Opinião: Manifestações dão sinais de terem chegado a um limite, diz analista da FGV

A Tarde
Ana Fernandes
As manifestações de rua deste domingo, 16, dão sinais claros de que esse tipo de protesto está chegando a um limite de potencial. A avaliação é do cientista político Francisco Fonseca, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele avalia que os três principais grupos Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados Online mostraram uma capacidade de envolver mais diretamente as classes média e média alta e não mostraram habilidade para desenvolver uma pauta propositiva, o que leva a limitações "endógenas" dessas passeatas.

"As manifestações até agora foram só o 'não', 'não quero a presidente', 'não quero o PT', mas qual é o projeto? Esse não veio, o que mostra uma completa contradição do que esses grupos expressam em termos de renovação política", avalia Fonseca. O professor vê como positivo o enfraquecimento desses grupos dada essa falta de proposição política para o País, com expressões de ódio e, no limite, abrindo espaço para pedidos de retorno da ditadura. "É o usar da democracia para acabar com a democracia. O descontentamento com um governo não precisa ser assim. A proposta política não precisa ser feita com ódio, mas com proposição, com debate de ideias, não com o objetivo de desrespeitar e exterminar o outro."

Ainda que menores que o 15 de março e com resultado mais fraco que o esperado pela oposição e por setores da mídia, que segundo o professor ajudaram a dar destaque para as manifestações, elas tiveram sim expressão e ainda inspiram cuidados ao governo. "O arrefecimento dessas manifestações é um bom sinal pro governo e pra sociedade, mas o fato é que houve manifestações relevantes pelo País e isso é um fato político."

O professor avalia que o caminho do impeachment, no atual contexto e patrocinado pelos grupos que estão indo às ruas, seria muito ruim para o País. A seu ver, não seria possível no cenário de hoje haver o impedimento de Dilma sem haver um clima golpista que lembre o afastamento de Fernando Lugo no Paraguai. Fonseca acredita que um impeachment agora poderia até gerar um clima de guerra civil no Brasil.

Saída progressista

Francisco Fonseca acredita que o resultado abaixo do esperado pelos grupos que organizaram os protestos é mais fruto da baixa consistência desses grupos que de acertos do governo, mas vê algum impulso das estratégias recentes do Planalto. "A Dilma tem saído mais do gabinete, se reunido com movimentos sociais, como na marcha das Margaridas, lançado propostas como o Plano de Proteção do Emprego", lembrou.

Para o cientista político, o governo Dilma, se quiser de fato "sair das cordas", deve continuar pela saída progressista, que é a que tem impacto com seu eleitorado. "A saída de Dilma tem que ser pela agenda progressista, pela pauta dos movimentos que a apoiam e não pela restrição de direitos." O professor avalia que o Planalto deveria dobrar essa aposta e corrigir erros políticos, como aproveitar a reforma ministerial para afastar ministros "fracos". "Ministros como o José Eduardo Cardozo (Justiça) e o (Aloizio) Mercadante (Casa Civil) são fracos, não compatíveis com as funções políticas que eles têm de exercer."


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