ENTREVISTA - JAQUES WAGNER




Fonte: http://carosamigos.terra.com.br/

O carioca Jaques Wagner, filho de judeus poloneses, fez todo o segundo ciclo no colégio militar do Rio de Janeiro, mas acabou na militância clandestina contra os militares que tomaram o poder em 1964. Em 2006, candidato ao Governo da Bahia, com todas as pesquisas prevendo sua derrota, só ele, afirma, estava certo da vitória. Aqui, ele fala sobre os anos da repressão, sua vida familiar, opina sobre o presidente Lula – que estava entre os que achavam que o grupo de ACM era invencível na política baiana – e expõe suas metas para a cultura, a educação e a economia baianas. (A entrevista foi concedida no dia 6 de novembro, antes do acidente da Fonte Nova).

Entrevistadores michaella pivetti, palmério dória, emiliano josé, ricardo kotscho, joão de barros, marcos zibordi, mylton severiano, thiago domenici, sérgio de souza l fotos eduardo zappia

Trecho 1

THIAGO DOMENICI - Procuramos começar nossas entrevistas pela infância, a família...

Sou nascido no Rio de Janeiro, em Cascadura, onde vivi até os 6 anos de idade, fi lho de pai e mãe judeus poloneses, que daí foram para Copacabana, onde continuei estudando, como até ali, num colégio judeu, que é a tradição, apesar de meu pai ter sido do Partido Comunista Polonês. Depois, por incrível que pareça, minha vontade era seguir carreira militar. Você tinha que fazer uma espécie de vestibular, consegui passar e fi z o ginásio e o científi co no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Mas 1964 me tirou essa vontade e acabei desistindo.

Trecho 2

EMILIANO JOSÉ - Talvez fosse o caso do senhor contar a conversa que teve com Lula em março de 2006.

Sim, fui falar com o presidente e ele disse: ‘’Rapaz, isso é uma maluquice. Você vai fazer o que, você está bem aqui, é melhor continuar, a gente vai preparar a reeleição e você ajuda a coordenar a campanha. Vai fazer o que lá? Lá os caras são imbatíveis”. Eu falei: “Não, nós vamos lá para ganhar a eleição’’. Ele achava que eu estava brincando, e eu então disse: “Olha, presidente, ali está o segmento mais duro no ataque ao nosso governo, que é Antônio Carlos. Se a gente não der trabalho para ele lá, ele vai dizer que a gente abandonou o território e fazer campanha nacional. E ele é pesado, então não tem jeito, não tem candidato lá, se meu nome não sair...”. O presidente perguntou: “Por que você diz que está indo para ganhar?” Primeiro, que pouca gente faz isso, é uma análise das eleições pós Waldir Pires na Bahia. Em 90 ganhou Antônio Carlos, numa eleição conturbada, voto de papel ainda, e ele teve 27 por cento do total do eleitorado, a gente teve outro pedaço e o outro pedaço era branco, nulo e abstenção. Chegou 94, ele já governador, mandando em tudo, que era o final do governo Sarney, pegou um candidato bom, que era Paulo Souto. Paulo Souto foi ser eleito no segundo turno, com 29 por cento do total. Aí, em 98, que era o momento alto deles, de Luiz Eduardo Magalhães presidente da Câmara, Fernando Henrique e o real lá em cima, e a morte de Luiz Eduardo, elegem César Borges com 30 por cento do total dos votos. Em 2002, Paulo Souto, seqüenciando todos eles, a gente toda desarrumada, sem unidade, uma série de candidatos fracos, Paulo Souto teve de novo 27 por cento do total. Evidentemente, quando você tira branco, nulo e abstenção, isso vai para mais. Mas o que acontecia é que 27 por eram deles, nós candidatos de oposições fi cávamos com 16, e tinha uma taxa de 52 a 54 por cento de branco, nulo e abstenção.

Trecho 3

RICARDO KOTSCHO - Mas o seu nome sempre aparece nas listas de possíveis candidatos do PT. Como isso funciona na sua cabeça? Porque o Serra, desde menino, botou na cabeça que ia ser presidente da República. Alguma vez passou isso na sua cabeça?

Não, até porque quando eu estava no movimento sindical não pensava em ser parlamentar. Aí fundamos o PT etc., e a minha vontade era fazer movimento social. Aí você vira representante do movimento sindical, vai ter uma constituinte, o pessoal diz: “Precisamos de você lá pra poder representar a gente”. Está aí a história. Fui para Camaçari para levantar o partido, hoje o prefeito de Camaçari está lá e eu sou governador. Então, se a cabeça está funcionando em função disso? Em hipótese nenhuma. Como teve a surpresa da minha eleição e, como dizem alguns lá que a notícia boa do primeiro turno foi a derrota do Antônio Carlos, a derrota do cara que era o mais ferrenho opositor, é óbvio que na cabeça das pessoas “o cara é retado, é bom de voto”. É óbvio que tem valores pessoais no trabalho que a gente fez na articulação política, mas foi um trabalho de equipe, que passou pelas lideranças no Congresso, na Câmara, e também porque tinha maturado uma coisa que a gente estava lá na hora para construir. Estou falando de maio de 2005 até março de 2006. O episódio que aconteceu em setembro de 2005 foi uma chacoalhada retada.É óbvio que bole com a cabeça da gente.

A edição CA129 impressa com a íntegra desta entrevista JÁ ESTÁ NAS BANCAS!

Fonte: Site Emiliano José (PT)

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