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Charge do Bira

Uribe exporta o terrorismo de Estado

A evidente e confessa violação da soberania territorial do Equador pelo exército da Colômbia abriu uma crise político-diplomática na América Latina. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, já era um governante isolado na extrema direita do espectro político do continente, com sua política interna militarista, de terrorismo de Estado. Com o massacre de Raúl Reyes e 16 outros guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em território equatoriano, passou também à agressão externa. Merece integral repúdio, dos governos amantes da paz e dos movimentos de massas.

O ''escandaloso fato'', como o chamou o presidente equatoriano, Rafael Correa, será levado à Organização dos Estados Americanos, ao Grupo do Rio, que reúne os chefes de Estado latino-americanos nesta sexta-feira em Santo Domingo, e à Comunidade Andina das Nações. Uribe ficou absolutamente isolado no plano diplomático continental. Não se trata apenas do bolivariano Hugo Chávez. Mesmo Michelle Bachelet, a presidente do Chile que não é nenhuma incendiária, exigiu que Uribe preste satisfações.

Mas este não é um assunto para ficar nos gabinetes e salões da diplomacia. Interessa de perto aos povos latino-americanos, a começar pelo da Colômbia, que reúne na próxima quarta-feira um Encontro Nacional de Vítimas de crimes de lesa-humanidade, genocídio e violações dos direitos humanos – crimes cometidos pelo mesmo regime que invadiu o Equador para exibir como troféu de guerra o cadáver de Reyes.

A Colômbia está conflagrada por um conflito armado há 60 anos, desde ''A Violência'', deflagrada pelo assassinato de Jorge Gaitán em abril de 1948. Até as pedras dos Andes sabem disso. A continuidade da conflagração é uma anomalia e um anacronismo: a América Latina, pelo sim e pelo não, decidiu tratar as suas diferenças sem recorrer às armas, e por esta via tem feito notáveis progressos.

As Farc – organização revolucionária, antiimperialista e antioligárquica, com 40 anos e 18 mil guerrilheiros – foram empurradas para a luta armada. Nos anos 80, elas aceitaram um cessar-fogo e criaram um braço político institucional, a União Patriótica. Mas dois candidatos presidenciais da UP, assim como seu senador eleito, foram barbaramente assassinados.

As Farc não se cansam de proclamar seu empenho na busca de uma solução negociada. O próprio Raúl Reyes, em sua última entrevista, voltou a defender ''saídas políticas para o conflito interno dos colombianos''. A proposta do ''intercâmbio humanitário'' de prisioneiros e a libertação unilateral de alguns deles são outras evidências dessa disposição.

É Álvaro Uribe Vélez que se obstina na ''solução militar'', em nome de uma oligarquia sanguinária, tradicionalmente envolvida com o narcotráfico e o paramilitarismo.

No entanto, seis anos de Uribe na presidência provaram que esta é uma falácia. E não será a exportação da guerra suja uribiana que a tornará menos falsa. Pelo contrário, a invasão da madrugada deste sábado tende a apressar o momento em que a Colômbia, antes tarde do que nunca, se livrará desse abcesso purulento da ultra-direita fascistizante, que inflama e atormenta todo um continente.

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