Exclusivo: Luiz Viana Filho, Navarro de Britto e Anísio Teixeira

João Augusto de Lima Rocha

Acabo de ler o primeiro volume da coletânea organizada por Celma Borges, sobre a obra educacional de Luiz Navarro de Britto (1935-1986). O livro é prefaciado por Luiz Viana Filho, em cujo governo (1967-1971) Navarro foi secretário de educação, de 1967 a 1969, tendo sua saída precipitada por pressões militares sobre o então governador Luiz Viana Filho.

As razões que se acumularam para a saída de Navarro, em 1969, listadas no citado prefácio, foram três: a primeira, uma entrevista de D. Hélder Câmara, concedida a Ariovaldo Matos, relativa ao filme Nordeste, D. Helder acusa, publicada na revista Porto de Todos os Santos, da Secretaria da Educação; a segunda, o patrocínio da Secretaria da Educação à publicação, a cargo de James Amado, das Obras Completas de Gregório de Matos; e a terceira, o apoio à realização da segunda II Bienal de Artes Plásticas, a ocorrer no Convento da Lapa, dado pela Secretaria dirigida por Navarro.

As seguintes conseqüências se acumularam com a saída de Navarro da Secretaria, segundo Luiz Viana Filho: a revista Porto de Todos os Santos foi fechada; o então comandante, General Abdon Sena, da VI Região Militar, comunicou-lhe que pretendia abrir um inquérito para apurar as responsabilidades da publicação das Obras Completas de Gregório de Matos, já que a considerava uma ameaça à ordem pública; e a II Bienal de Artes plásticas foi inviabilizada.

Mesmo tendo sido um dos principais apoiadores civis do golpe militar de 1964, Luiz Viana Filho nos traz, nesse prefácio, datado de outubro de 1989, uma contribuição insuspeita para a busca da verdade em torno do que se mantém encoberto, relativo aos 21 anos da ditadura militar.

Político conservador, reconhecido como escritor, mais ainda como biógrafo, membro da Academia Brasileira de Letras, a última biografia de Luiz Viana Filho foi sobre Anísio Teixeira, o notável educador, seu amigo desde os tempos de juventude.

Às voltas com a organização do material para a publicação de sua preciosa biografia de Anísio, tive a satisfação de, a seu convite, levar-lhe os documentos manuscritos que eu e Laura Mônica Amaral Baleeiro, num trabalho para o IAT, em 1987, conseguimos desencavar em velhos baús da casa onde nasceu o educador, em Caetité.

Conversei com ele durante toda a tarde de 18 de dezembro de 1988, em sua casa da Rua Valdemar Falcão, em Salvador. Aproveitei para gravar uma entrevista, que cheguei a pensar em publicar no livro Anísio em Movimento, imaginando que a biografia demorasse a sair. Portanto, só não publiquei a entrevista porque achei que pouco teria para revelar, além do que seria apresentado na biografia.

Naquele 18 de dezembro de 1988, ele me faria uma confissão que retirou, a meu ver, qualquer dúvida sobre a causa da morte de Anísio, envolvida em acesa controvérsia: teria sido acidente, isto é, queda no poço do elevador do prédio onde morava Aurélio Buarque de Holanda, no Rio, que terminou ficando a versão oficial; ou assassinato, por suposto político? Disse-me Luiz Viana que, para atender a familiares do educador, ele teria obtido a informação, atribuída a seguras fontes militares, de que Anísio, desaparecido no dia 11 de março de 1971, estaria preso na Aeronáutica, no Rio de Janeiro. E fez questão de observar que esta era uma afirmação absolutamente precisa, por ter lhe chegado num dos últimos três dias de seu governo na Bahia, e ele associou uma coisa com a outra.

Ao ler a sua biografia de Anísio, lançada em 1990, ele não repete com a mesma ênfase o que me revelou. No entanto, livra-se habilmente de apoiar a inverossímil versão oficial. Escreve, pois, sobre a morte de Anísio: “Era a tragédia sem testemunhas, e sobre ela pairavam todas as conjecturas e todas as interrogações. ...O advogado Marcelo Cerqueira, criminalista conceituado, acompanhou o inquérito para apurar os pormenores da tragédia que ninguém presenciara, e sobre a qual dúvidas se alastravam. Concluiu-se haver sido um acidente. Uma armadilha do destino.”

Num dia incerto, entre 11 e 13 de março de 2011, completam-se 40 anos da morte do maior educador brasileiro.

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