CHINA DOMINOU O MERCADO DE BICICLETA NOS EUA E MIRA O BRASIL

PEDRO LUIZ RODRIGUES


Assisti, ontem, a sessão da Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado – cujos trabalhos são liderados pelo ex-Presidente Fernando Collor –, no decorrer da qual lançou-se a última edição da revista Em Discussão! ( que transmite o temário das audiências públicas editada por aquela mesma Casa legislativa).
Nessa edição, que aborda o tema da mobilidade urbana, seus editores  e meus velhos companheiros de imprensa, Fernando Cesar Mesquita e David Emerich, observam, em editorial, que para incentivar o uso da bicicleta é preciso, além da expansão das ciclovias, “benefícios fiscais para baratear o preço da bike e de sua produção”.
Estão certos. Afinal,  muitas e boas pistas, boas bicicletas e preços razoáveis constituem uma receita de sucesso infalível para os consumidores,  que  de lambujem merecerão medalha de ouro do Ministério da Saúde pelo combate à vida sedentária e à obesidade mórbida.
Segundo a publicação, a indústria nacional de bicicletas produz anualmente seis milhões de unidades, número que “poderia duplicar com a redução de impostos como IPI, alíquotas de importação de peças e preço do transporte e logística”.
A argumentação é reforçada com dados da Abradibi (Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios), que mostram que enquanto em países como Estados Unidos e Colômbia a carga de impostos sobre a bicicleta é zero, aqui no Brasil ela equivale a 40% do valor final do produto.
Ao presidente da entidade, Tarciano Araújo, é atribuída a declaração de que “o excesso de impostos e o recente movimento do governo federal para restringir a importação de peças impedem o setor de crescer. Se não houver mudança nesse quadro, as montadoras brasileiras não vão se beneficiar da demanda por novas bicicletas”.
Em decorrência de outros contatos que fiz durante o dia, percebi que a  indústria nacional de bicicletas está, paradoxalmente, ao mesmo tempo confiante e apreensiva quanto a seu futuro.
De um lado, está claramente excitada com as perspectivas de crescimento do mercado, conseqüência das discussões correntes em torno da mobilidade urbana e das alternativas para se melhorar o transporte e o trânsito nas grandes cidades cidades do País.
De outro, está preocupada com olhar guloso que a indústria chinesa está lançando sobre nosso mercado.
O setor não parece unânime. Alguns querem que se reduza muito, a zero se for possível, o IPI para bicicletas. Outros, que produzem ou estão investindo na Zona Franca de Manaus, acham que benesses em excesso podem inviabilizar os negócios. Os opositores rebatem, argumentando que grande parte dos benefícios dados pela isenções locais de impostos seria consumida com o aumento dos custos logísticos.
No Senado e na Câmara tramitam projetos que propõem ampla desoneração do setor.
Mas especialistas em indústria alertam: às vezes a melhor das boas intenções pode resultar em grandes desastres.
Um exemplo é impactante: muita gente dá como exemplo a situação dos EUA, onde a tarifa sobre a bicicleta é zero. Uma beleza, lá as vendas de bicicletas vêm aumentando vigorosamente nos últimas anos.
O que não se fala, dado igualmente impactante, é que em poucos anos todas as fabricantes locais de bicicletas fecharam e que o mercado americano é  hoje 99% dominado por fabricantes da China (93%) e de Taiwan (6%).
Faz-se  necessário, portanto, antes de qualquer decisão, muito debate, muita discussão, e muito cálculo na ponta do lápis.

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