Campanha Souto e convenções



TASSO FRANCO

A expressão “não vamos nos dispersar” dita por Tancredo Neves após ser escolhido presidente da República no Colégio Eleitoral de 1985, para que a sociedade continuasse reunida em praças públicas, com a mesma dignidade e decisão que o levaram a atingir o cargo máximo da República e sepultasse a Ditadura Militar (1964/1984), em certo sentido, pode ser aplicada à pré-campanha de Paulo Souto, candidato do DEM, ao governo do Estado, em coligação com o PSDB. É isso mesmo. Candidato do Democratas, com dissidências internas neste partido, e vínculos com o PSDB.

Ora, o sucesso de uma campanha política se baseia em dois pontos fundamentais numa eleição: a organização política; e o embate eleitoral junto às massas. Uma coisa é tão casada com a outra que, mesmo aqueles que têm uma preferência eleitoral antecipada a olhos vistos por parte da população, por vontade de mudar, como foi o caso de Waldir Pires, em 1986, ainda assim, não se deve menosprezar a ação política. E foi isso, aliás, o que Waldir fez levando para sua chapa e coligação contrários em pensamento, como Nilo Coelho, Jutahy Magalhães, Luis Viana, Ruy Bacelar e outros.

E o que se observa, hoje, com Paulo Souto! Uma espécie de desidratação de sua organização política com deputado do DEM trabalhando nos bastidores para que César Borges não compusesse com Wagner e sim com Geddel; veto ao nome de ACM Jr.; veto à coligação na proporcional entre DEM/PSDB; veto à convenção do DEM no mesmo espaço do PSDB; composições com partidos, nem nanicos, fora de cogitação; e uma interminável discussão para compor a chapa ao Senado. Não fosse Nilo Coelho creio que, nem voar, essa aliança estaria voando.

Na política, o sucesso só bate à porta quando essas pernas se casam: a organização partidária e a ação eleitoral. Quando existe somente uma dessas pernas, adeus. Veja o que aconteceu com Imbassahy, hoje, presidente regional do PSDB, na eleição para o Senado, em 2006. Bom de votos, bem avaliado, contemporâneo. Mas, cadê a perna política? Não tinha. Perdeu a eleição e ficou atrás até mesmo de Rodolfo Tourinho, o qual, sem menosprezo, porque nunca foi político no termo da palavra, estava sem âncora numa organização político-partidária.

Outro exemplo recente aconteceu com Wagner, em 2006. Havia um sentimento de mudança, “fadiga de materiais” do “carlismo”, uma vontade enorme da população em dar uma mexida na política baiana, mas, mesmo assim, o candidato do PT se juntou a oito partidos, incluindo o PMDB que tivera ao alcance do então governador Paulo Souto, mas, foi rejeitado por ACM. Resultado: Wagner eleito no primeiro turno. Isso representou, em termos populares, “a fome com a vontade de comer”.

Agora, em 2010, tanto Wagner quanto Geddel estão empenhados na organização política. A campanha pra valer só começa dia 17 de agosto. E, ao contrário do que acontece com Souto, onde o PSDB está ditando normas e é visto de mãos dadas com Wagner em alguns sítios do interior, os cuidados com o lado político estão ficando em segundo plano. Apostar só no taco do recall político de Souto, nos debates de campanha e caminhadas eleitorais puro-sangue não dá. É um risco enorme.

Há, de resto, o palanque político de José Serra. Agora, uma mão tem que lavar a outra, senão uma urna fica cheia e a outra vazia. Vamos acompanhar as convenções desses dois partidos, hoje, em Salvador, para verificar o que vai acontecer

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