Belluzzo: Governo Temer é ilegítimo e retrocesso custará caro
PORTAL VERMELHO
Para o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff significa “uma ruptura nas normas de convivência democrática e, sobretudo, uma atrocidade contra a soberania do sufrágio universal”. Nesse sentido, avalia Belluzzo, o governo do vice Michel Temer será “ilegítimo”, e o país viverá um período de “confusão e turbulência”, que lhe “custará muito caro”.
Por Joana Rozowykwiat
No dia em que o Senado vota a admissibilidade do pedido de impeachment, Belluzzo pediu desculpas à reportagem pela “dureza” das declarações. E reforçou: “Se aqui houvesse coragem para a desobediência civil... Eu, por exemplo, não vou mais pagar imposto, porque acho que o governo é ilegítimo, não tem a chancela da soberania popular. Não é possível, é ilegítimo”, afirmou.
Questionado sobre os impactos dessa ruptura na economia, ele declarou que ainda é cedo para fazer análises, uma vez que nem o próprio Temer saberia ainda que medidas tomar – “Uma hora diz uma coisa, outra hora diz outra”, opina. Belluzzo, contudo, previu um período de grandes dificuldades para o país.
“Isso é uma trapalhada. (...) Pode ter um período de graça, que vai ser seguido de uma sucessão de períodos de turbulência, de inquietação. Essa interrupção de um governo democrático é muito grave. Como você acha que a economia vai ficar bem se as pessoas estarão inquietas? O negócio da legitimidade é seríssimo”, defendeu.
De acordo com o professor, Michel Temer deverá implementar uma série de reformas “desagradáveis” e antipopulares, como a trabalhista, a previdenciária e tributária. “Vejo período de enorme confusão no futuro (...). Ele vai ter que passar as reformas e vai ter muita oposição, não falo nem do Congresso, mas de uma parte da população que será atingida. Isso é muito grave”, avalia.
O economista destacou que as “medidas dolorosas” a serem implementadas vão prejudicar o povo. “Sempre que eles falam que vão ter que tomar medidas duras são contra quem? A sociedade é formada de interesses contrapostos, que precisam ser mediados, negociados e o que eles estão fazendo é romper com as regras. Essa é a questão central. O efeito sobre a economia pode ser até favorável no início, mas depois vai começar a aparecer essa insuperável realidade, que é a da não convergência dos interesses”, disse, defendendo que tal convergência só é possível na “negociação democrática e através de instituições legítimas”.
Segundo Belluzzo, “a reputação do Brasil está muito rebaixada” diante do atropelo à democracia. “Não é bom o que isso que está acontecendo. Vai nos custar muito caro. É um retrocesso grave. A gente achou que a democracia estava consolidada que ia avançar, mas é uma ilusão, como disse um amigo meu. Não está”, lamentou.
Prevendo um cenário de “agudização da luta social”, ele teceu críticas ainda à proposta de desvinculação dos gastos constitucionais com Saúde e Educação – algo que integra a plataforma do PMDB, Ponte para o Futuro, e tem sido apontado como uma das ações para um provável governo Temer.
“O que vai acontecer? Conhecendo o Congresso como ele é, isso vai virar emenda parlamentar. Vão passar a mão no dinheiro [da desvinculação]. Só um bobo acha que vão desvincular para melhorar a qualidade do gasto. Até porque não tem mais dinheiro para campanha eleitoral. Vai ser uma ponte aqui, um buraco ali, tudo com o dinheiro da Saúde e da Educação”, condenou.
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