"A crise que assola o Brasil é de caráter político"

 A Tarde

Visionário, amante de carros e empreendedor, o empresário baiano Gercino Coelho é um otimista. Em entrevista exclusiva ao jornal A TARDE, Gercino explica que a crise econômica brasileira tem um viés nitidamente político. "Tudo está atrelado ao cenário político", aponta Coelho, que comanda o Grupo GNC, um conglomerado de revendas de veículos (Volkswagen, Toyota, Lexus, Chevrolet, Hyundai, BMW, Audi) espalhadas por quatro estados e com cerca de 50 mil veículos comercializados por ano. Filho do ex-governador baiano Nilo Coelho, o empresário tem ao seu lado nos negócios o filho Gel Coelho, jovem de visão futurista. Segundo Gercino Coelho, o problema econômico é geral: "Não é só com o consumidor de veículos. Há um descrédito na economia, e este cenário só deve ser mudado após as soluções políticas no Brasil", vislumbra.


Qual sua avaliação sobre a crise econômica no cenário automotivo no Brasil?
Depois de um período, percebo que a crise que assola o Brasil é de caráter político. Tudo está atrelado ao cenário político. Há uma queda de vendas de veículos no Brasil. Mas, é bom ressaltar que as empresas que mais sentiram a crise são as que têm um baixo ticket médio (ganha pouco na venda do veículo) em relação ao valor do carro. As marcas chinesas realmente foram as mais abaladas e a Fiat (hoje a marca italiana é a líder de vendas) a que mais perdeu mercado. 

Mas há marcas como as premium que crescem?
Exatamente. O mercado geral de carros diminuiu. Por outro lado, o segmento de veículos premium cresce. Outrora, o consumidor comprava um Toyota Corolla, um Volkswagen Jetta. Hoje, ele quer dar um upgrade e, na hora de trocar de carro, compra um Audi, um BMW ou um Lexus. Um cliente de Corolla Altis (versão topo da gama do sedã-médio da Toyota) pensa duas vezes e pensa logo em um BMW. O preço é bem próximo, o segmento premium é um degrau acima das versões mais equipadas de um sedã médio.

A economia está bastante retraída. Mas qual é o segredo para enfrentar esta crise? Estamos em uma crise de credibilidade?
O problema é geral: não é só com o consumidor de veículos. Há um descrédito na economia, e este cenário só deve ser mudado após as soluções políticas no Brasil. O brasileiro que quer comprar uma geladeira nova, trocar sua TV ou quer um carro, está fazendo, ele está comprando. Há consumo, o mercado não está totalmente parado. Hoje, o Brasil vende pelo menos 10 mil carros por dia, isso é um volume considerável, sim.

Qual é sua visão sobre o futuro próximo? Este ano, Marcos Munhoz (vice-presidente da GM do Brasil ) comentou que o ano de 2015 deveria passar em um mês. Isso mostrou o pessimismo sobre a situação econômica. Você acredita que o ano de 2016 será melhor em relação ao de 2015?
Tudo depende e muito do cenário político brasileiro.  A crise econômica está ai instalada no País, mas ela só será resolvida após as soluções políticas. Somos um país de cerca de 200 milhões de habitantes. Esperamos já uma melhoria no segundo semestre deste ano. A economia vai voltar, sim, a crescer. Pelas experiências anteriores, há altos e baixos. Estamos passando por ajustes. Na prática, a curva de crescimento está atrelada ao cenário político. Resolvendo esta pendência política, a economia brasileira deve voltar a crescer.

A crise do consumo é de credibilidade?
Não restam dúvidas. O brasileiro está receoso.

O Brasil passou por um excelente momento de vendas de carros em 2012. Na época, falava-se que o mercado nacional poderia chegar a 5 milhões de unidades/ano. Isso ainda é possível? 
Tudo que tenho lido indica que a retomada da economia do Brasil deve se iniciada ainda este ano. Temos que trabalhar muito em 2016, 2017 e 2018. Acredito que o Brasil pode voltar a ter uma retomada a partir de 2019, e quem sabe não ter um volume de vendas bem maior (este ano, a estimativa é de queda de 20%, fechando com cerca de 3 milhões de unidades vendidas). Iremos crescer nos próximos dois, três anos, mas a retomada deve ser mesmo lá para 2019. A história indica este tipo de cenário (sempre há anos de crescimento e anos de retração de consumo).

No seu grupo de empresas do segmento automotivo, há pelo menos três marcas (Hyundai, Toyota e Chevrolet) que estão bem. Hyundai e Toyota inauguraram suas fábricas e lançaram novos produtos, e a Chevrolet renovou todo seu portfólio de veículos no País. Você acredita que o Onix será o próximo líder de vendas no mercado brasileiro?
O Brasil é muito grande, e é complicado falar em liderança de vendas. Há um ditado antigo que diz: tem sorte quem trabalha, quem trabalha muito. Dentro do atual cenário automobilístico, as marcas que represento estão passando por um momento especial. A Toyota realmente acertou nos novos modelos, e ainda vai lançar a nova Hilux em novembro. A Hyundai tem produtos que o brasileiro gosta. A Chevrolet é outra marca que está com todo seu portólio renovado de veículos, e vem mais. As marcas premium BMW e Lexus crescem. Na Bahia, somos líderes com a BMW desde a abertura da revenda Haus. a operação da Volkswagen (Pará e Ceará) é a que sofreu uma queda maior. Mas, a marca é a atual líder mundial de vendas, e isso mostra sua força. O cenário é de otimismo, sim.  O Onix é líder de vendas na Bahia, mas o modelo que é vendido aqui (com motor 1.0 flex) não é o mesmo em outras praças. Em Fortaleza (Ceará), o carro mais vendo é o Classic. Em Belo Horizonte (Minas Gerais), é o Onix 1.4 e mais equipado. O Brasil é cheio de nuances, há vários Brasis, e o consumidor é diferente também.

A operação da BMW é um sucesso. Você pensa em assumir a revenda de motos BMW na Bahia?
Para ser bem sincero, não. Mas, há interesse da BMW. Estamos conversando. Existe, de fato, uma conversa, uma negociação. Mas ainda não há uma definição. O meu negócio é automóveis. Mas estamos ainda avaliando a real situação da linha de motos da BMW em Salvador.

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