais. "Quem for muito partidário e se inflamar pode ser parcial e tangenciar o tema", adverte.
Por sua vez, Tatiana Nunes, professora de redação e língua portuguesa do Colégio Mopi, no Rio de Janeiro, diz que o tema era "mais do que aguardado" neste ano. Para ela, a abordagem escolhida foi "muito bem feita, mas bastante delicada". "O estudante terá de estar bem preparado para fazer essa leitura crítica do que está sendo pedido no tema."
Coordenador pedagógico do Vetor Vestibulares, Rubens César Carnevale alerta que, ao escrever sobre o assunto, o estudante precisa ter cautela para não fugir de discussões atuais e não usar informações falsas na hora de argumentar.
"Os candidatos precisam tomar cuidado com aquilo que chamamos de coerência externa. O aluno que citar alguns dados e fatos que não sejam pertinentes ao contexto e que não sejam verdadeiros poderá perder pontos", aponta ele, que foi corretor da redação do Enem por três anos consecutivos, de 2014 a 2016.
Enem 2018
A prova deste domingo começou a ser aplicada às 13h30 (no horário de Brasília), e a maioria dos participantes tem 5 horas e 30 minutos para terminá-la – com exceção de candidatos que têm direito a tempo adicional, como deficientes auditivos.
Os primeiros alunos a deixarem o local de prova relataram ao jornal O Globo que as 90 questões de ciências humanas e linguagens abordaram temas como feminismo, nazismo, escravidão, o golpe de 1964 e a crise de refugiados.
O exame segue no próximo domingo, dia 11 de novembro, quando os estudantes terão de responder a questões de ciências da natureza e matemática.
A nota do Enem poderá ser usada para concorrer a vagas no ensino superior público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a bolsas em instituições privadas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), bem como para participar do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Governo vai construir 31 sistemas de abastecimento em municípios das microrregiões do Vale do Paramirim e do Algodão