EDITORIAL


O PSDB diz que vai atualizar suas idéias e apresenta um manifesto ''botox''

O PSDB prepara-se para 2010 como aqueles vaidosos que querem parecer mais jovens: à base do botox. É o que mostra sua proposta de programa apresentada ao 3º Congresso do partido, dias 22 e 23, feita para ''atualizar'' suas idéias.

O congresso começou, em Brasília, com uma saia justa para os tucanos, que se apresentam como os campeões da moralidade mas foram obrigados a engolir um sapo de grandes proporções: a denúncia ao STF sobre o uso irregular de dinheiro (o chamado ''mensalão'') na campanha eleitoral de 1998 pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que naquela ocasião foi candidato a reeleição ao governo do Estado e, depois, foi presidente do PSDB.

Convém lembrar que, há algumas semanas, quando a investigação revelava a profundidade daquelas irregularidades, o próprio Azeredo deu uma entrevista à imprensa onde admitiu que o dinheiro recolhido irregularmente naquela ocasião (por volta de 110 milhões de reais, numa operação comandada pelo publicitário Marcos Valério), foi usado inclusive na campanha presidencial daquele ano para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

Saia justa à parte, os tucanos anunciam que querem atualizar suas idéias. Sua proposta de programa que talvez conquiste a simpatia da crédula ''Velhinha de Taubaté'', do Luís Fernando Veríssimo. Mas que dificilmente convencerá as demais pessoas.

Os tucanos dizem que não são nem privatistas nem estatistas, que defendem o aumento do emprego, da renda dos trabalhadores, proclamam a soberania nacional e apresentam-se como catões sem corrupção. E por aí vão...

Mas é difícil acreditar. Só para comparar: durante os oito anos dos mandatos do tucano Fernando Henrique Cardoso, foram criados apenas 769 mil empregos (uma média de oito mil por mês). Sob Lula, os empregos novos, com carteira assinada, contam-se aos milhões. Só em outubro de 2007 foram 251 mil (FHC levaria 31 meses, ou dois anos e meio, para chegar a tanto); só nos dez primeiros meses deste ano já são 1,8 milhão, mais do dobro do que o número criado em todo o período de FHC. E os tucanos falam que podem criar empregos...

O próprio texto divulgado pelo PSDB ajuda a revelar o botox escondido naquele programa. Insistem nas velhas teses privatistas e anti-populares que sempre defenderam. Nele, dizem têm a pretensão de dizer que o Brasil mudou ''para melhor, em boa medida pela ação do PSDB''.

Mas acusam a Constituição de 1988 de criar novos direitos sociais: ''Os constituintes foram generosos na definição de direitos sociais mas irrealistas na previsão das condições econômicas, administrativas e financeiras'' para ''satisfazer esses direitos''. Pois é, não dá para esconder o propósito conservador de cortar direitos sociais do povo e dos trabalhadores.

Defendem também as privatizações - rejeitadas por 62% dos brasileiros, conforme mostrou, mais uma vez, uma pesquisa divulgada dia 10 de novembro. Eles insistem nesta tecla condenada. Dizem, sem provar, que ''a privatização de empresas estatais possibilitaram a retomada em grande escala dos investimentos em setores estratégicos como telecomunicações, energia elétrica, petróleo, transportes, mineração e siderurgia''. Não é o que os dados registram; ao contrário, quando deixaram o governo, no primeiro dia de 2003, o ambiente era de falência generalizada. Mas os tucanos batem no peito: ''Essas são conquistas das quais nos orgulhamos'', escreveram em seu programa botox.

Querem a reforma trabalhista e da previdência para cortar direitos dos trabalhadores: ''Defenderemos mudanças na legislação trabalhista e previdenciária'', dizem. Alegam que é para ''torná-la mais equânime, garantindo proteção a todos os trabalhadores, inclusive os que hoje estão na informalidade''. Mas a crônica das reformas que, nesse sentido, os tucanos promoveram ilustra como esta alegação não é verdadeira; na verdade, elas representaram uma forte investida contra os direitos dos trabalhadores.

Na política externa, insistem na pregação conservadora contra a política externa independente do presidente Lula, pregação saudosista dos tempos em que a diplomacia brasileira estava subordinada aos interesses dos EUA, em que o próprio próprio ministro das Relações Exteriores de FHC, o chanceler Celso Lafer, submeter-se ao tratamento vexatório e desrespeitoso de tirar os sapatos em um aeroporto nos EUA, para passar pela revista da alfândega de lá. O documento tucano ''renovador'' prega a volta às relações externas preferenciais com os EUA e a Europa, abandonando diplomacia Sul-Sul dirigida pelo ministro Celso Amorim.

Dizem também que vão promover ''uma política industrial que apóie as atividades de ponta, que agregam valor aos produtos'', e também as ''indústrias tradicionais para que ganhem eficiência e competitividade e continuem a empregar muitos trabalhadores''. Só acredita nisso quem já esqueceu as repetidas declarações do então ministro da Fazenda Pedro Malan, de que o governo FHC não adotaria uma política industrial porque ela era desnecessária... O resultado, naquela época, foram dificuldades crescentes para a indústria brasileira, com séria ameaça de desindustrialização do país, o que aliás estava bem de acordo com a submissão à globalização capitalista pró EUA do governo tucano.

No campo político, insistem na proposta que o ex-presidente FHC repete em todo canto - o voto distrital. Querem aquele sistema eleitoral onde os candidatos a deputado estadual e federal só podem concorrer em um distrito, um sistema que favorece os grandes partidos e os donos do dinheiro.

Os grandes partidos porque podem se organizar em todos os distritos eleitorais, coisa mais difícil para os partidos ligados ao povo e com poucos recursos. E que, por isso, terão dificuldades em disputar em condições de igualdade, saindo logo de início em condição inferiorizada na disputa eleitoral.

E os donos do dinheiro porque, neste sistema, poderão apoiar candidatos e concentrar seus investimentos em poucos distritos, passando como um rolo compressor sobre os candidatos ligados ao povo, sem os recursos fartos que as classes dominantes dispõe nas disputas eleitorais.

Mais grave que isto, o voto distrital impede que os votos de opinião, ideológicos, que são espalhados pelo Estado, possam juntar-se para eleger parlamentares. Pelo sistema distrital, se o partido A tiver 51% dos votos num distrito, elege o parlamentar, e o partido B perde os 49% de votos que conseguiu, ficando sem representação porque por não poder somá-los aos votos que teve em outro distrito, para poder eleger um representante. Neste sistema, o partido que tem 51% dos votos fica com 100% das vagas - uma forma de eleger representantes que não pode ser democrática porque esmaga as minorias.

Os tucanos reconhecem que seu partido está afastado do povo, e querem corrigir esta distância. Passam botox para tentar amenizar sua imagem, mas têm couro duro e um olhar atento a suas propostas revela, sob o linguajar ''inovador'' as mesmas velhas idéias, que o eleitorado rejeitou nas urnas.

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