O fator Eduardo Campos-Marina Silva


Que não se menosprezem as possibilidades de Eduardo Campos nas próximas eleições presidenciais. Não é favorito; mas tem potencial de crescimento.
Campos é o patinho feio, com baixíssima exposição, enfrentando a visibilidade de Dilma Rousseff - por ser presidente - e de Aécio Neves - por ser o atual candidato dos grupos de mídia.
Ocorre que até agora nem Dilma nem Aécio lograram entusiasmar os eleitores. Vota-se em Dilma pelo temor do que poderia ser o Brasil com Aécio; e vota-se em Aécio pelo temor de um segundo mandato de Dilma.
A exposição pública não tem sido positiva para os dois. É provável que aumente seus índices de rejeição. É por aí que se abre espaço para Campos, por ser o candidato com menos resistência junto aos eleitores de Dilma e de Aécio.
Vamos jogar alguns pontos de análise em relação a dois tipos de público: o povão em geral e os grupos de interesse.
O povão
Move-se por efeito manada e muito mais por impressões do que por informação objetiva.
A influência dos grupos de mídia é mais restrita à classe média do sul sudeste. E influencia muito mais pela manipulação de ênfases e de imagem.
Ou seja, mais do que conteúdo, a mídia tenta configurar uma personalidade pública para aliados e adversários, enaltecendo as virtudes dos primeiros e os defeitos dos segundos. Mas não tem controle sobre o resultado final.
Para ser eficaz, há a necessidade da campanha ter aparência jornalística, ter o “gancho”, refletir o evento do dia anterior. Com isso, não tem o mesmo controle que teria em uma campanha de marketing planejada.
Entendido isso, vamos conferir como os dois candidatos favoritos estão se saindo.
Junto ao povão, Dilma tem que superar a imagem de mal humorada, truculenta e teimosa que lhe foi pespegada pela mídia (e por seu estilo); Aécio, a imagem de playboy sempre propenso a espertezas.
Do lado de Dilma, a Copa serviu para enfraquecer o protagonismo político e expor ainda mais a falta de espírito público dos grupos de mídia. A mídia se desqualificou junto ao seu próprio público e demonstrou, de maneira ampla, a manipulação das informações contra Dilma.
Mas essa derrota dos grupos de mídia não arrefeceu a imagem pessoal de durona de Dilma.
A partir do momento em que foi exposta a baixarias e, depois, teve o reconhecimento público do trabalho de organização da Copa, era hora de Dilma relaxar, recolher-se à sua posição de primeira mandatária vitoriosa (e incompreendida) e observar com espírito superior a derrota de seus adversários. A celebração do sucesso viria por si só. Em vez disso, Dilma saiu a campo auto-louvando-se. E, no final da Copa, exibiu um mau humor inconcebível para o momento de maior visibilidade de todo seu mandato. Não se trata de pecado mortal, mas de mais arestas que reforçam a imagem negativa.
Do lado de Aécio, a dobradinha com a mídia tem-lhe sido nefasta.
É inacreditável o primarismo das estratégias na parceria tucano-midiática. Aécio se vale do mesmo estilo de José Serra, de criar uma frase de efeito por dia, para justificar a manchete do dia seguinte.
Durante dias Aécio apareceu em fotos explorando a Copa do Mundo. Depois da derrota, acusa Dilma de explorar a Copa. Tudo isso sendo testemunhado por milhões de brasileiros.
Esse tipo de esperteza não passa despercebida do povão. E mesmo nas fotos - com toda benevolência da mídia - sempre transparece o sorriso irônico, de quem está planejando a próxima sacanagem, não a do rapaz de boa família de bem com a vida.
Os grupos de interesse
Vamos analisar dois extremos: movimentos sociais (e simpatizantes de políticas sociais) e meio empresarial.
Do lado de Dilma há duas críticas mais fortes. Dos movimentos sociais, pela insensibilidade de Dilma em relação aos movimentos organizados. Do lado empresarial, a excessiva centralização e teimosia da presidente e os erros na condução da política econômica.
Em relação às políticas sociais, Dilma tem a seu favor compromissos reiterados em favor dos excluídos não-organizados.  Não existe nenhuma dúvida sobre seus propósitos desenvolvimentistas, as medidas que tomou no âmbito do crédito subsidiado, das isenções fiscais, das políticas de conteúdo nacional. Critica-se nela a forma, não o conteúdo.
Mas ela não dá mostras de mudar o estilo de governar em caso de reeleição. Mesmo entre aliados, há o temor de que sua vitória implique em mais centralização e mais autossuficiência em um momento de transição particularmente delicado.
Do lado de Aécio, a certeza de que em seu governo o mercado se apossará totalmente da política econômica. As entrevistas de Gustavo Franco, Pérsio Arida, Armínio Fraga parecem planejadas pelos adversários. As prioridades únicas são a privatização da Petrobras, a independência total do Banco Central, a internacionalização da economia. Falam para convertidos, esquecendo-se dos eleitores. Não tem nem a malandragem de esconder os propósitos.
Para os movimentos sociais, um governo Aécio é visto como um desastre. Para os empresários da economia real, visto como a volta ao rentismo em sua forma mais ampla. Para o público em geral, não consegue passar a imagem de um político não-convencional, contra conchavos e políticas menores ou com um projeto de país mais sofisticado.
Some-se o fato de que seria refém absoluto dos grupos de mídia, em um momento em que a campanha anti-Copa escancarou a falta de compromisso público desses grupos.
Os fatores pró-Eduardo
Por todos esses fatores, a candidatura de Eduardo Campos-Marina Silva poderá ser beneficiada pela adesão tanto dos que desejam a continuidade, mas sem Dilma; quanto dos que desejam tirar Dilma, mas se desencantam com a falta de propostas e de postura de Aécio.
Para alguns segmentos, Campos representaria a continuidade com boa gestão e, com Marina, os novos caminhos. Ficaria melhor na foto se disfarçasse a bronca pessoal que dedica a Dilma.
Possivelmente esse vento a favor será insuficiente para garantir-lhe a vitória. Indica apenas que tem bom espaço para crescer no primeiro turno. Dilma e Aecio permanecem favoritos para um eventual segundo turno.

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