Anderson Cunha: talento musical lapidado pelo sertão

A Tarde
Chico Castro Jr.
Mila Cordeiro | Ag. A TARDE

Anderson Cunha compôs Festa e é o líder do elogiado grupo Sertanília.

Anderson Cunha é, muito provavelmente, um dos talentos mais versáteis da música baiana hoje. À frente da banda Sertanília, que se apresenta nesta quinta-feira no Sesc Pelourinho, segue os passos de Elomar, transformando cultura popular em grande arte.

Como compositor de estúdio, cravou um dos maiores sucessos da música baiana em todos tempos: Festa, megahit na voz de Ivete Sangalo. Low profile, Anderson passa longe do perfil do compositor de sucesso.

Não vive em badalação, veste-se de forma discreta, pouco sai de casa. Não tem sequer carro. Seu jeito reservado destoa totalmente de alguém que "mandou avisar que vai rolar a festa".

"Cabra do interior é meio assim, né?", diz Anderson, o olhar firme no interlocutor. "Moro há 25 anos em Salvador, mas até hoje sou meio reservado".

Criado no Centro-Sul baiano, entre as cidades de Caetité e Guanambi, Anderson pode ter saído do sertão, mas, como se diz, o sertão nunca saiu de Anderson.
"Elomar diz que o sertão é uma nação. Não importa se você está na Bahia, no norte de Minas, em Goiás ou Pernambuco, as pessoas do sertão tem os mesmos jeitos, o mesmo sotaque, a mesma comida. O engraçado é que o mesmo Elomar diz que a capital dessa nação é São Paulo", ri.

Filho de uma professora estadual e um funcionário público, Anderson conta que passou a infância "sempre na roça, ouvindo Luiz Gonzaga. Depois passei para os outros nordestinos: Alceu, Zé Ramalho, Fagner, Ednardo. Até cantei Pavão Misterioso com oito anos de idade em um programa de auditório", conta.

Depois de muito brigar com os pais para ganhar um violão, atracou-se com o instrumento para aprender a tocá-lo sozinho, "tirando tudo de ouvido", conta.

Com 12 anos, dois marcos em sua vida: a vinda para a cidade grande (Salvador) e o primeiro Rock in Rio. Roqueiro, já dono de uma guitarra, passa a dar aulas e a tocar em uma banda de baile para ajudar a família.

Do baile para a Festa

Durante sete anos, Anderson tocou de tudo em tudo que é tipo de ocasião: formatura, São João, Carnaval, casamento. "Foi minha saída, mas depois de alguns anos, cansei. Aí caí no estúdio de gravação. E tô nele até hoje", diz.

Primo do baterista Robinson Cunha, foi através dele que teve, pela primeira vez, uma música sua gravada (Setembro). "Ele levou uma música minha para o Ara Ketu. Eles gravaram e a partir daí, não parei mais", conta Anderson.

"Ali eu descobri que tem uma coisa sazonal nesse mercado. Logo depois do Carnaval, os artistas começam a caçar as músicas do próximo. E depois do São João eles gravam", percebe.

Anderson conta que "foi muito feliz, pois fui muito gravado. Quer dizer, em comparação com um Jorge Zárath ou um Tenyson Del Rey, fui até pouco gravado. Mas isso é também muito por causa dos meus critérios. Sou muito chato", confessa o músico.

Como compositor, ele teve canções gravadas por Netinho, Ricardo Chaves, Cheiro de Amor, Asa de Águia, Jeremias, Alexandre Peixe e Ara Ketu, entre outros. Mas nada o preparou para entrar no imaginário popular através das cordas vocais privilegiadas de Ivete Sangalo.

"Um dia o produtor Alexandre Lins, que trabalhava com Ivete, apareceu no estúdio em que eu trabalhava. Deixei uma fita com ele. Alguns dias depois, ele me ligou, dizendo que minha música ia entrar no disco dela. Mas nem imaginei que ia ser a faixa de trabalho e o título do CD", diz.

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