DEVANIR RIBEIRO: "LULA É UM TAPA NA CARA DA ELITE PAULISTA"

O Movimento Cansei, estrelado pela Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), nada mais é do que uma peça publicitária oportunista. Muitos a definem como golpista. Tenta-se dar falsa conotação a um sentimento individualizado. Entendo-a como legítima enquanto manifestação pessoal, tão bem caracterizada pelo ex-governador Cláudio Lembo como o movimento de “um pequeno segmento da elite branca” e nascido em Campos do Jordão – vila burguesa cercada por favelas em morros.

O problema está no oportunismo de tentar, “publicitariamente”, dar contornos de reivindicação social a interesses elitistas. Acho que devemos, sim, discutir o papel de uma entidade de classe que se presta à defesa de interesses particulares.

Conheço muitos advogados paulistas contrários a esse pseudomovimento, assim como a posição firme e consciente da seccional do Rio de Janeiro e da OAB Nacional. A primeira é categórica quando o seu presidente afirma “que foi exatamente assim que se gestou o golpe de 64, com uma indefinição momentânea, com uma crítica muito genérica e vai se caminhando em linha reta para o golpe” e a segunda, que negou apoio ao “movimento”.

Em vez de perdermos tempo com isso, deveríamos acionar órgão de fiscalização para que a peça fosse “retirada” do ar, como ocorre quando se extrapolam os limites publicitários. Outra sugestão, esta lida nos comentários de um blog, é reunir as “dondocas” e a “elite abastada” com o pessoal do MST para uma reunião.

Li na imprensa que o senhor João Dória Júnior seria um dos idealizadores do Cansei. Imagino que ele possa ter acordado um belo dia e tido um insight. “Assim não dá, vamos lançar uma propaganda contra estes absurdos, chamá-la de 'movimento' e colocar na boca de uma entidade de classe que goze de credibilidade e tenha representantes na elite 'abastada' de São Paulo.”

Faltava o charme. O que falariam nos casamentos de cachorros e idas a Daslu? Solução, convocar as “dondocas”. Para esse publicitário, tudo não deve passar de “brincadeira”, como o ato protagonizado pelos jovens de classe média do Rio que agrediram uma empregada doméstica e alegaram ter confundido a vítima com uma prostituta. Como se nesse caso a violência fosse justificada. Não é!

Também não o são as tentativas de uso político das vítimas do acidente com o avião da TAM e da dor de seus parentes como pano de fundo para compor o cenário ideal da “propaganda”.

Esta é uma peça morta e não será a última orquestração contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cito como exemplo trecho de artigo da colunista da Folha de S.Paulo Eliane Catanhêde, publicado em 17 de julho na Folha Online, que prima pela objetividade e imparcialidade: “No Airbus da TAM que explodiu no coração de São Paulo, havia quase 180 pessoas. Além delas, morreram também ainda incontáveis pessoas em solo, com as vítimas sendo recolhidas uma a uma em meio a um inferno de chamas”. Quer mais: no texto deste último domingo busca desesperadamente respostas para o “imbatível Lula”. Puro rancor. Acima de sua coluna, na página 2 da Folha, não é diferente. É uma pena que espaço tão conceituado, quando ocupado pelo jornalista Cláudio Abramo, tenha se perdido.

Se for para ir na linha do revanchismo, poderíamos lançar também uma campanha de boicote aos produtos da Philips, afinal o presidente da empresa no Brasil – e um dos idealizadores do movimento sem causa – acha-se no direito de encabeçar “movimentos apolíticos”. Quanto tempo ele resistiria como presidente da empresa?

Está mais do que escancarada a parcialidade das grandes mídias de São Paulo. Estes jornalistas escrevem mais por comodismo e medo de perder o emprego, sob o guarda-chuva da chamada linha editorial do veículo, e menos por convicção fundamentada em fatos reais. Ou alguém acredita que existe imparcialidade jornalística? Existe emprego, desemprego, jabá, comodismo e apoio ao poder. A liberdade de expressão em rádio, jornal e televisão é inversamente proporcional ao tamanho e duração dos anúncios publicitários. Não estou generalizando, pois, para nossa sorte, sempre existem as exceções.

Jornalismo, há muito tempo, passou a ser um negócio, ao qual se agrega poder. Poder que vem em xeque desde 2003, início do primeiro mandato de Lula como presidente da República. A mídia paulista não tem para com o petista um décimo da complacência exercida ao longo dos oitos anos de mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Aliás, não queremos complacência. Defendemos uma imprensa livre e democrática. Somos a voz dissonante em grande parte da elite brasileira e a esperança para milhões de brasileiros, que reconhecem as conquistas do governo Lula para o Brasil.

Aqui, os oportunistas vão dizer: “Mas ainda não acabaram com a pobreza!”. É óbvio que esta é uma crítica que sempre se poderá fazer seja qual for a situação e até mesmo o país. Só desistirão “do quanto pior possível” após a saída de Lula, pois não aceitam um nordestino que deu certo na Presidência da República. É puro preconceito disfarçado.

Façamos um pequeno exercício. Imagine se fosse Lula o responsável pelo apagão elétrico e o presidente grampeado em conversas durante a privatização das telecomunicações! Foram várias as tentativas para iniciar processo de impeachment de Lula, que só não vingaram porque o povo brasileiro não é ingênuo.

O revanchismo é cada vez mais explicitado. Afinal, o presidente é um tapa na cara dos donos da mídia paulista ao lembrá-los, a cada tentativa frustrada, que não representam o povo brasileiro, como pensavam. Ou como explicar a vitória do petista no segundo turno das eleições de 2006, quando o resultado das urnas foi inversamente oposto à cobertura jornalística do pleito?

O brasileiro viu a melhora em sua mesa, na educação de seus filhos e nas oportunidades que se abrem com o crescente desenvolvimento econômico do Brasil. Também temos plena consciência que ainda são imensos os desafios para pôr fim a anos de colonização, exploração e descaso por parte das elites.

A existência do presidente Lula tornou-se incômoda a cada fala simples, demonstrações de carinho, quebras de protocolo e emoções para todo mundo ver. Lula é gente como a gente e tem como conforto os braços de milhões de brasileiros e a história como fazedora de justiça. Não precisa mais.

Devanir Ribeiro é deputado federal pelo PT-SP, coordenador da bancada de São Paulo na Comissão Mista de Orçamento e titular da Comissão de Viação e Transportes.

Fonte: www.pt.org.br

Comentários

Anônimo disse…
Não é a toa que esta mesma OAB se reuniu e colheu várias assinaturas para o pedido de impeachment do presidente Lula, numa clara mostra de precipitação, fazendo loby para que outras instituições também participasse deste mesmo movimento fracassado, pois não existia clamor popular e sim clamor de elite, viciada em banquetes pomposos, de cunho barganhista, marcados nos Copacabana Palace da vida publica e nas mansões de Brasília nos governos passados. Não podemos negar a importância das OAB no fortalecimento da democracia no Brasil, e na cobrança de que direitos sejam na sua essência respeitados, mais de um tempo para cá estas pessoas que estão frente no âmbito nacional, desvirtuou um pouco, confundindo a OAB, entre órgão e instituição.

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