WALDECK ORNÉLAS - UMA CHANCE PARA A BAHIA

Bahia Econômica



Há males que vêm para bem. A falta de viabilidade atual, por conta das dificuldades conjunturais da Bamin, leva o governo federal a estudar a integração da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) com a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), para assegurar a viabilidade da primeira e, assim, poder interessar a grupos privados numa etapa futura do programa de concessões.

As dificuldades do projeto Bamin certamente serão superadas. Empresas trocam de dono e conjunturas negativas de preço se alteram ao longo do tempo. Ainda assim, a integração FICO-FIOL é estratégica e indispensável, para a Bahia, o Nordeste e o Brasil.

É preciso, no entanto que o governo do Estado esteja atento para que a mudança de traçado não venha a descartar a ligação com o Oeste baiano. A prioridade tardiamente atribuída pelo Ministério da Agricultura ao MATOPIBA – trinta e cinco anos depois que a Bahia lançou o programa de Ocupação Econômica do Oeste – cria a oportunidade para que se busque, a curto prazo, duplicar ou triplicar a produção de grãos no Estado, construindo a viabilidade do trecho, sem depender de terceiros.

Para isto será necessário um novo ciclo de investimentos públicos de porte significativo no Oeste baiano, repetindo o que foi feito, na década de 90, por meio do programa de corredores rodoviários, financiado pelo BID. Com base nele foram construídas as ligações Correntina-BR-020 (Divisa BA-GO), a rodovia São Desiderio-Roda Velha – ambas com mais de 100km de extensão– e a ligação Formosa do Rio Preto-Coaceral, entre outros. Aliás, todos esses trechos, extensos para os padrões baianos de construção de rodovias, se estendem, cada um, ao longo do interior de um só município.

Há demanda reprimida também na área de energia, requerendo investimentos urgentes por parte da concessionária. Além da capacidade dos produtores locais, as cooperativas paranaenses, consolidadas e capitalizadas, mas sem novas fronteiras a ocupar no seu próprio estado, adotaram a política de expandir sua presença para fora do Paraná, dando ênfase a São Paulo e ao Mato Grosso do Sul. É preciso ir buscá-las. Afinal, desapropriados por Itaipu, foram paranaenses os primeiros “gaúchos” por aqui.

A integração FICO-FIOL, por outro lado, abre a perspectiva de uma ampla retomada do desenvolvimento da Bahia. É uma decisão – e um momento – crucial para a nossa economia estadual, com reflexos positivos para todo o Nordeste, porque desconcentra a economia nacional, independente de qual seja o desfecho da Ferrovia Transcontinental, também chamada bioceânica.

Nesse caso, a Bahia precisará mirar, além do Porto Sul, a implantação de um porto de águas profundas no interior da Baía de Todos os Santos – pela importância do seu entorno urbano-industrial – uma proposta que vem crescendo nos meios técnicos, ainda sem manifestação do Poder Público, para que aqui aportem os navios de grande porte que hoje em dia já singram os mares.

A presença do Porto do Açu, no Rio de Janeiro, legado do império X, é fator que tem pesado para que a FICO tenha como destino final o Centro-Sul do país, concentrando ainda mais a economia nacional e agravando as deseconomias que a região começa a apresentar de forma acentuada, com perdas públicas e privadas. 

Uma visão de planejamento e de futuro do país sem dúvida fará com que, ainda que o rumo Sudeste seja mantido, a FICO venha a ter um ponto terminal em mares baianos, resgatando a vocação histórica da Baía de Todos os Santos e da cidade de Salvador como um dos principais portos do Atlântico Sul.

Waldeck Ornélas
Especialista em planejamento urbano-regional, ex senador da República, ex ministro e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.
 

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