O novo governo e a educação pública
João Augusto de Lima Rocha
Artigo publicado em 17/11/2010 no jornal A TARDE - BA São animadoras as propostas anunciadas pela presidenta Dilma Rousseff para a melhoria e ampliação da educação pública de nosso País: "Da creche ao pós-doutorado", segundo suas palavras. Não basta melhorar as condições de trabalho e salário dos professores e funcionários, reformar e construir escolas ou levar computadores e internet para elas. Isso é urgente e necessário, mas tudo tem de estar a serviço de uma educação que seja prestigiada pela sociedade, com professores bem formados e atualizados, conscientes da tarefa essencial em que estão envolvidos. Que os estudantes e comunidades, ao perceberem que a escola também é sua, defendam-na, protejam-na e não a depredem. Enfim, que a ação governamental pela escola pública se paute na formulação precisa de Anísio Teixeira, de que nunca haverá democracia sem escola pública universal e gratuita de qualidade. Produzir a virada na educação não é uma tarefa fácil. A escola pública não pode ser entendida como uma escola pobre, para pobres, mas uma escola cara, para todos. A propósito, Anísio Teixeira dizia que a tarefa de mudar, de eliminar vícios e de construir uma nova cultura educacional só é comparável à mobilização para a guerra, no sentido de que é tarefa de todos, e qualquer falha, qualquer atitude aventureira, meramente personalista, propagandística ou politiqueira, conduzirá inapelavelmente ao insucesso. Gostaria que o ponto de partida fosse a constituição de uma equipe ampla e de alto nível, sob coordenação direta da presidenta, para organizar a proposta do Plano Nacional de Educação (PNE), a ser levada ao Congresso Nacional. A base poderia ser o documento resultante da Conferência Nacional de Educação, realizada no começo deste ano. É urgente a aprovação do PNE pelo Congresso, para o decênio 2011-2020. Após aprovado o plano, o Conselho Nacional e os Conselhos Estaduais de Educação, necessariamente reaparelhados e mobilizados para a imensa tarefa, deveriam conduzir a aplicação e o acompanhamento do plano, o qual precisará ser detalhado ao nível das realidades locais. Técnicos ágeis, competentes e cientes do significado da honrosa tarefa política de construir a nova escola pública brasileira, precisarão ser formados e orientados para implantar o PNE em todos os recantos do País. A creche e a pré-escola deverão ter prioridade, e o ensino fundamental tem de adotar a escola do dia inteiro O desafio maior, certamente, é o aumento substancial do investimento público em educação e cultura. Ele precisa subir, imediatamente, para o patamar de 7% do PIB, e projetar um crescimento que permita 9%, em 2020. A creche e a pré-escola deverão ter prioridade, e o ensino fundamental tem de adotar a escola do dia inteiro. Essa tem de ser uma escola verdadeiramente cara. Precisa ser boa e, por isso, cara, com atividades à altura das crianças de hoje, as crianças autonomamente bem informadas dos dias atuais, que não precisam somente de ensino, mas de educação integral para a vida. Naturalmente, os recursos precisariam ser melhor aplicados, no entanto, de onde viriam eles, para viabilizar tão inadiáveis mudanças? Para a resposta, usemos, a imagem anisiana: estamos numa guerra, a guerra contra a ignorância. Iremos esperar o Fundo Social do Pré-Sal? - acredito que não. Os recursos teriam de vir logo, e a saída à vista parece ser a redução imediata dos juros da dívida pública - os maiores do mundo atual -, seguida da transformação do que disso resultar em investimento educacional. O governo Lula não acabou por quebrar o tabu de que aumento de salários gera inflação? Portanto, até quando iremos aceitar que os lucros dos bancos atinjam a estratosfera e o capital especulador retire rendimentos do sangue e suor do nosso sacrificado trabalho, à custa da permanência da ignorância, que gera a violência? Para concluir, acho necessária uma grande campanha pela melhoria da escola pública .Os sindicatos, as associações, os partidos políticos, as igrejas, a imprensa, os movimentos sociais, em geral, todos teríamos muito por que engrossar essa luta. Poderíamos, por exemplo, criar logo uma associação entre a vitória dessa luta e a do Brasil, na próxima Copa do Mundo. Afinal, passa a Copa, mas Educação fica! João Augusto de Lima Rocha Professor da UFBA e membro do Conselho Curador da Fundação Anísio Teixeira |
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