EUA - Mulheres dão aos democratas o controle da Câmara

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Elas marcharam, correram e no dia da eleição venceram. As mulheres lideraram as vitórias e as surpresas inesperadas nesta terça-feira (6) e ajudaram aos democratas a conquistar o controle da Câmara dos Representantes.

Por Susan Chira e Kate Zernike

  
Foi o auge de dois anos de raiva, frustração e ativismo de mulheres impactadas com a eleição e a presidência do republicano Donald J. Trump. 

As mulheres participaram de grupos de base determinadas a reconquistar o controle democrata sobre a Câmara, e lotaram organizações que as prepararam para concorrer aos cargos. Como candidatas, elas quebraram regras e derrotaram a sabedoria política convencional. 

Como ativistas, expandiram a definição das questões femininas para além da educação e dos direitos reprodutivos, incluindo assistência médica, imigração, violência armada e proteção do meio ambiente.

Rashida Tlaib e Ilhan Omar são as primeiras muçulmanas eleitas para o Congresso dos EUA

Foi uma série de conquistas históricos, a maioria deles por democratas: em Massachusetts, Ayanna Pressley se tornou a primeira negra na bancada congressista de seu estado. Rashida Tlaib, em Michigan e Ilhan Omar, em Minnesota serão as primeiras muçulmanas no Congresso. Sharice Davids derrubou um republicano no Kansas e Deb Haaland prevaleceu no Novo México, tornando-se as primeiras indígenas eleitas para o Congresso. No Tennessee, Marsha Blackburn, uma republicana, tornou-se a primeira mulher do estado eleita para o Senado.

Mas várias mulheres proeminentes também foram derrotadas - a senadora democrata Claire McCaskill perdeu para o republicano Josh Hawley no Missouri. A democrata Amy McGrath perdeu uma disputada apertada em Kentucky, e a senadora democrata Heidi Heitkamp não foi reeleita em Dakota do Norte. A democrata Stacey Abrams, da Geórgia, que esperava se tornar a primeira mulher negra do país a ser eleita governadora, perdeu para seu oponente republicano, Brian Kemp.

A Pensilvânia, que não tinha nenhuma mulher em sua bancada federal de 21 membros, agora terá quatro: Mary Gay Scanlon, Chrissy Houlahan e Susan Wild, além de Madeleine Dean, que também foi eleita.

Duas mulheres ajudaram os democratas a conseguir assentos na Flórida: Debbie Mucarsel-Powell e Donna Shalala, integrantes do gabinete do ex-presidente Bill Clinton. A democrata Houlahan foi uma das quatro veteranas e recém-chegadas políticas a ser eleita, na companhia de Mikie Sherrill, em Nova Jersey e Elaine Luria e Abigail Spanberger, na Virgínia. Lauren Underwood, em Illinois, levaram os democratas a outra vitória inesperada.

"Peço-lhe que trabalhe para um futuro melhor muito depois desta noite", disse Sherrill diante de uma multidão que incluiu dezenas de mulheres que passaram meses na campanha. "As milhares de mulheres que estão prontas para se juntar a mim para garantir que tenhamos um futuro melhor para nossos filhos, para Nova Jersey e para os Estados Unidos da América."

Ela contou como perguntara a sua filha Maggie, a mais velha dos seus quatro filhos pequenos, se ela estava “O.K. com isso”, e sua filha disse: “Se você não correr, quem vai?' ”

Era impressionante considerar até que ponto as mulheres haviam chegado desde as marchas das mulheres em todo o país no dia seguinte à posse do presidente Trump. Mulheres como Sherrill e Davids marcharam e suas vitórias pareciam garantidas no dia da eleição.

Nancy Pelosi, deputada do Partido Democrata
Com uma maioria democrata na Câmara, as mulheres terão mais poder institucional - espera-se que a deputada Nancy Pelosi vença o desafio de se tornar novamente líder e a única mulher a ocupar esse posto. A deputada Nita Lowey, democrata de Nova York, presidiria o Comitê de Apropriações, e Maxine Waters, democrata da Califórnia, presidiria o Comitê de Serviços Financeiros.

A energia entre as mulheres democratas tornou mais difícil para as mulheres republicanas emergirem como candidatas.

E na primeira grande derrota da noite dos republicanos, Barbara Comstock perdeu por ampla margem para uma democrata, Jennifer Wexton, nos subúrbios da Virgínia. 
Segundo dados contados pelo Centro de Mulheres e Política Americanas, 428 mulheres concorreram ao Congresso ou ao governo como democratas, em comparação com 162 republicanas. 

