Treze partidos fazem alianças diferentes no plano estadual




A TARDE
Fernando Duarte

Mesmo quem gosta de quebra-cabeças encontra um com 32 peças que dá tanto trabalho para montar quanto a configuração partidária brasileira. O resultado é: 13 partidos não repetem na Bahia as alianças formadas no plano nacional. É algo como João, que amava Teresa, que amava Raimundo, casou com Maria e ainda mantém um flerte com Lili.

A brincadeira com o poema de Carlos Drummond de Andrade é apenas uma das facetas do que acontece no cenário político brasileiro. E as eleições 2014 não são diferentes. Vide o sem número de alianças em nível nacional que, além de não se repetirem nos estados, ainda colocam aliados em lados opostos.

"Até a República Velha existiam partidos estaduais. Depois de 1946 é que passaram a existir partidos nacionais. E, desde então, existem duas forças, uma centralizadora, nacional, e uma regional, fragmentada", explica o cientista político Joviniano Neto.

Para alguns políticos, a situação é vexatória e as alianças ganharam a alcunha de "bacanal eleitoral", vinda do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. "A palavra bacanal decorre da insatisfação desse prefeito com as incompreensões das coligações que aconteceram no Rio de Janeiro", rebate Joviniano. Porém a configuração com mais de uma fidelidade sinaliza que na política ninguém é de ninguém - pelo menos na maioria dos políticos.

O exemplo mais claro na Bahia é o PMDB, cita o professor. No plano nacional, o partido apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). No estado, os peemedebistas não apenas se aliaram com os adversários do PT, como também darão palanque ao rival de Dilma na corrida, Aécio Neves (PSDB).

Segundo Joviniano, a tentativa de verticalizar as coligações em 1998 - as alianças no plano nacional deveriam se repetir nos estados - acabou frustrada pelas forças locais, com grande influência na construção político-partidária. "Não se sustentou em função das realidades regionais", lembra.

O exemplo do PMDB atual não é uma novidade - a Bahia há tempos possui situações similares, sugere o cientista. "Em 1994, PSDB da Bahia decidiu apoiar Lula contra o candidato do PSDB nacional, que era Fernando Henrique Cardoso. Isso porque o dono do palanque de FHC aqui era Antônio Carlos Magalhães, adversário de Jutahy Magalhães Jr., que controlava o PSDB no estado", relembra.

A dualidade governo no plano nacional e oposição no estado não se resume ao PMDB. Há também aquelas siglas que no plano nacional ficaram com Aécio Neves e na Bahia compõem a chapa do PT. O caso mais emblemático é do PTB baiano que, além de apoiar o petista Rui Costa ainda garante que vai trabalhar pela reeleição de Dilma.

"Se você considera que existem três esferas na configuração política brasileira, federal, estadual e municipal e que elas têm realidades diferentes, você pode considerar normal essa correlação de forças", explica Joviniano.

Siglas

A lista de siglas que possuem diferentes orientações nacional e estadual não é curta. PMDB, PROS, PRB, PSC , PV, PPS, PRP, PTdoB, PSDB, PHS, PTB, PMN e PEN engrossam a sopa de letras com fidelidades que dependem dos interesses de cada sigla.

Nesse quebra-cabeças, os partidos fragmentam suas plataformas políticas para atender a conjunturas locais - o que torna mais complexa a construção das legendas como entidades nacionais.

"Os partidos estão avançando na esfera nacional, mas o PMDB, por exemplo, é uma federação de partidos. O próprio PT possui diferenças regionais e existem interesses conflitantes em estados diferentes", completa o cientista político.



Mistura ocorre também na eleição para deputado

A dificuldade para entender  a imbricada relação entre os partidos atinge também a chapa proporcional. Nas eleições para deputado federal e deputado estadual, o jogo de interesses separa aliados dentro do próprio estado.
A chapa de Paulo Souto (DEM), por exemplo, é dividida em duas frentes nas proporcionais. Enquanto DEM, PSDB, PMDB, PSDB, PTN, SD, PROS, PRB, PSC e PHS integram a coligação “Unidos por uma Bahia melhor”, PPS, PSDC, PTC, PV, PRP e PTdoB formam a coligação “Juntos somos mais fortes”.
“É decorrência do sistema eleitoral que nós temos. Existe coeficiente para eleger candidato e o limite de candidatos por cada coligação ou partido. Por um lado, você precisa se coligar para atingir o coeficiente eleitoral. Do outro, você precisa ter o maior número de candidatos possíveis”, afirma o cientista político Joviniano Neto.
Lógica semelhante acontece entre os partidos que apoiam Rui Costa (PT). PT, PP, PSD, PDT, PTB, PR e PCdoB ficaram na coligação “Mais mudanças, novas conquistas” e PMN, PHS e PTdoB - os dois últimos aparece mais de uma vez nas coligações - integram uma coligação em separado.
Separados

A quantidade de candidatos acaba sendo definidora para alianças. “Cada coligação ou partido pode apresentar candidaturas equivalentes a 1,5 o número de cadeiras disponíveis. E ainda é preciso respeitar os 30% de mulheres”, explica Joviniano.
A opção mais explícita coube ao PCdoB. Aliado do PT na majoritária e na eleição de deputado federal, os comunistas optaram por carreira solo na luta pela Assembleia.
Sem participar do “chapão” governista, o PCdoB terá 35 candidatos a deputado estadual, quase 1/3 do total da chapa que reúne os demais aliados de Rui Costa. “. Se uma coligação tem muitos partidos, é difícil ter muitos candidatos a deputado”, aponta o professor.




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