EDITORIAL


Bloco de Esquerda, Congresso do PT e a via para 2010

Em julho, algumas pitonisas de plantão profetizavam que agosto seria uma espécie de ''inferno astral'' para o governo. E para a esquerda. Agosto ficou, na lenda política brasileira, como um mês fatídico: foi em 24 de agosto de 1954 que Getúlio Vargas suicidou-se, assediado pela mesma direita golpista que hoje tenta desestabilizar o governo do presidente Lula; foi também no dia 25 de agosto de 1961 que Jânio Quadros renunciou à presidência da República, pela qual passou como um cometa trapalhão; foi o ponto inicial da grave crise política que desaguou, quase três anos depois, no golpe militar de 1964.

O mês fatídico passou e as investidas da direita - como o ''Cansei'', por exemplo - não prosperaram. Setembro começou assim com um ar de primavera política, de reafirmação da iniciativa das forças de esquerda, progressistas e democráticas. O primeiro evento significativo foi a realização do 3º Congresso do PT, em São Paulo, entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro. O outro foi o lançamento em São Paulo, dia 3, do Bloco de Esquerda (formado por PCdoB, PSB, PDT, PRB, PMN e PHS), confirmando o mesmo sucesso dos lançamentos ocorridos no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará e Mato Grosso, dentro de uma programação que vai levar a frente de esquerda para todos os estados da Federação.

Mais de mil lideranças políticas participaram do ato ocorrido no auditório do Palácio do Trabalhador, em São Paulo, com a presença de expoentes do campo democrático avançado, como os deputados federais Aldo Rebelo (PCdoB/SP) e Manuela D'Ávila (PCdoB/RS), Ciro Gomes (PSB-CE), Paulo Pereira da Silva (PDT), Márcio França e Luiza Erundina (PSB), o ministro Orlando Silva (PCdoB), o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, o presidente do PRB, Vitor Paulo, e Roberto Amaral, presidente em exercício do PSB.

A grande marca deste lançamento foi a confirmação do Bloco de Esquerda como uma força que veio para ficar, não se reduzindo a um acordo meramente eleitoral, mas que vai construir um programa avançado para o país. E que não vai ficar à margem da disputa eleitoral, sendo previsto um importante protagonismo bloquista na eleição municipal de 2008 e na definição do candidato das forças avançadas para a sucessão de Lula, em 2010.

Esta aliança, que vai se consolidando como uma força de peso na política brasileira, é a ''semente do futuro'', disse Aldo Rebelo. Um futuro que, afirmou, ''queremos ainda melhor, ainda mais democrático, ainda mais justo e com ainda mais direitos para os trabalhadores brasileiros''.

O outro acontecimento político de importância central para os destinos da luta popular e democrática foi o Congresso do PT, que aprovou uma resolução onde, afirmando a disposição do partido em ter candidato próprio para 2010, deixa a porta aberta para a construção de um candidato de coalizão que represente as forças avançadas do país. O PT pretende ser o ''dirigente'' da construção desta candidatura, diz aquele documento, que foi aprovado por unanimidade pelos delegados ao Congresso. O texto afirma textualmente que ''o PT apresentará uma candidatura a presidente a ser construída com outros partidos e assim formar uma aliança programática capaz de ser vitoriosa em 2010 e impedir o avanço do neoliberalismo''.

Esta é uma definição importante. A eleição de Lula, em 2002, abriu uma etapa nova na vida nacional, confirmada com a reeleição em 2006. Nova porque sinalizou o início de mudanças para fazer avançar a democracia e colocar o Brasil num novo rumo de desenvolvimento, com soberania nacional, valorização do trabalho e distribuição de renda.

O Brasil já avançou bastante, nestes quase cinco anos de governo Lula, mas precisa avançar mais, consolidando conquistas sociais que atendam às exigências de nosso povo e de nossa economia. É um processo que, iniciado depois do fracasso retumbante dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso, não pode ser interrompido com a volta do conservadorismo tucano, neoliberal, ao controle do governo federal. Nesse sentido, a resolução do 3º Congresso do PT aponta para a possiblidade da união das forças progressistas e avançadas em 2010.

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