PERSONALIDADE DO DIA

Reportagem: Revista ISTOÉ Dinheiro

João Carlos Cavalcanti

"Um garoto de Caculé"

Os mistérios do homem de ferro


O empresário João Cavalcanti diz

ter fechado um acordo bilionário
com um gigante da siderurgia. Mas
há quem duvide do negócio


Cavalcanti:
“Queremos ser uma Vale do Rio Doce, uma Rio Tinto, uma BHP”
Logística: apoio do governador da Bahia
para a construção de ferrovia e porto na região
Lakshmi, da Mittal:
Ele seria o provável sócio de Cavalcanti em Caetité (BA)


Por flávia Tavares e Lílian Cunha

João Carlos Cavalcanti é um geólogo, de 56 anos (exibe sua cabeleira branca desde os 25), nascido em Caculé (BA). Ele mesmo se define assim: “sou um místico”. Quase todos os dias, acorda às três horas da manhã para, silenciosamente, meditar sob uma árvore. Mas, quando é hora de tratar de negócios, o silêncio não é sua estratégia. Cavalcanti anunciou, em maio, que encontrou em Caetité, no interior da Bahia, um verdadeiro tesouro: uma jazida de minério de ferro, que se estende até Xique-Xique, com potencial de até 10 bilhões de toneladas em seus 360 quilômetros de extensão de reserva geológica. Na quarta-feira 31, Cavalcanti recebeu, em São Paulo, a equipe de DINHEIRO para falar de seus planos. “Fechamos um negócio, no dia 22 de julho, com uma das maiores siderúrgicas do mundo e criamos a Bahia Mineração Ltda. O grupo internacional ficou com 70% da nova empresa e eu, com 30% e liberdade para organizar o negócio”, explica. Mas quem, afinal, é o sócio de Cavalcanti? No mercado, especula-se que seja a gigante indiana Mittal, líder mundial do setor de siderurgia. O geólogo não diz quem é o parceiro, alegando que assinou acordo de confidencialidade.

O problema é que há mais pontos de interrogação do que minério de ferro nessa história grandiosa de Cavalcanti, um personagem misterioso que surge se auto declarando o próximo rei da mineração. Ele não revela, por exemplo, o nome do novo sócio nem os valores envolvidos. Existe ainda uma briga jurídica pela posse da reserva e pairam dúvidas até sobre a qualidade da jazida (o teor de ferro do minério da região varia entre 37% – considerado baixo – a 67%, o padrão internacional). Mesmo assim, Cavalcanti não esconde suas ambições. “Pretendemos ser uma das maiores empresas de mineração do mundo. Queremos ser uma Vale do Rio Doce, uma BHP, uma Rio Tinto. Temos recurso e respaldo para isso”, garante, referindo-se às três líderes do setor. Segundo ele, a produção da nova empresa, estimada entre 20 e 30 milhões de toneladas por ano, estará a pleno vapor em 2010. “Mas uma extração dessa ordem daria à Bahia Mineração o status de uma mineradora intermediária. A Vale, por exemplo, produz 200 milhões de toneladas anuais”, afirma o especialista Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia. De qualquer forma, o dono da jazida segue com seus projetos. Junto de uma equipe de 20 técnicos e geólogos, ele está em busca de parceiros para definir a rota de transporte do ferro que será extraído. Teria até o apoio do governador da Bahia, Paulo Souto, na construção de uma ferrovia e um porto para escoar o ferro de Caetité, distante 450 km do litoral baiano. “Vamos investir, nos próximos dois anos, US$ 200 milhões. Mas, em sete anos, serão US$ 5 bilhões. Isso porque faremos a prospeção geológica, abertura de mina, construção de usina de concentração, da siderúrgica, da ferrovia e do porto”.

Os recursos para a criação da Bahia Mineração virão do parceiro internacional de Cavalcanti. Procurados pela reportagem da DINHEIRO, os executivos da indiana Mittal apressaram-se em negar a possível aliança. “Não há verdade alguma nas especulações referentes à compra de uma reserva no Brasil”, disse Paul Weigh, diretor de comunicação da Mittal. Outra versão do mercado é de que a parceira do geólogo seria uma empresa associada à gigante indiana. Cavalcanti diz apenas que foi procurado pelo dono de um grupo internacional, levado a Londres (sede administrativa da Mittal), e que o tal empresário “é místico e tem um ‘feeling’ para bons negócios como eu”. Lakshmi Mittal, proprietário da siderúrgica indiana, que fatura US$ 22 bilhões ao ano, é famoso por comprar usinas e minas desacreditadas pela concorrência e transformá-las em potentes pólos de produção.

Não é exatamente esse o caso de Caetité. Em abril, Cavalcanti fechou um acordo com a consultoria Metal Data Engenharia para que a empresa organizasse um leilão privado internacional. Houve mais de 50 interessados e 16 grupos firmaram acordo de confidencialidade para participar do processo – entre eles, estariam a Vale, a Rio Tinto, a BHP e a CSN. “Gastamos US$ 150 mil em pesquisa e na formatação do leilão”, diz Aroldo Ceotto, sócio da Metal Data. Cavalcanti fechou com o investidor estrangeiro sem o intermédio da consultoria. “Na prática, ele rompeu um contrato. Entramos com uma ação e conseguimos uma liminar para suspender o processo de venda até que Cavalcanti explique os termos do negócio”, revelou Ceotto. O geólogo se defende. “Por meio da consultoria, eu não poderia ter participação na nova empresa”, alega. “O grande grupo veio por fora e atendeu todas as minhas expectativas. Não posso dizer o valor, mas o lance mínimo do leilão era de US$ 100 milhões. Eles pagaram bem acima disso”.

Outra questão controversa é que a Bahia Mineração ainda não obteve legalmente o decreto de lavra (permissão para explorar a jazida), somente a licença de pesquisa da área. Sobre a propriedade da reserva, nada foi confirmado até agora. “Várias pessoas têm processos requerendo a posse de frações da jazida. Mas nenhum deles foi oficializado, porque ainda não há resultado de pesquisa que comprove o potencial da reserva”, explica o geólogo Teobaldo de Oliveira, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do ministério de Minas e Energia. Segundo o prefeito de Caetité, Ricardo Ladeia, há mais de 20 pessoas nessa disputa: “Até meu tio, Widelson, que trabalha com mineração, está requerendo parte da área”. O empresário Eike Batista também está na briga. “Eike me procurou e criamos a empresa IRX. Por contrato, ele investiria US$ 1 milhão nas pesquisas na região. Até hoje, não colocouR$ 1. Os 80% que ele tinha na IRX já estão nas minhas mãos”, afirma Cavalcanti. Mas esta não é a versão da empresa de Eike. “O investimento foi programado para três anos e já desembolsamos metade do previsto. Ainda temos dez áreas e estamos desenvolvendo pesquisas por lá”, afirma Paulo Gouvea, diretor jurídico da IRX. João Carlos Cavalcanti não parece preocupado com nenhum desses entraves. “Sou um cara invejado, porque sempre fui empreendedor. Hoje, tenho um patrimônio de US$ 100 milhões e sou um homem realizado”.

US$ 5 bilhões serão investidos nos próximos sete anos, afirma Cavalcanti

Fonte: ISTOÉ Dinheiro

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