As republicanas tinham seus próprios problemas, entre eles a repercussão do movimento #MeToo. Segundo Kelly Dittmar, cientista política da agência de Rutgers, a onda de mulheres mudou a política americana.

"Para algumas mulheres, isso significava não esperar a sua vez", disse ela. “Para outras, isso também significava concorrer de uma maneira que adotasse o gênero e a raça como um trunfo para a candidatura e a manutenção de escritórios, em vez de um obstáculo que precisam superar para ter sucesso no mundo da política eleitoral masculino."

Este ciclo ocorreu de forma diferente, ignorando o velho conselho para as candidatas, o de falarem sobre seu currículo e fingir que não tem vida pessoal. Em vez disso, elas apresentaram seus filhos em anúncios, ofereceram testemunho pessoal sobre assédio e abuso sexual e se abriram sobre as lutas familiares contra o vício em drogas e a dívida, para se conectarem com muitos americanos com os mesmos problemas.

Mulheres quebraram recordes e abriram precedentes. Um terço das mulheres eleitas para a Câmara são negras. Um número recorde de mulheres enfrentou outras mulheres, do Arizona a Nova York. Ayanna Pressley, em Massachusetts, e Alexandria Ocasio-Cortez, em Nova York, estavam entre as mulheres que derrotaram homens brancos veteranos nas primárias do partido e se elegeram nesta terça-feira (6).

As candidaturas de Sherrill, McGrath e Katie Hill, que concorriam a vagas na Câmara dos Deputados na Califórnia, arrecadavam quantias espantosas, embora as mulheres ainda ganhassem menos, em média, do que os homens. E as mulheres desempenharam papéis maiores como doadores, dando 36% mais dinheiro para campanhas do Congresso do que em 2016.

A campanha eleitoral de 2018 levantou novas questões sobre gênero e poder que poderiam afetar o resultado de terça-feira para o número recorde de mulheres que buscam o cargo. Aqui estão algumas dessas questões que podem reformular a sabedoria convencional sobre mulheres e política.


O aumento do ativismo político na era Trump trouxe muito mais homens concorrendo a cargos públicos, e muitas das candidatas eram democratas que concorriam em distritos que eram gerrymandered (isto é, manipulados), ou garantiam votos de republicanos. Na Flórida, duas adversárias, Lauren Baer e Mary Barzee Flores, perderam para os republicanos.

Apesar de ser mais da metade da população e dos eleitores, as mulheres ainda eram menos de um terço de todos os candidatos para o Congresso, para governadores e outros cargos executivos estaduais.

As mulheres candidatas a governador, de Idaho ao Texas e ao Maine, enfrentaram os obstáculos mais íngremes de todos. Vinte e dois estados nunca elegeram uma mulher governadora. Seis estados têm governadoras agora. Gretchen Whitmer foi eleita governadora no Michigan, Laura Kelly no Kansas e Michelle Lujan Grisham no Novo México.

Em uma temporada política em que o descontentamento com Washington é alto, muitas mulheres esperam que sua falta de credenciais políticas tradicionais aumentem suas chances: Jahana Hayes, uma ex-professora, foi uma vencedora surpresa de uma primária democrata em Connecticut e na terça-feira (6) tornou-se a primeira mulher negra do estado eleita para o Congresso.

As eleições também levarão uma geração mais jovem a Washington: Ocasio-Cortez, assim como Abby Finkenauer, uma democrata que concorreu a uma vaga na Câmara em Iowa, estão na faixa dos 20 anos de idade.

O presidente Trump foi eleito pelo maior hiato de gênero registrado, e as mulheres se moveram ainda mais para a esquerda durante os dois primeiros anos de sua presidência, mesmo quando os homens gravitaram em torno do Partido Republicano.


Em uma pesquisa da Gallup em setembro, enquanto os homens favoreciam os republicanos contra os democratas, de 50% a 44%, as mulheres preferiram os democratas em 58% a 34%. Essa divisão de 24 pontos aumentou de oito pontos em junho. No início deste ano, uma pesquisa da Pew mostrou que 70% das mulheres da geração Y (jovens nascidos, segundo alguns, desde 1980, e segundo outros, desde 2000) se filiavam ou se inclinavam aos democratas, contra 56% há quatro anos. 


Fonte: The New York Times. Tradução: José Carlos Ruy

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