Escassez e Solidão Materialmente o mundo dos coronéis era povoado pela escassez de tudo e pela pobreza quase que absoluta, quando não miséria dos moradores, o que explica a enorme dependência que todos tinham dele. Ele era um pode-tudo a quem era preciso recorrer nas mais diversas situações, sendo portanto compreensível que o coronel exigisse daqueles que se qualificavam como votantes, o compromisso da fidelidade. Na ausência quase que absoluta do Estado, era o coronel quem exercia as mais variadas funções, sendo simultaneamente o detentor do poder político, jurídico e legislativo do município que lhe cabia, fazendo com que sua autoridade cobrisse todos espaços daquela geografia da solidão que era o seu feudo. A Estrutura do Coronelismo
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| Um potentado em férias em Poços de Caldas/MG |
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Os estudiosos dividiram o coronelismo em três tipos; o tribal, o personalista e o colegiado. O tribal parece um patriarca de um clã, cujo poder se espalha por vários municípios e deriva dele pertencer a uma família tradicionalmente poderosa. O personalista deve tudo ao seu carisma pessoal, a ter certos atributos que são só dele e são impossíveis de transmitir por herança, geralmente desaparecendo com sua morte. Por último, aqueles que são mais estáveis, e que dirigem os negócios políticos em comum acordo com outros coronéis sem que haja grandes desavenças entre eles. As bases do seu poder são: a) A terra. Num país de dimensões agrárias tão vastas, a riqueza dos indivíduos era medida pela extensão da propriedade. Logo era fundamental para a afirmação e continuidade do poder do coronel ele possuir significativas extensões de terra.
b) A família, ou a parentela, como prefere Maria Isaura Pereira de Queiroz, permitia ao coronel por meio de casamentos arranjados ampliar o seu domínio, colocando gente do seu sangue e da sua confiança em todo os escalões do poder municipal e estadual.
c) Os agregados. A imensa quantidade de parentes distantes, compadres, afilhados e demais protegidos do coronel, que ajudavam a estender o poder dele para fora da família núcleo (a gente do seu próprio sangue), permitindo que sua autoridade se espalhasse para regiões bem mais distantes do que a do seu feudo.
A Política do Coronelismo
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| O padre, o militar e o coronel, os três poderes do Brasil arcaico. |
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Os republicanos de 1889 ficaram surpreendidos pelo vigor do sistema coronelístico. Apesar de ampliarem os direitos de voto, assegurando aos alfabetizados poderem tornar-se eleitores, rapidamente verificaram que a universalização do sufrágio não redundou no enfraquecimento dos coronéis. Ao contrário, como os cidadãos votantes eram poucos (talvez os que soubessem ler e escrever, um século atrás, mal atingissem os 20% da população inteira), facilmente eles foram conduzidos pelos apaniguados dos mandões, especialmente no interior do País, a comportarem-se com docilidade. O voto de cabresto foi decorrência disso. O eleitor trocava o seu voto por um favor. Este poderia ser um bem material (sapatos, roupas, chapéus, etc.) ou algum tipo de obséquio (atendimento médico, remédios, verba para enterro, consulta médica, matrícula em escola, bolsa de estudos, etc.). Esta placidez obediente dos que tinham direito a votar fazia com que eles fosse integrantes do curral eleitoral. Ao comportarem-se nas eleições tais como bois mansos era inevitável que os considerassem como gente de segunda classe, incapaz de reagir ao despotismo do manda-chuva.
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