Turismo insustentável degrada santuários ecológicos
FONTE: BAHIA.BA
O Brasil está no topo dos países mais biodiversos
do mundo, mas apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros atendem a
requisitos considerados sustentáveis
Liliana Peixinho
Lixo às margens do Rio Paraguaçu, na Bahia (Foto: Liliana Peixinho)
Lindos e diversos são os roteiros ecoturísticos na Bahia, no Nordeste,
no Brasil. Múltiplas têm sido as formas de degradação e exploração estradas
afora, caminhos adentro. A desarmonia entre Homem e Natureza reforça a
necessidade do cuidado com a vida. As pessoas fogem dos grandes centros
urbanos, insustentáveis, para tentar se encontrarem consigo mesmos, em essência
de vida, longe do trânsito caótico, da violência, da correria estressante do
cotidiano. Mas o campo, o sitio, a roça, a praia, um refúgio qualquer com
sossego, água fresca, sombra e paz, está cada dia mais difícil. Os problemas
também se movimentam, entre um espaço e outro.
Especulação imobiliária, turismo sexual, exploração de mão de obra
nativa, degradação dos ecossistemas, em trilhas e roteiros ecoturísticos
caminham na contramão do turismo sustentável. A harmonia, o equilíbrio, a
preservação da beleza e potencial natural continuam dependentes de ações que
não saem do papel. O comportamento humano anda acelerado com a revolução
tecnológica e isso aumentou o fluxo de pessoas pela Terra. De acordo com o
Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o Brasil movimentou quase R$ 500
bilhões, entre atividades diretas, indiretas e induzidas. Para especialistas da
área, o país poderia aumentar ainda mais essas receitas se os roteiros fossem
mais atrativos ao desenho do cenário sustentável.
Para ser classificado como sustentável o destino deve atender a
requisitos de práticas políticas com ações transversais que levem em conta,
sobretudo, a comunidade local, observando a preservação da riqueza do lugar,
com resgate e valorização das tradições e raízes culturais, da identidade, do
emprego e renda, realmente inclusivos, e não maquiadas em subemprego ou
empregos temporários, que mais exploram que valorizam a mão de obra. Sistema
perverso que alimenta demandas estimuladas por pacotes e campanhas
publicitárias que seduzem, encantam, sem o compromisso de garantir estruturas
para o bem-estar de quem chega e de quem recebe. Variável social que envolve
ações de comunicação, articulação e mobilização, com pesquisas, levantamento de
dados, registros fotográficos, depoimentos, questionários, entrevistas, entre
outras ferramentas da comunicação. Ações que fortaleçam o que especialistas
chamam de modelo de “desenvolvimento endógeno”, com mobilização social, participação
comunitária, estímulo ao potencial empreendedor, inclusão social e,
conseqüentemente, desenvolvimento da comunidade local.
Embora o Brasil esteja no topo dos países mais biodiversos do mundo,
estima-se que apenas 10% dos destinos turísticos brasileiros estejam próximos
de atender a requisitos considerados sustentáveis. Segundo informações do
Conselho Nacional de Turismo, a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e Bonito,
no Mato Grosso do Sul, são os modelos mais próximos do que poderíamos chamar de
um cluster de turismo, por atender pré-requisitos de práticas sustentáveis como
uso de tecnologias limpas e alternativas, preservação de ecossistemas e modelo
de gestão compartilhada entre Estado, empresas e comunidade local.
Trilhas em parques nacionais, unidades de conservação, praias
paradisíacas, cachoeiras, banhos de rios, e um sem fim de cenários ricos e
belos, potencializados em cartões-postais, comerciais de TV, revistas e sites
especializados enchem os olhos e a imaginação das pessoas, carentes de vida em
paz. O resultado dessa propaganda massiva gerou demandas além da preparação
desses destinos. Sustentabilidade é muito mais que a preservação de animais e
florestas, requer a preservação do patrimônio histórico e cultural e
principalmente, das populações anfitriãs.
Quem chega de fora com referências em cuidado tem exigências sobre o
impacto nos ecossistemas e educado, não quer compactuar com o jeito sem cuidado
nosso de ser. Sem critérios rígidos, o Brasil perde em credibilidade,
confiança. Exemplo emblemático de turismo insustentável está no berço do
Brasil: Porto Seguro. Ávido por mostrar suas belezas, o município cresceu de
forma desordenada e agora sofre com a ”favelização”. As pousadas mantidas por
moradores perdem espaço para o capital estrangeiro, onde a especulação
imobiliária devasta, desmata, degrada antigos santuários ecológicos, como
Trancoso, Arraial d’Ajuda e Prado. E do Sul da Bahia o modelo ganhou em
destinos como Itacaré, Barra Grande, Morro de São Paulo, Boipeba, Ilha de
Itaparica, Litoral Norte e até sertão adentro, onde a paz catingueira deu lugar
ao faz de conta que se diverte.
Liliana Peixinho – Jornalista, MBA em Turismo e
Hotelaria, especialista em Jornalismo Cientifico e Tecnológico. Fundadora do
Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, autora do livro virtual “Por um Brasil
Limpo”.
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