PRECONCEITO

Bahia reage a declarações preconceituosas de professor da UFBA

Diversos segmentos da sociedade reagiram às declarações do coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor Antonio Natalino Manta Dantas, que em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e à rádio Band News FM, nesta quarta-feira (30/4), disse que o baixo QI [coeficiente de inteligência] dos baianos é o responsável pela nota baixa do curso de Medicina da UFBA no Enade. Houve reação até no Senado, onde foi pedida a aprovação de um voto de censura ao professor.

''O resultado ruim (referindo-se a nota 2 obtida pelo curso no Enade) é por causa do baixo QI dos alunos. É uma coisa que precisa ser desmistificada essa suposta inteligência do baiano. Isso não existe. Um dos símbolos da Bahia é o Berimbau e não é o tipo de instrumento para pessoas inteligentes. É para o indivíduo que tem dificuldade, pois não estimula os neurônios porque tem uma corda só e não precisa de muita celebração,” declarou Dantas na entrevista. O professor culpou ainda o sistema de cotas para afro-descendentes pelo mau desempenho. “A prova foi feita com alunos do primeiro semestre e do último semestre. Pode estar havendo uma contaminação das cotas e influência da transformação curricular nesse resultado”, disse.

Dantas, que é baiano, citou que tal inferioridade de inteligência justificaria, entre outras coisas, o baixo desenvolvimento sócio-econômico do Estado, ''apesar das grandes riquezas naturais'', a popularidade do berimbau, ''o típico instrumento de quem tem poucos neurônios'', e a música de grupos tradicionais, como o Olodum, que ele qualificou como ''barulho''.

Ação no Ministério Público

A vereadora Olívia Santana (PCdoB) vai entrar com uma representação no Ministério Público contra Dantas. “Estamos próximos das comemorações dos120 anos da abolição da escravatura e ainda temos que ouvir comentários tão preconceituosos. Este senhor está preso à cultura racista, de que o povo negro e pobre da Bahia é desprovido de inteligência. Um cara que tem a responsabilidade de dirigir um curso de medicina em uma universidade pública, não pode dá uma declaração como esta. Este tipo de pensamento deve ser banido definitivamente da Academia. Não é possível uma universidade como a UFBA, que tem uma política de cotas e trabalha para se abrir aos seguimentos populares do estado, conte ainda em seus quadros com alguém com um pensamento tão atrasado”, afirmou a vereadora.

“É preciso pedir uma retratação pública. A universidade foi exposta. Está comprovado que o professor não tem condições morais para permanecer no cargo. O mínimo que ele poderia fazer é se retratar publicamente com os segmentos que ele atingiu (os capoeiristas, as tradições baianas). Esta é a típica declaração de quem não se conforma com o lugar onde vive. Se ele não quer ficar aqui que vá para a Europa, mas não desrespeite o povo da Bahia”, concluiu Olívia.

Reações na UFBA

“É abominável o teor dos argumentos, lamentável. Não é possível que exista hoje no mundo alguém, com uma posição importante numa instituição de ensino, que defenda posições discriminatórias, reacionárias, como essas que o professor Natalino emitiu”, foi a reação de Naomar Almeida Filho, reitor da UFBA, às declarações de Antônio Natalino Dantas, chefe do colegiado da Faculdade de Medicina da UFBA. Em reunião com José Tavares Neto, diretor da faculdade de Medicina, o reitor pediu o afastamento do professor do cargo de chefe do colegiado. “Não posso demiti-lo porque ele foi eleito pelos professores, mas nesse momento eu estou requerendo ao colegiado de Medicina seu afastamento do cargo”, diz.

O diretor da faculdade acha que “foi uma declaração infeliz”, mas que o barulho em relação a ela está desviando o assunto do principal problema, “que é a situação em que a faculdade se encontra”. “O ensino é cada vez pior, e nós sabemos disso desde 2004, quando escrevemos um relatório pedindo providências à reitoria, incluindo a anulação do vestibular daquele ano. As providências foram nulas”.

Os alunos também reagiram à fala do professor. Em nota oficial, o diretório acadêmico da Faculdade de Medicina da UFBA diz que “as declarações feitas pelo coordenador de curso Antônio Natalino Dantas embasam-se nas idéias de “contaminação” racial, determinismo genético e inferioridade dos povos, as quais legitimaram a escravidão e os campos de concentração nazistas. Além de racista, o professor se mostrou, mais uma vez, tecnicamente incapaz de exercer seu cargo”. Os estudantes da faculdade planejam um ato público, às 8h da próxima segunda-feira, (05/05), em repúdio às declarações do professor e pedindo seu afastamento do cargo. “Não concordamos, em absoluto, com as declarações preconceituosas, que culpam os estudantes, ou pior, o baixo QI dos baianos pelo mau desempenho da faculdade“, declara o estudante do 5º semestre e membro do diretório acadêmico, Gabriel Schnitman.

Ecos no Senado

A reação às declarações do professor aconteceu também no Senado. O assunto dominou as discussões na casa na tarde desta quarta-feira. O senador César Borges (DEM - BA) pediu a aprovação de um voto de censura, assinada por senadores do PT, DEM, PMDB e PSDB, além do presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN). A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), ligada ao Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA), declarou que vai apurar as declarações de Natalino.

A ação administrativa do MPF vai investigar a suposta discriminação ''racial ou de procedência'' do coordenador. O procedimento foi instaurado pelo procurador Vladimir Aras, da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), ligada ao MPF. Ele também solicitou oficialmente informações da Reitoria da universidade sobre as providências que adotará em relação às declarações. ''Como professor e coordenador do curso da UFBA, Dantas possui uma função pública e está sujeito à lei de improbidade administrativa na hipótese de dano moral.

Da Redação Local
Com informações do jornal A Tarde

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